SANTA CATARINA
Justiça Federal ordena que acordo com indígenas seja cumprido antes de fechamento de barragem
Previsão é que comportas comecem a ser fechadas a partir das 5 da madrugada
Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]
A justiça Federal ordenou, através de uma decisão liminar, que o governo do estado de Santa Catarina cumpra acordo com indígenas e a comunidade de José Boiteux. A justiça federal já tinha autorizado que o estado de Santa Catarina decidisse pelo fechamento das comportas ou não.
Na noite de sábado, depois da notícia de uso de força por parte do governo do estado, o chefe da Funai em Santa Catarina, Willian Nunes da Silva Junior, o cacique Setembrino Camlem, e o prefeito
Adair Antônio Stollmeier, o Pico, acordaram que a decisão da justiça federal seria cumprida pacificamente.
O fechamento das duas comportas deve acontecer a partir das 5h deste domingo.
O plano para o fechamento das comportas, segundo a prefeitura, tem início às 3h30 com a distribuição de cestas básicas. Uma ambulância também já chegou ao território e está à disposição na comunidade.
Às 5h, a prefeitura disponibilizará ônibus para o transporte dos desalojados.
Já no período da tarde, a defesa civil estadual levará água potável para a comunidade.
Com esse acordo, segundo a prefeitura, as barragens norte poderão ser fechadas a partir das 5h.
A Justiça Federal em Blumenau, durante o plantão na noite de sábado, autorizou o ingresso de agentes do Estado de Santa Catarina na Barragem Norte de José Boiteux. O despacho foi assinado pelo juiz Vitor Hugo Anderle às 19h e atendeu a um pedido da procuradoria do Estado, que alegou a necessidade de medidas de proteção e controle em função das chuvas intensas dos últimos dias.
“Saliente-se que a operação da barragem e o modo em que se efetivará a retomada de sua capacidade operacional inserem-se no âmbito e domínio da discricionariedade técnica do Estado de Santa Catarina, que deverá velar para a adoção das medidas necessárias de salvaguarda para a proteção de todos os envolvidos, ouvidos os respectivos agentes de seu corpo técnico”, decidiu o juiz.
De acordo com o despacho, a União deve fornecer o apoio operacional ao cumprimento da decisão judicial. Em atendimento a um pedido do Ministério Público Federal (MPF) logo após o despacho, o juiz tomou uma segunda decisão, às 23h51, estabelecendo que o Estado também deve tomar todas as providências para eliminar riscos e danos à comunidade atingida.
O governo do estado precisa garantir:
1. Desobstrução e melhoria das estradas;
2. Equipe de atendimento de saúde em postos 24 horas;
3. Três barcos para atendimento da comunidade;
4. Ônibus para atendimento da comunidade até a cidade;
5. Água potável na aldeia;
6. Fornecimento de cestas básicas;
7. Ficou acordado que após as comportas serem fechadas algumas casas ficarão submersas e por esse motivo deverão ser construídas novas moradias para essas famílias, em local seguro e longe do nível do rio.
O MPF havia relatado que “após a publicação da decisão [das 19h02], lideranças da comunidade indígena Laklaño entraram em contato com o Ministério Público Federal, noticiando a celebração de acordo entre o Cacique-Presidente daquela Terra Indígena; o Prefeito de José Boiteux, Adair Antônio Stolmeier; a Defesa Civil do Estado de Santa Catarina, na pessoa da Sra. Elna Fátima Pires de Oliveira e o Secretário da Infraestrutura e Mobilidade do Estado de Santa Catarina, Jerry Comper; no qual foram entabulados os termos e condições nos quais a comunidade indígena autoriza a operação da Barragem José Boiteux”.
As decisões foram proferidas no âmbito de uma ação civil pública do Ministério Público Federal (MPF), proposta em 1997 contra a União e o Estado, “justamente para que fosse promovida pelos réus a adoção de medidas necessárias para a realização dos serviços de manutenção e recuperação do sistema de barragens do Alto Vale do Itajaí”, frisou Anderle.
A sentença confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) estabelece que é responsabilidade do poder público a conservação, manutenção e recuperação das barragens.
Quase rolou confronto
O clima esquentou na cidade, com possibilidade de confronto, após o governador Jorginho Mello (PL) ordenar o fechamento das duas comportas para tentar diminuir o nível do Itajai-açu que tem previsão de chegar a 14 metros após as chuvas deste sábado.
A comunidade alegou que o governo do estado não tinha até então cumprido a sua parte no acordo para o fechamento da barragem.