O consórcio Atalaia, formado pelas empresas Nossa Senhora da Piedade e a Transpiedade, atual operadora do serviço de ônibus de Itajaí, vai tocar a concessão do novo sistema de transporte público pelos próximos 20 anos. O contrato foi assinado nesta terça-feira, prevendo prazo de 180 dias pro consórcio colocar em funcionamento todas as exigências do edital.

O novo sistema prevê uma frota de 44 ônibus com ar-condicionado, acessibilidade e wi-fi, linhas com maior frequência, viagens mais rápidas, integração com terminais e estações de embarque, opção de recarga por aplicativo, tarifas dinâmicas conforme o perfil do usuário, entre outros diferenciais. Os investimentos previstos são de R$ 80 milhões.

O modelo contempla a implantação de 27 linhas com abrangência de 95% da área urbana. As linhas serão divididas em troncal, alimentadora, circular, perimetral, rural, lazer e turismo. Os ônibus não terão mais como base horários tabelados, mas rodarão num sistema de frequência mínima.

Para as linhas troncais, que passarão pelas principais avenidas, a promessa é de ônibus a cada 15 minutos. Nas linhas alimentadoras, que cruzarão ruas comerciais, passará ônibus a cada 30 minutos. O modelo ainda terá linhas circulares, com micro-onibus que farão trajetos nos bairros por corredores onde há serviços públicos, linhas que atenderão áreas mais afastadas, e rotas industriais, rurais e de lazer.

Tarifa de R$ 6

O modelo apresentado pelo município durante a assinatura da concessão manteve os valores das tarifas com base nos estudos feitos ainda em 2019. O serviço terá uma tarifa básica diária de R$ 6, que permitirá viagens ilimitadas durante o dia, com embarque em qualquer ponto, sem necessidade de usar os terminais.

A compra de apenas uma passagem seguirá valendo, no valor de R$ 4,30 (antecipada) e R$ 4,50 (embarcada), permitindo só uma integração. Outros planos de tarifas preveem pacotes pra viagens semanais e mensais. Descontos e gratuidades previstas em lei, como para estudantes e idosos, vão continuar.

Prefeitura dará R$ 1 milhão por mês

A proposta de tarifas acessíveis foi mantida pra que o serviço seja mais atrativo. O município, porém, vai pagar subsídio pra empresa pra cobrir os custos de operação. O secretário de Desenvolvimento Urbano, Rodrigo Lamim, diz que o financiamento público é investimento que beneficia a cadeia econômica da cidade e privilegia o cidadão.

“Nossa modelagem hoje tem uma estimativa de mais ou menos R$ 1 milhão por mês que o município vai investir no transporte coletivo pra manter uma cidade mais dinâmica e pra que os deslocamentos sejam mais rápidos e melhores”, comentou.

Ele acredita que as tarifas dinâmicas servirão como estímulo pra que as pessoas usem o transporte coletivo, contribuindo com deslocamentos sustentáveis, menos congestionamentos e maior movimentação da economia. “O novo sistema coloca o transporte público coletivo como prioridade numa política de mobilidade urbana”, opina.

Seis meses pra começar

O consórcio Atalaia tem até seis meses pra colocar o novo sistema nas ruas. A empresa tem que ampliar a frota, comprar equipamentos, arrumar a infraestrutura de garagens e desenvolver  um aplicativo de bilhetagem eletrônica.

Uma das novidades no serviço será um aplicativo para fazer a recarga do cartão, consultar rotas e linhas mais próximas. O programa terá dispositivos para pessoas com deficiência, como audiodescrição. Ainda serão implantadas 24 estações de embarque, também com acessibilidade e wi-fi.

O prefeito Volnei Morastoni (MDB) disse que o novo modelo traz modernidade e atende as necessidades da população. Segundo ele, com o sistema, o município já se prepara para atender uma população de mais de 400 mil habitantes projetada pra 2040.

“O transporte público coletivo assume a máxima importância numa cidade como a nossa, pra que possamos melhorar esse sistema, pra que as pessoas possam, cada vez mais, ter a opção do transporte público e deixar o carro em casa. E pra isso é preciso ter um sistema bom, moderno, com linhas frequentes, com todas as adequações e requisitos apresentados nessa proposta”, comentou.

Até a implantação do sistema, a prefeitura fará uma série de reuniões nos bairros pra apresentar e divulgar o novo modelo. O diretor-executivo da Transpiedade, Rodrigo Hoelzl, destacou que a junção das duas empresas no consórcio Atalaia, cujo nome homenageia a cidade, vai assegurar que a operadora cumpra os requisitos legais previstos no edital.

Até 10 dias antes do prazo final, a empresa deve estar com a frota e tecnologias prontas pra serem vistoriadas pelo município e começar a operar no novo sistema. A empresa ainda vai avaliar a necessidade de contratação de novos motoristas.

Concessão é primeiro passo para integração regional

A nova concessão de ônibus em Itajaí inicia no momento em que se discute o projeto do sistema integrado de transporte coletivo regional. Na segunda-feira, os prefeitos de Itajaí, Balneário Camboriú e Navegantes participaram de uma reunião com o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL).

Os prefeitos querem o apoio do estado para os projetos de mobilidade, especialmente a rede de transporte que vai ligar todas as cidades da Amfri, prevendo melhorias em ruas e uso de veículos elétricos.

O prefeito Volnei Morastoni diz que cada município tem que fazer a lição de casa, como Itajaí está fazendo a partir do novo sistema municipal.

“Tivemos audiência com o governador Jorginho Mello pra incluir o governo do estado nessa proposta do sistema integrado regional. É mais uma concepção que poderá vir a ajudar substancialmente o sistema de transporte da nossa região”, disse. Numa nova agenda, os prefeitos da Amfri vão se reunir com técnicos estaduais sobre a parceria com o estado.

Seis anos de espera

A assinatura da concessão acontece após quase seis anos da saída da Coletivo Itajaí, que largou o serviço em meados de 2017. Desde então, com interrupção durante a pandemia, o transporte vem sendo feito de forma emergencial pela Transpiedade, enquanto o município elaborava a licitação pra contratação de uma nova concessionária. O processo sofreu com atrasos, revisões e paralisação devido à pandemia. O edital também enfrentou questionamentos do Tribunal de Contas do Estado (TCE) que levaram à suspensão do processo até a retomada da licitação neste ano, após adequações.