Os pais do recém-nascido filmado no bolso do jaleco de uma fisioterapeuta do hospital Marieta Konder Bornhausen conversaram com o DIARINHO nesta segunda-feira e falaram sobre o trauma que sentem desde que descobriram que o filho  foi usado num vídeo em tom de chacota. A. nasceu de forma prematura, no dia 31 de julho no hospital Marieta, junto com o irmão gêmeo H. Os dois bebês continuam internados no hospital Marieta para ganhar peso.

Antes mesmo de saber que era A. nas filmagens, a mãe viu o vídeo e ficou chocada. “A gente viu o vídeo, mostrou para a nossa família, na inocência, sem saber que era o nosso bebê. Na quarta-feira [semana passada] quando fui na visita, o Marieta falou que era o nosso neném que estava no vídeo”, contou a mãe, de 23 anos, que deu a luz aos seus dois primeiros filhos após 29 semanas de gestação de alto risco.

“Estou revoltada. Meu mundo desabou naquela hora. Abriu um buraco no coração, muita tristeza. Por ser uma profissional da saúde, ela estava ali para cuidar, não para botar a vida de um neném recém-nascido, prematuro, em risco”, desabafou a mãe.

O pai conta que os filhos estão no hospital lutando pela vida, por terem nascido antes do esperado. “Um monstro como esse não pode ser chamado de ser humano, fazer uma barbaridade dessa com um bebê recém-nascido, e prematuro. A minha esposa já estava abalada, eles foram desumanos. Isso não se faz”, completou o pai.

Desde que nasceram, em 31 de julho, os bebês estão internados na UTI neonatal, precisando ganhar peso e se alimentando através de sonda. “A gente já pegou eles no colo, mas é pouco tempo, para não cair a temperatura do corpo. Ele estava na incubadora, com aparelho para ajudar na respiração. No vídeo ele estava com 15 dias, tinha recém-saído da ventilação”, revela a mãe.

Além do trauma, o casal lembra que a fisioterapeuta e a equipe que participou da filmagem colocaram a vida do bebezinho em risco. A criança foi contaminada por uma bactéria, o que agravou o quadro. “Antes desse fato ocorrer, meu bebê estava bem. Depois dessa tragédia, o bebê foi para o isolamento, detectaram uma bactéria, ele está com dificuldade de ganhar peso. Isso abalou a nossa família. Estamos muito tristes, revoltados”, reforça o pai. 

A previsão é de que os bebês ganhem alta daqui cerca de 20 dias. “A gente quer os nossos bebês em casa logo, no conforto do lar”, disse o pai. “Debaixo dos nossos olhos, onde a gente tem certeza que serão bem cuidados”, completou a mãe.

Caso na justiça

Além do processo criminal que a fisioterapeuta de 23 anos está respondendo, a família entrará com um processo civil contra o hospital. O casal conta que a direção do Marieta pediu para que ficassem em silêncio depois do acontecido. “Eles pediram pra gente ficar em sigilo, para não falar nada que poderia expor a imagem. Tentaram nos manipular”, acredita o pai.

Advogada revela que fisioterapeuta postou o vídeo no Instagram

Os pais estão sendo representados pela advogada Mariani Regina da Silva, de Itajaí. Ela informou que a fisioterapeuta já teve a credencial junto ao Conselho Regional de Fisioterapia cassada. A advogada revelou que o vídeo veio à tona através das redes sociais da acusada. “A própria fisioterapeuta divulgou na rede de relacionamento dela, no Instagram, como uma maneira de zombar. [...] Com base nessa divulgação houve a externalização nas demais plataformas”, explicou a advogada.

“Aquela atrocidade, aquela tentativa de homicídio, foi publicizada no Instagram dela. Não houve uma denúncia, ela quis publicizar o que fez”, continuou. Para a advogada, o ato teria intenção de fazer dano ao bebezinho. “Não existe justificativa senão querer maltratar esse bebê, querer o mal. Ninguém em sã consciência tira esse bebê, que está em uma ventilação mecânica, que está em tratamento, faz o que fez, se não querendo causar o mal”, acusou.

A reportagem do DIARINHO não conseguiu contato com a defesa da fisioterapeuta. Já o hospital Marieta informou que, assim que teve conhecimento do vídeo, começou as apurações, tomando todas as precauções para identificar os envolvidos e auxiliar nas investigações.

“A mãe foi comunicada tão logo houve a confirmação da autoria, no primeiro momento em que esteve no hospital, inexistindo qualquer intenção de abafar o caso. O Hospital Marieta tratou com a seriedade necessária, inclusive na manutenção do sigilo das identidades do bebê e familiares”, informou a nota do hospital.

Segundo o boletim médico, a criança está bem de saúde, “reservada apenas aos cuidados pertinentes da sua fragilidade de nascido prematuro”.