Obras da Marcos Konder devem preservar 28 das 129 árvores atuais
Projeto prevê operação de transplante dos exemplares preservados; nova avenida deverá receber 260 árvores
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Obras vão começar pelo trecho próximo ao prédio da Embraed na semana que vem (foto: Fabrício Pitella)
Parte das vagas de estacionamento da avenida deixarão de existir (Foto: Franciele Marcon)
As obras que vão mudar radicalmente a avenida Marcos Konder, no centro de Itajaí, têm previsão de início na semana que vem. Nesta semana, a empresa responsável se prepara para a montagem da estrutura do canteiro de obras. As equipes vão começar os trabalhos pelas duas primeiras quadras da avenida, próximo ao edifício Embraed e ao laboratório da Unimed, com mudanças no trânsito. A reportagem apurou que o projeto prevê salvar 28 árvores das 129 que existem atualmente na avenida.
A ordem de serviço foi assinada na sexta-feira passada pelo prefeito Volnei Morastoni (MDB). O projeto prevê a integração do binário central com a avenida Sete de Setembro. A promessa ...
A ordem de serviço foi assinada na sexta-feira passada pelo prefeito Volnei Morastoni (MDB). O projeto prevê a integração do binário central com a avenida Sete de Setembro. A promessa é de melhorar a mobilidade na região.
De acordo com o secretário de Urbanismo, engenheiro Auri Pavoni, a avenida conta hoje com 129 árvores. “Com a reurbanização, teremos um total de 260 espécies próprias para centros urbanos que, além de contribuir com o microclima, irão embelezar o centro da cidade formando um corredor verde”, alega. O “corredor verde” será formado por três linhas de arborização, duas no lado da via que terá ciclovia e outra no lado contrário.
A principal mudança será a retirada dos canteiros centrais da Marcos Konder justamente onde estão as árvores adultas da avenida. Só a mínima parte delas será transplantada para as lateral da avenida e as outras serão condenadas. Segundo a prefeitura, as árvores serão analisadas e transplantadas de acordo com o andamento em cada etapa da obra.
O Instituto Itajaí Sustentável (Inis) acompanha os trabalhos. O DIARINHO questionou o órgão se foi feito um novo diagnóstico das árvores para saber quais estão saudáveis e quais estão condenadas. Um levantamento da então Famai, em 2017, listava 87 árvores no canteiro central, entre espécies exóticas e nativas, das quais apenas 15 delas, da espécie sibipiruna, teriam condições de transplante.
Do grupo também seriam preservados um ipê-amarelo e um exemplar de pau-ferro que seriam destinados ao viveiro municipal. Já outras árvores não tinham condições para o transplante. Um estudo anterior, feito pelo especialista em gestão ambiental Heli Schlickmann, apontava uma situação diferente, mas agora desatualizada, com 117 árvores e a maioria delas saudável.
Ainda em 2021, quando foi implantado o sentido único na Marcos Konder, ele defendia um novo diagnóstico pra avaliar a situação de cada árvore. No mesmo ano, Heli conta que, junto com outros profissionais, fez uma análise superficial e discordou da quantidade de exemplares aptos ao transplante.
“Em 2024 a situação desses mesmos exemplares se modificou muito, pois a avaliação técnica na arborização é feita de seis em seis meses e a situação biológica muda muito”, considera.
Sibipurunas e palmeiras imperiais serão preservadas
Heli tem experiência no transplantio de árvores e coordenou a operação pra realocação da figueira que hoje embeleza a Praça dos Correios e sobreviveu incólume ao transplante. Para a Marcos Konder, ele fez o projeto executivo de transplante de 28 árvores para a empresa vencedora da licitação.
São dois projetos, feitos conforme a espécie, um para as 15 sibipirunas ao longo da avenida e outros das 13 palmeiras imperiais do canteiro em frente ao edifício Liberty. Cada espécie tem um sistema de preparação diferente para o transplantio.
“Esse projeto está com a prefeitura e a empresa para análise, inclusive listando todos os cuidados e tempo para que os exemplares possam ter, no mínimo, 80% de condições de pegamento e desenvolvimento, e também lista os cuidados e manejo durante os 24 meses seguintes ao transplante”, informa.
Segundo comentou, a capacidade de uma árvore adulta (entre 3 e 4 anos) de crescer e se desenvolver num projeto de arborização urbana é muito maior que uma árvore adulta resgatada através de transplante, mas o valor histórico, cultural, ambiental, paisagístico de uma árvore adulta (15-20 anos) é muito maior.
Na definição da melhor escolha, Heli avalia que, tecnicamente, seria melhor plantar árvores adultas novas do que manter árvores debilitadas, doentes ou com outros problemas. “Não estou afirmando que as árvores da avenida Marcos Konder estão todas doentes ou debilitadas, porque, para fazer essa afirmação, precisa fazer uma análise de gradação de risco”, frisa. A análise envolve 10 pontos sobre cada árvore, considerando as condições de enraizamento, tronco, copa, ramos e galhos, entre outros itens.
