Depoimento
Pescador que sobreviveu ao naufrágio diz que se salvou graças aos ensinamentos do IFSC
Djalma Silva procurou professor para agradecer pelas técnicas aprendidas que garantiram a sobrevivência do grupo
Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]




O professor Benjamim Teixeira, coordenador do Centro Nacional de Pesquisa do Mar, do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), recebeu uma mensagem emocionante na noite de domingo. Ele ouviu um áudio do pescador Djalma dos Santos Silva, de 34 anos, seu ex-aluno e tripulante do barco Safadi Seif que naufragou na sexta-feira na costa catarinense. Djalma queria agradecer pelas técnicas aprendidas no curso de “Pescador especializado”. Ele reconheceu que os ensinamentos salvaram a sua vida e de mais quatro companheiros.
No ano passado, Djalma fez o curso e aprendeu tudo o que precisava pra enfrentar o momento mais difícil de sua vida. “Agradeço a vida primeiramente a Deus, e em segundo as aulas de salvatagem que eu recebi no IFSC. Foi um trunfo muito grande. O que eu aprendi, eu levei para mim: mantive a calma, esperei a última hora para sair do barco, quando não tinha mais chance. Depois de achar e acionar a balsa”, contou no áudio enviado ao professor Benjamim.
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O professor ficou muito emocionado com o reconhecimento. “Ele contou que o barco adernou, a balsa não abriu automaticamente. Eles que tiveram que acionar a balsa. Djalma fez tudo certinho”, analisou. Benjamim ainda conta que Djalma tentou evitar que outros três pescadores pulassem do barco. “Ele disse ‘ninguém vai pular não, vamos ficar. Enquanto ele estiver de pé, é o lugar mais seguro, a gente só vai sair quando o barco não boiar’”, contou o professor.
Só que três tripulantes se desesperam e pularam na água. Pelo relato de Djalma, o mestre ficou na casaria e gritando para trazer o colete salva-vidas para todos. “O mestre do barco veio com o colete para todo mundo. [Djalma] contou que lembrou o que os professores ensinaram: ‘primeiro salva a sua vida, na hora que tiver seguro você ajuda os outros’. Ele colocou o colete e foi ajudar os companheiros, todos desesperados, em pânico, ninguém conseguiu colocar o colete, nem com ele ajudando. Na hora do resgate somente Djalma estava vestindo o colete”, continua.
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Para o professor Benjamim, Djalma ainda contou que fez o racionamento de água e comida, já que não sabia quantos dias permaneceriam na balsa em alto-mar até serem encontrados pelo resgate. “Ele juntou ração, comida, o que podia.... O povo pedia mais água e ele dizia: ‘água só daqui 24 horas. Eu estou cuidando’. Ele contou: ‘professor virei o líder. O povo queria comida, o povo queria água. Não dei para ninguém’”, relata.
Djalma também conseguiu levar para a balsa duas boias para que, em caso da balsa inflável furar, terem outra chance. “Orgulho de todas as técnicas que ensinamos”, resumiu o professor.
Naufrágio
O pesqueiro Safadi Seif naufragou na costa de Santa Catarina na noite de sexta-feira com oito tripulantes. A tripulação tinha saído pra pesca de espinhel, em águas profundas. Durante o trajeto, a embarcação enfrentou ondas gigantes, de até oito metros, devido à passagem de um ciclone extratropical no oceano.
Seis dos oitos tripulantes foram resgatados entre a noite de sábado e domingo. Djalma e quatro companheiros: Domingos Pereira do Rosário, Zoel Teixeira Barros, Mário Gomes Soares e Luiz Carlos Messias da Silva foram encontrados na balsa à deriva pelo navio de pesquisa Thor Frigg. Eles foram resgatados por volta das 22h, entre a costa de Garopaba e Florianópolis, e desembarcaram na delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí no domingo.
O sexto pescador foi encontrado sozinho no início da noite de domingo pela aeronave Super Cougar, da Marinha. Deivid Luiz Monteiro Ferreira estava com dois coletes salva-vidas amarrados ao corpo. Ele tinha hipotermia e desidratação e foi levado de helicóptero para o hospital Celso Ramos, em Florianópolis.
Barco localizado
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A Marinha continuava as buscas por Alisson da Silva Santos e Diego Silva de Brito ainda desaparecidos no fechamento desta matéria.
Em rondas durante à tarde a aeronave encontrou o barco de pesca emborcado. O pesqueiro está parcialmente submerso e colocando em perigo à navegação. A Marinha repassou às coordenadas do barco aos navegantes para evitar acidentes.
Foram mobilizados o navio patrulha Benevente, o navio de pesquisa Ramform Thethys e o barco Igo Martins, além da aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) e de um helicóptero da Marinha do Brasil para os trabalhos.
“Passou à noite no corredor do hospital”, conta irmã de náufrago
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Após o pescador Deivid Luiz Monteiro Ferreira, de 38 anos, natural do Pará, passar dois dias em alto-mar sobrevivendo ao frio, fome, sede e ao risco de afogamento, ele foi largado em uma maca no corredor do hospital Celso Ramos, na Grande Floripa. A denúncia foi confirmada pela irmã dele, Dilly Monteiro, de 40 anos, ao DIARINHO.
“Deu entrada no hospital assim que chegou em terra, domingo à noite. Ele passou pela triagem do hospital, mas pensávamos que ia logo ser internado, mas não aconteceu. Passou à noite em uma maca no corredor do hospital”, conta Dilly. Ele só foi transferido para um quarto perto das 10h do dia seguinte.
Para a família, Deivid reclamou de dores no estômago, braços e pernas. “Ele está sentindo muitas dores. Não está conseguindo falar. Está bem debilitado, mas consciente. Não está conseguindo se alimentar e o psicológico está afetado. Estamos esperando ele ser transferido para Itajaí”, disse.
A irmã mais velha conta que, antes de embarcar para alto-mar, Deivid estava morando no próprio pesqueiro Safadi Seif. “Ontem [domingo], completou um mês que ele havia chegado em Itajaí e estava morando na embarcação que afundou. Não sabemos por quem ele foi contratado”, diz Dilly, que está vindo do Pará para Itajaí esta semana.
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Deivid faz parte de uma família de cinco irmãos. Todos naturais de Curuçá, no Pará. O pescador tem um casal de filhos e a esposa. Toda a família continua vivendo no estado do norte.
Transferido para Itajaí
Deivid foi o sexto pescador resgatado pela Marinha do Brasil em alto-mar, após o naufrágio. Ele foi localizado na noite de domingo, à deriva, com dois salva-vidas amarrados ao corpo. Deivid foi levado de helicóptero à base área em Floripa e depois seguiu para o hospital Celso Ramos. Deivid demonstrava quadro de hiportemia e de desidratação.
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina afirmou que o pescador David passou na noite de domingo pela sala de reanimação, onde foi verificado o quadro clínico. “Encontra-se estável, em observação e realizando exames complementares. Está no quarto, acompanhado de familiares, recebendo atendimento psicológico devido ao quadro emocional, extremamente abalado. Como é morador de Itajaí, está sendo preparada a transferência para o Hospital Marieta”, diz a nota oficial.
Segundo Dilly, um irmão de criação que mora em SC acompanha Deivid no hospital. Até o fechamento desta edição, Deivid seguia internado no hospital Celso Ramos. "O pescador está na sala de observação, estável, sem necessidade de UTI, recebendo hidratação", disse o hospital.