Brasil recebe mais 32 resgatados de Gaza; já são 1477 repatriados
Grupo esperou mais de um mês pela permissão de saída; dois resgatados serão trazidos para viver em Santa Catarina
João Batista [editores@diarinho.com.br]
Três crianças que chegaram estavam desnutridas
(Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil)
O Brasil recebeu na noite de segunda-feira o último grupo de 32 pessoas resgatado da Faixa de Gaza. O voo da aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) desceu na Base Aérea de Brasília com 17 crianças, nove mulheres e seis homens. Do grupo, 22 são brasileiros, sete são palestinos naturalizados brasileiros e três são palestinos familiares de brasileiros. Três crianças foram atendidas com desnutrição.
Esta foi a 10ª viagem da Operação Voltando em Paz, do governo federal, pra resgatar brasileiros que estão na área de conflito entre Israel e o Hamas. O grupo estava há mais de um mês esperando ...
Esta foi a 10ª viagem da Operação Voltando em Paz, do governo federal, pra resgatar brasileiros que estão na área de conflito entre Israel e o Hamas. O grupo estava há mais de um mês esperando sair da Faixa de Gaza. Eles embarcaram para o Brasil numa base aérea no Cairo, no Egito. O avião fez duas paradas técnicas até Brasília, uma na Espanha, e outra em Pernambuco, no Recife.
Conforme o governo, três crianças – de 3, 6 e 12 anos - estavam com desnutrição e precisaram de atendimento imediato, sendo levadas para o hospital da FAB. Os repatriados ficarão hospedados por dois dias num alojamento da FAB na Base Aérea de Brasília. Nesse período, eles vão receber atendimento médico, psicológico e vacinação, além de regularizar a situação no país para ter acesso a políticas públicas e emprego.
Depois, parte do grupo irá para outras cidades: 24 para São Paulo (sendo 12 para casas de parentes e 12 em abrigos para refugiados no interior do estado), um para Novo Hamburgo (RS), um para Cuiabá e dois para Florianópolis. Quatro continuarão em Brasília. Os deslocamentos serão feitos em aviões da FAB. Duas pessoas que estavam na lista de resgate, mãe e filha palestinas, decidiram ficar na Faixa de Gaza por “motivos pessoais”.
Desde o início da guerra, 1477 passageiros, entre 1462 brasileiros, 11 palestinos, três bolivianas e uma jordaniana, já foram resgatados pelo hoverno brasileiro, além de 53 animais domésticos. O presidente Lula da Silva (PT) recebeu o último grupo de repatriados já na madrugada desta terça-feira. Ele afirmou que o governo brasileiro seguirá atuando pra resgatar mais famílias que quiserem sair da zona de conflito.
“A gente vai fazer todo o esforço que estiver ao alcance da diplomacia brasileira para tentar trazer todos os brasileiros que lá estão e que queiram vir para o Brasil. Inclusive, alguns companheiros que tinham parentes não brasileiros eu pedi para trazer, e a gente trataria de legalizar as pessoas aqui”, disse Lula, informando que há mais pessoas tanto na Cisjordânia quanto na Faixa de Gaza.
“Enquanto tiver lista e possibilidade de a gente tirar uma pessoa, mesmo que seja uma só, a gente estará à disposição para mandar buscar. Não vamos deixar nenhum brasileiro lá por falta de cuidado do governo”, completou. O presidente recepcionou as famílias resgatadas ainda na pista.
"O que está acontecendo em Gaza é massacre"
O comerciante Hasan Habee, brasileiro que ficou conhecido por vídeos sobre a situação na Faixa de Gaza, foi o primeiro a descer no Brasil. “Queria agradecer ao presidente, governo federal, Força Aérea e Itamaraty. A gente ficou lá 37 dias, muito sofrimento. Passamos fome e sede”, relatou.
“O que está acontecendo lá é um massacre. Minhas filhas [de 3 e 6 anos] ficaram muito chocadas. Na primeira e segunda semana a gente mentia [para elas]. A gente falava que essas bombas eram de festas de aniversário, mas a gente não conseguiu segurar por muito tempo”, comentou.
Habee disse que ainda tem parentes na área de conflito e pediu para o presidente providenciar a vinda dos familiares em uma nova lista de brasileiros ou parentes de brasileiros. Mohammed Ismil, palestino com cidadania brasileira que mora em Brasília, estava esperando pela família. A esposa dele e os três filhos do casal, de 13, 11 e 9 anos, estavam entre os repatriados no voo.
A mulher e os filhos tinham viajado em maio a Gaza para visitar parentes, com volta prevista para setembro, enquanto Mohammed, no Brasil há cinco anos, tinha ficado em casa. “O importante é que estão vivos e agora vou fazer tudo para eles”, disse ao reencontrar a família.
Ele relatou que nos mais de 30 dias de espera, a mulher e os filhos sofreram com o medo, falta de água e energia, falta de comida e dificuldade de comunicação. Eles tiveram que se mudar de casa três vezes devido aos bombardeios. Mohammed disse que quatro irmãos ainda estão na Faixa de Gaza, sem condições de deixar o local.
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