Matérias | Especial


Alta temporada

Preços disparam nos supermercados e provocam a indignação de consumidores

O aumento atinge o hortifrúti, itens de cesta básica, bebidas, pet shop e produtos de higiene e limpeza

Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]

Luiz viu que o preço do feijão preto encostou no vermelho, com alta de 25% em janeiro (FOTO: RENATA ROSA)


Renata Rosa

Especial para o DIARINHO

Fazer as compras do mês com um orçamento limitado nunca foi tarefa fácil, mas a percepção dos consumidores de Itajaí e região é que, depois da virada do ano, se tornou uma missão quase impossível. Isso porque vários produtos dispararam de preço, seja por causa de quebras de safra, falta de matéria prima na indústria ou aumento de custo no transporte de mercadorias, já que o diesel continua nas alturas. E, muitas vezes, trocar de supermercado não tem se mostrado útil para diminuir o valor das compras.



“Notei esses aumentos no Koch, Angeloni, Atacadão, Brasil Atacadista. Perguntei aos gerentes e a maioria não soube responder e até ficam espantados com a pergunta. Alguns falam que é por causa do dólar, outros, que é por questão política. Isso não justifica porque quem paga é o povo”, reclama o empresário P.M.L. Ele comenta que o mesmo pacote de papel higiênico, que costumava pagar R$ 45, este mês subiu para R$ 70. “Os postos tentaram boicotar o novo governo aumentando a gasolina. Sei de produtos que baixaram de preço, mas essa queda não se reflete no mercado. Deveria ter uma fiscalização para averiguar essa alta abusiva”, sugere.

O produtor cultural Luiz Cláudio Cerqueira Baptista, 69 anos, é carioca e mora em Santa Catarina desde 2018. Há dois anos está em Itajaí e é o responsável pelas compras da família de quatro pessoas. Para fazer o orçamento esticar até o fim do mês, Luiz conta que prefere fazer a compra mensal no Fort do bairro São João, e deixa a cerveja e carne para o dia da promoção no Koch do São Vicente, perto de onde mora, ou no açougue de bairro. “O hortifrúti prefiro ir no sacolão Direto do Campo porque a qualidade é melhor e o preço compatível”, justifica.

Mas mesmo buscando comprar o que está em oferta, ele tem sentido uma alta nos produtos de todos os setores do mercado. “Minha compra mensal de alimentação básica com arroz, feijão, óleo, produto de limpeza não passava de R$ 900. No início do mês, gastei R$ 1200. Café e leite subiram de forma indecente”, lamenta. Um dos itens que Luiz deixou de comprar foi o sabonete de caixinha. “Eu comprava por R$ 3 e pouco, agora tá quase R$ 5 e ainda diz que é promoção”, se revolta.


 

Preços nos mercados

refletem alta na indústria

O presidente da Associação Catarinense de Supermercados (Acats), Alexandre Simioni, disse que o consumidor só fica sabendo da alta na gôndola, por isso acredita que o setor varejista seja o culpado pelos aumentos. Ele argumenta que o preço praticado nas lojas é a etapa final de uma cadeia que começa na produção. “O supermercado reflete o que fornecedores e indústria lhe apresentam em termos de preços. Se tem variação, o supermercado repassa, tanto para cima, como para baixo”, garante.

Alexandre afirma que os supermercadistas negociam o melhor preço para não impactar o consumidor e nega que os supermercados combinem preço ou façam uma ação conjunta para elevar os valores de forma generalizada. “Não existe tabelamento de preço, cada empresa opera de acordo com sua política de precificação, vivemos em uma economia de livre mercado, por isso a importância da pesquisa por parte do consumidor”, lembra.


Na última pesquisa de cesta básica realizada pelo Procon em Itajaí, alguns produtos chegaram a aumentar 25% em 30 dias, como o feijão preto. O mesmo aconteceu em itens de higiene e limpeza como o álcool líquido 46° (23,68%), o sabonete de 90g (15,50%), e o sabão em barra (12,52%). Entre as razões para os aumentos estão a sazonalidade, quebra de safra em razão das chuvas e no caso de produtos de higiene e limpeza, a falta de matéria prima na indústria como o sebo por causa da guerra na Ucrânia, segundo informou a empresa Unilever. Outro fator é o diesel, usado para transporte de mercadorias, cujo preço continua elevado.

