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BC e Navegantes

Vítimas fatais de incêndios viviam na miséria

Casal de recicladores não tinha energia elétrica ou água da rede em casa, causa do incêndio pode ter sido uma vela acesa

Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]

Casal de recicladores morreu queimado dentro de casa. O fogo se alastrou com rapidez, contam os vizinhos que juntam o que sobrou (foto: Joca Baggio)


Os incêndios que mataram um casal de idosos recicladores em Navegantes e um imigrante haitiano em Balneário Camboriú nas últimas semanas,  são mais do que fatalidades e acendem um alerta para as condições em que vivem pessoas de baixa renda na região.

Embora as estatísticas do Corpo de Bombeiros não englobem a classe social das vítimas de incêndios, a maioria das causas apuradas está ligada a problemas na fiação elétrica, como curtos-circuitos em imóveis em estado precário ou irregular.



É comum ainda pessoas que não têm acesso à rede elétrica e fazem uso de velas e fogareiros, o que aumenta ainda mais os riscos de acidentes. Somente no ano passado 31 pessoas morreram em incêndios em Santa Catarina. Os dados referentes ao primeiro trimestre deste ano ainda não foram divulgados.

O subcomandante do 13º batalhão do Corpo de Bombeiros de BC, major Jackson Luiz de Souza, diz que casas em madeira, construídas muitas vezes em um mesmo terreno e coladas umas às outras e com instalações elétricas precárias, são mais propensas a incêndios graves. “São nesses locais que os incêndios têm uma recorrência maior”, diz Jackson. Ele destaca que a precariedade dos imóveis também contribui para que o fogo se alastre rapidamente, queimando mais de uma casa na maioria das vezes.


Os famosos "gatos de luz" feitos por pessoas sem nenhum conhecimento em eletricidade são outro fator preocupante. Esses casos são muito comuns não apenas em ocupações irregulares, mas em áreas habitadas por pessoas de baixa renda. “Uma casa puxa a energia da outra, o que gera um grande risco de curtos-circuitos que possam deflagrar incêndios de grandes proporções. Mas isso tudo é decorrente de um problema social imenso não apenas aqui, mas em todo o Brasil”, analisa o major. O acúmulo de produtos inflamáveis em imóveis ocupados por recicladores é outro fator de risco.

 


Comemos quando podemos e ainda juntamos o pouco que temos para ajudar uns aos outros” - Luiz Carlos Mendes, morador do bairro São Paulo

 

Sem luz ou água na rede

"Tentamos arrombar a porta para tirar eles de lá, mas tudo aconteceu muito rápido”

 


Uma amostra da vida daqueles que dependem da coleta do lixo reciclável para se sustentar pode ser vista dois dias após o incêndio que tirou a vida do casal de recicladores Iraci dos Santos e Milton Pereira Nascimento no bairro São Paulo, em Navegantes. Poucas horas após a liberação da área do incêndio pela polícia científica e bombeiros militares, pessoas da vizinhança se juntavam a algumas galinhas criadas soltas na região que ciscavam a área e vasculharam os enormes sacos com o resto de material coletado nas ruas pelos vizinhos. A intenção era achar algo que pudesse ser revendido como material reciclável.

O vizinho Luiz Carlos Mendes, também catador, conta que antes mesmo da liberação da perícia outros recicladores já estavam de olho no material reunido no pátio do casal de idosos que morreu no incêndio. Seu Luiz vive há anos no local e conta que a maioria das pessoas da vizinhança  junta lixo nas ruas e vende para usinas do bairro.

“Vivemos com dificuldades. Comemos quando podemos e ainda juntamos o pouco que temos para ajudar uns aos outros”, conta seu Luiz. Ele diz que ajudava o casal até com comida, porque eles tinham uma vida muito difícil. Inclusive, segundo a vizinhança, eles não tinham energia elétrica e nem água em casa e usavam um fogareiro para cozinhar o que tinham para comer “À noite usavam velas, o que deve ter iniciado o fogo, às duas da madrugada. Tentamos arrombar a porta para tirar eles de lá, mas tudo aconteceu muito rápido”, narra Luiz.

 

Morte de haitiano em Balneário


Em BC um haitiano morreu carbonizado durante um incêndio em quitinetes coladas

Em BC um haitiano morreu carbonizado durante um incêndio em quitinetes coladas 

 

O incêndio que causou a morte de um jovem haitiano na rua Araranguá, no bairro dos Municípios, em BC, também está ligado à pobreza. Ele vivia em uma das cinco quitinetes que um casal construiu em seu terreno e que alugam a preços baixos para pessoas que vêm tentar a vida em Balneário Camboriú. Dos cinco imóveis lado a lado, três foram consumidos pelo incêndio que matou o haitiano.

A assistente social da Secretaria de Desenvolvimento e Inclusão Social diz que, segundo a dona do imóvel, o incêndio teria sido causado pela explosão da bateria de uma moto elétrica. No entanto, a perícia ainda não foi concluída pelos Bombeiros e Polícia Científica.

O que se sabe é que o imóvel em que estava a vítima era uma edificação mista, construída colada a outras casinhas. Também não se sabe ainda em que condições estaria a instalação elétrica do imóvel. Procurados pela reportagem, os proprietários se recusaram a falar sobre o incêndio e não permitiram o acesso ao local.

A secretária Christina Barrichello diz que em BC não existem áreas de extrema pobreza, porém concorda que o incêndio também pode ser caracterizado como um problema social. “Espaços fisicamente muito próximos facilitam a dispersão do fogo, o que aconteceu no caso da rua Araranguá”. Christina diz ainda que não bastam os proprietários criarem moradias para incrementar renda com aluguéis de anexos, sem os cuidados que garantam a segurança de todos os moradores. 

 

Maior fiscalização

Maior fiscalização diminuiria o problema

Maior fiscalização diminuiria o problema

 

Os bombeiros não têm poder de fiscalização de residências unifamiliares e, no caso das multifamiliares, é bastante comum as pessoas construírem quitinetes anexas. Essas edificações deveriam entrar  no radar de fiscalização de urbanismo de cada prefeitura, mas passam despercebidas. O perito dos Bombeiros de Itajaí, Felipe Daniel da Silva, diz que uma maior fiscalização [envolvendo as partes elétrica e estrutural desses imóveis] resolveria parte do problema. No entanto, tanto os bombeiros, quanto outros órgãos de fiscalização, só têm conhecimento desses casos através de denúncias de vizinhos, o que raramente acontece. Felipe diz que no ano passado 52% dos incêndios atendidos no estado foram em residências unifamiliares.

 

 

 




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