Nova Marcos Konder
Com nove metros de largura, o lado esquerdo da nova avenida Marcos Konder terá faixa de estacionamento para carros e motos, calçadas com bicicletários, mobiliários urbanos e espaços para convivência e contemplação.
Haverá duas faixas de árvores, uma entre a ciclovia e a pista e outra entre a ciclovia e a calçada. Já o lado direito da avenida, que terá aproximadamente seis metros de largura, também receberá arborização, com outra linha de plantio e paisagismo, além de nova iluminação.
Com a reurbanização, a avenida ficará com quatro pistas de rolamento, sendo uma exclusiva para ônibus. A obra será em etapas pra reduzir os impactos no trânsito e tem previsão de conclusão em 12 meses. O investimento soma mais de R$ 50 milhões, com financiamento internacional via banco Fonplata.
Se liga nos impactos no trânsito
Nas primeiras duas quadras da avenida, o lado esquerdo será bloqueado para as obras. O lado direito, local onde atualmente é permitido estacionar, será transformado em uma terceira faixa para o tráfego de veículos.
As interrupções no trânsito serão feitas de maneira parcial. As ruas Paulo Caramuru da Silva e João Angelino Lopes Júnior, que têm sentido único em direção à Sete de Setembro, terão o acesso bloqueado pela Marcos Konder. A entrada, porém, estará liberada pela Sete de Setembro e as duas ruas estarão com sentido duplo.
A prefeitura orienta que os motoristas fiquem atentos ao transitar pelo trecho das obras devido às máquinas e profissionais que estarão na via.
Crítica
O professor Edson D'Ávila é profundo conhecedor da história de Itajaí e é um dos moradores da avenida Marcos Konder. A avenida do binário central vai receber a mais radical intervenção entre as obras de mobilidade anunciadas recentemente. Segundo o professor, mais uma vez, o projeto privilegia o automóvel e não o meio ambiente ou as pessoas. Veja a seguir os principais pontos da entrevista.
Possivelmente teremos outro deserto de concreto, como acontece com a urbanização da Hercílio Luz,” - opina o historiador Edson D' Avila
Deserto de concreto e o erro da Hercílio Luz
“Possivelmente teremos outro deserto de concreto e de cimento, como acontece com a urbanização da Hercílio Luz. Uma rua urbanizada que mais parece um campo de futebol. Mais parece um amplo campo de futebol de salão do que uma via pública. Algumas vegetações, alguns canteiros e nada de presença do verde. Isso na contramão de tudo que se tem ouvido e se tem dito a respeito da necessidade de arborizar as cidades, as vias públicas.”
Árvores condenadas em projetos de urbanização
“Vou dizer da minha contrariedade com esta forma de conduzir a reurbanização da Marcos Konder. Aliás, tem sido costumeiro aqui em Itajaí o procedimento de sempre sacrificar árvores quando se vai fazer uma obra de urbanização. Isso já aconteceu na avenida Contorno Sul, junto da Univali, quando se precisou ampliar as pistas. Agora, no caso da Marcos Konder, a gente observa que novamente vamos ter as árvores sacrificadas”
Protesto contra ações arboricidas
“É uma lástima esses projetos ultimamente executados aqui em Itajaí para reurbanização de vias públicas. Na Praça Vidal Ramos a jardinagem se transformou numa coisa feia, horrível, sem beleza. Da Hercílio Luz, já falei. Agora a Marcos Konder. Se a cidade tivesse consciência do que vai acontecer estaria em peso protestando contra essa atitude arboricida. O que se pode ver aqui em Itajaí ultimamente são ações arboricidas. Quer dizer, gente sacrificando árvores para fazer calçada, para construir edifício”.
Prioridade é o carro; árvores são apêndices!
“Por causa, exatamente, da questão de se dar prioridade ao carro. Vejam que são poucas as árvores do canteiro central da Marcos Konder que se apresentam com alguma deficiência ou doentes. Todas estão agora verdes e frondosas. Só vai se transpor algumas delas para as laterais. Se vê que as árvores não são prioridade na nova urbanização da avenida. Elas são apêndices. A prova está que elas vão ser colocadas lateralmente, em algumas laterais.”
Balneário deveria ser imitada
“Veja o exemplo de Balneário Camboriú, onde chegou-se a desviar uma pista da avenida Martin Luther para se preservar uma árvore. E ela está lá testemunhando a atenção e o cuidado com a árvore. Em Balneário Camboriú foram os primeiros a preservar árvores, a transplantar imensas figueiras para evitar o corte de árvores adultas […]. Eu só tenho a lamentar. Essa ação e esse proceder arboricida que está acontecendo em Itajaí.”
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