Caixa de leite na Itália manteve

o mesmo valor por 13 anos

A tradutora-intérprete Lindi Costa, 58 anos, vive em Roma desde 2004, mas todo ano ele passa o verão com a mãe, em Navegantes. De lá pra cá, ela só notou aumento de preço nos supermercados italianos em 2022 por causa da guerra. “O leite custava 45 centavos até 2017. Depois passou para 48 centavos, não é aumento seguido como no Brasil. Lá centavo tem valor, o dinheiro compra mais”, compara. A cotação do euro em 28 de janeiro era R$ 5,55.


Lindi conta que por causa da falta de trigo, que vinha da Ucrânia, a caixa de macarrão passou de 35 centavos para 70. Também sofreram reajuste a carne e o peixe, mas os demais itens se mantiveram iguais. “Deus que me perdoe, mas com os preços daqui, pobre não pode comer. Na Itália, o governo segura o preço para que o povo tenha condição de comprar, aqui o salário compra cada vez menos”, acredita. O salário mínimo por lá é 800 euros (R$ 4444).

Em relação a produtos de higiene, a comparação chega a ser bizarra. “Um desodorante aerossol Dove lá custa um euro. Aqui o mesmo produto custa R$ 18, já vi de R$ 25! Como a gente pode se manter asseada no Brasil?!”, questiona. E o espanto não é menor em relação aos produtos de limpeza. “Onde já se viu um sabão em pó custar R$ 20, R$ 25?”, se espanta.

Outra coisa que deixa a tradutora indignada é a folha de alumínio, que no Brasil, é bem menos resistente que a versão italiana. “Em Roma eu pago um rolo de 20m por 99 centavos. Aqui chega a R$ 10 e só tem quatro metros”, reclama. Lindi afirma que não compra se o preço for exorbitante, nem compra mais do que o necessário para aproveitar descontos. “Os atacadões querem nos empurrar produtos como se a gente ganhasse milhões, não caio nessa”.

Em relação aos hortifruti, ela revela que aprendeu com os italianos a só comprar na safra, cujo preço é baixo e o sabor pronunciado. Por isso os pratos na Itália são sazonais. “Eles só compram tomate no verão e aproveitam a safra para fazer molho e usar no inverno. A mesma coisa com as frutas, que viram geleia. Assim, a gente economiza. É educação alimentar”, conclui.

 

Denúncias de irregularidades na venda


de produtos podem ser feitas ao Procon e MP

Mas como é possível saber se os preços praticados nos mercados são o reflexo da cadeia produtiva ou se ferem o Código de Defesa do Consumidor? Segundo Bruno Silva, do Procon de Itajaí, numa economia de livre mercado, em que os preços não são tabelados, não existe regulação de preços, com algumas exceções, como no caso de medicamentos. Para denunciar que um determinado setor da economia está, de forma deliberada, combinando preços, é preciso fazer uma representação junto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Bruni explica, porém, que a constatação de preços iguais não basta para comprovar o cartel, que é passível de punição, pois são produtos similares, vendidos com margem de lucro muito próxima. Segundo o guia que o Cade disponibiliza no site, é preciso comprovar a coordenação entre as empresas para estipular preços através de escutas telefônicas, troca de mensagens entre os concorrentes ou atas de reuniões. Venda casada é outra prática abusiva.

O Cade é um órgão do governo federal ligado ao Ministério da Justiça e não tem a função de regular preços, mas coibir práticas que violem a livre concorrência que garante o esforço das empresas em oferecer o menor preço e melhor qualidade, impulsionando a inovação. Além de cartel, o Cade combate o truste (fusão de grandes empresas) e preços predatórios, quando produtos são vendidos abaixo do custo de produção para eliminar a concorrência.

O Ministério Público também tem uma procuradoria em defesa do consumidor, sendo possível fazer a denúncia de forma anônima, mas o anonimato precisa ser justificado como no caso de denunciar a empresa em que trabalha. Nesta modalidade, a denúncia deve ser por via postal e fundamentada com fotos e documentos, já que não será possível contatar o denunciante.

Além de punir empresas que praticam aumentos injustificados, como aconteceu após as enchentes, o MP defende o consumidor em caso de empresas que vendem alimentos impróprios para o consumo (vencidos, sem rotulagem ou com embalagem adulterada). E também aqueles sem alvará ou condições sanitárias, com os equipamentos sem manutenção e até o uso de agrotóxicos proibidos. Comprovada a denúncia, pode ser aplicada uma multa, o estabelecimento pode ser interditado e responder por crime contra a economia popular.

 

 




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