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Projeto da justiça ajuda jovens acolhidos em abrigos a estudar e trabalhar

Novos Caminhos oferta cursos, estágios e capacitações por meio de parcerias

Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]

Jovens, como o Kauan, contam experiência e destacam importância das ações  (Foto: João Batista)
Jovens, como o Kauan, contam experiência e destacam importância das ações  (Foto: João Batista)
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Hoje estudante do segundo período do curso de Produção Audiovisual da Univali, em Itajaí, Kauan Vieira da Costa, de 20 anos, é um dos egressos do programa Novos Caminhos. O projeto da justiça catarinense, que completou 10 anos em agosto, ajuda adolescentes de instituições de acolhimento a entrar no mercado de trabalho após completarem 18 anos, quando são obrigados a deixar os abrigos.

Kauan passou pelo programa no início de 2020, pouco antes de completar a maioridade. Ele trabalhou no Instituto Youve, que atua com mentoria para jovens e é uma das empresas amigas do projeto. Ele atuou em várias áreas da empresa, incluindo setores administrativos e de atendimento a clientes, por três meses. A experiência trouxe aprendizados profissionais.



“Foi ótimo pra mim, para pelo menos eu ter alguma experiência, porque eu não tinha tido nenhuma. Foi muito bom, principalmente porque eu não mexi só em uma área lá dentro, mas em várias, fazendo um pouco de tudo. E o acompanhamento [da assistência social], foi bem tranquilo também”, relatou.

Quando fez entrevista para o Youve, Kauan conta que não entendia direito a atuação da empresa. “Cheguei lá e eles esclareceram bem rápido sobre tudo. Aí achei interessante e decidi ficar. Eles foram me ensinando aos poucos as coisas, fizeram uns testes e atendi um cliente no primeiro dia”, conta.


Kauan ficou um ano numa casa de acolhimento de menores. Ele disse que não viu preconceito por ter passado pelo serviço, mas percebeu que há uma confusão em pensar que o abrigo é uma prisão ou local pra recuperação de menores infratores. “O pessoal acha que é um centro de reabilitação, mas é algo muito diferente”, destaca.

O estudante tem experiência com audiovisual desde adolescente e pretende seguir carreira na área. Com o curso em andamento, ele busca estágio, enquanto reforça o currículo com trabalhos acadêmicos.


“Eu estou fazendo uma faculdade para poder conseguir um emprego nessa área. Já com o diploma, eu posso conseguir alguma coisa, numa agência, numa empresa”, projeta. Na semana passada, a Univali deu bolsa de 80% para o aluno.

Legenda  Projeto atende seis cidades na região e está ampliando parcerias (Foto: João Batista)

 

 

Virada de vida com ajuda de programa

Também atendida pelo programa, Jaiane Barros de Freitas, 21 anos, de Penha, hoje está casada, é mãe da bebê Analice, de cinco meses, e está concluindo o curso de Direito no Sinergia, em Navegantes. Ela e mais quatros irmãs passaram pelo acolhimento, sendo a última a deixar o abrigo, após 10 anos, em 2020. 


Pelo programa Novos Caminhos, Jaiane fez cerca de 15 cursos em instituições parceiras, incluindo cursos profissionalizantes pelo Senai e Fiesc, em diversas áreas.

As capacitações deram condições pra entrar no mercado de trabalho como menor aprendiz. Foram dois anos na empresa Joyson, ex-Takata, em Piçarras. 

Ao completar 18 anos, a jovem deixou a casa de acolhimento e casou, emendando a mudança com a faculdade, hoje já na 8ª fase.

Com o dinheiro guardado como menor aprendiz, Jaiane ainda fez a carteira de habilitação e deu entrada na compra de uma Biz.

No Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), a estudante vai abordar o processo de saída de adolescentes acolhidos, considerando a própria experiência e defendendo a importância de se ter uma rede de apoio e dar perspectivas aos jovens após chegarem à maioridade.


“No meu caso, foram 10 anos numa casa de acolhimento. Minha vida foi ali. Quando eu fiz 18 anos, eu tive que sair. Se eu não tivesse uma estrutura, onde eu estaria hoje?”, reflete.

“Para todos, o Novos Caminhos dá muitas oportunidades pro mercado de trabalho. Até pra pessoa saber o que quer fazer. Porque, como tem vários cursos, você pode acabar se interessando numa área específica”, comenta.

 

Juiz da Vara da Infância e Juventude de Itajaí, Fernando Machado Carboni e a assistente social e interlocutora regional do programa, Francilene Laureano Moreira Krzisch

 

Programa atende seis cidades na região 

O programa Novos Caminhos começou em Chapecó, há 10 anos, quando a assistência social do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) constatou que 500 adolescentes prestes a sair do acolhimento não tinham qualificação profissional pra seguir a vida sozinhos. A preocupação foi levada à Associação dos Magistrados Catarinenses (AMC), que propôs uma parceria com a Fiesc, dando início ao projeto.

Na região, o programa tem nove anos e atende menores a partir dos 14 anos em Itajaí, Balneário Camboriú, Camboriú, Navegantes, Penha e Balneário Piçarras. O projeto oferta cursos gratuitos, estágios e programas de Menor Aprendiz pra que os adolescentes saiam preparados, ou empregados, do acolhimento.

“Esse programa visa dar um ensino profissionalizante, às vezes o ensino regular pra atualizar os estudos, pra que consigam ter uma autonomia, ter um trabalho e conseguir se manter por conta própria”, destaca o juiz da Vara da Infância e Juventude de Itajaí, Fernando Machado Carboni.

Em 2022, 39 adolescentes da região concluíram cursos e atividades do programa. Eles foram homenageados em evento no início do ano, quando empresas e instituições também ganharam reconhecimento pelo apoio.

O juiz destaca que a maior dificuldade é conseguir empresas que possam oferecer emprego aos adolescentes.

A sensibilização dos empresários passa pelo esclarecimento de que não se tratam de menores infratores, mas de adolescentes que passaram por alguma situação de negligência familiar e que precisam de oportunidades pra iniciar a vida profissional. “Uma coisa é o [adolescente] que comete ato infracional, esse vai cumprir medida socioeducativa. Outra coisa é o que está no abrigo, ele é a vítima. Ele está ali porque foi vítima, às vezes da família, de violência, de abandono”, completa o magistrado.

 

"Eles precisam desse apoio"

Além da preparação profissional, o programa faz o acompanhamento dos egressos. “Alguns estão na faculdade, outros tentando bolsas de estudo e empregos. A gente entende que, pra eles se manterem, eles precisam desse apoio”, comenta a assistente social da Vara da Infância e Juventude e interlocutora regional do programa, Francilene Laureano Krzisch.

Em agosto, um evento apresentou o programa a empresários da região, pra que abram as portas pra vagas de estágio, aprendizagem ou emprego aos adolescentes. O chamado já rendeu frutos, entre parcerias da Univali junto ao Sindicato dos Hotéis, pra novas vagas e com o Marcílio Dias para atividades voltadas para crianças e adolescentes.

Em 10 anos em SC, o projeto encaminhou 1184 jovens ao mercado de trabalho e fez mais de 13,5 matrículas em cursos, oficinas e atividades. O projeto cobre todas as regiões, reunindo 717 empresas parceiras e 10 instituições, virando referência nacional, com implantação já em outros seis estados.




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