Dossiê aponta advogada e empresários como líderes do acampamento em frente à Marinha
Documento foi entregue ao Ministério Público na quarta-feira e pede investigação e responsabilização dos envolvidos
Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]
Manifestação antidemocrática ocorreu por quase dois meses em frente à Marinha do Brasil
(Foto: Arquivo)
Patrick Dauer
Liliane Fontenele
Rubens Angiolette
Paulo Souza
Adriana Keller
O Partido dos Trabalhadores (PT) de Itajaí protocolou no Ministério Público de Santa Catarina, na quarta-feira, uma notícia-crime apontando empresários, políticos, vereadores e advogados como responsáveis pelos atos golpistas praticados no município desde a derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas urnas.
O relatório apresenta provas documentais das ações dos apoiadores do ex-presidente Bolsonaro, incluindo incitação a um golpe militar e financiamento dos atos de vandalismo em Brasília ...
O relatório apresenta provas documentais das ações dos apoiadores do ex-presidente Bolsonaro, incluindo incitação a um golpe militar e financiamento dos atos de vandalismo em Brasília no dia 8 de janeiro.
Entre os nomes citados no relatório, chamam a atenção o do empresário e ex-candidato a deputado federal Patrick Dauer, o da empresária Adriana Keller Cunha, da advogada Liliane Fontenele, do vereador Rubens Angioletti (sem partido) e do humorista Paulo Souza.
Pelo relatório, a principal liderança dos atos em Itajaí foi a advogada Liliane Fontenele, vice-presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB de Itajaí. “Liliane é uma das principais organizadoras dos atos golpistas em Itajaí, sendo organizadora de caravanas para outras cidades e também financiadora. Eram diversas as mensagens pedindo dinheiro para financiar o movimento. Ela também organizou ônibus para a invasão do congresso em Brasília. O ônibus, conforme nome do grupo de WhatsApp, era de graça”, aponta o relatório.
Segundo o presidente municipal do PT, Gerd Klotz, os dados coletados e as provas foram reunidos pela assessoria jurídica da direção municipal do PT de Itajaí que fez uma investigação própria sobre o acampamento. “No local, havia constante vigília, animada por carros de som/trio elétrico. Em tais aparelhos, eram os ‘manifestantes’ constantemente incitados a não aceitarem os resultados das eleições e pedirem intervenção militar. No local, eram expostas faixas com dizeres antidemocráticos, que anunciavam fraudes no processo eleitoral, ainda que efetivamente aceito e homologado por todos os poderes da República”, explicou o advogado que entrou com a representação, Marcelo Saccaro Branco.
O PT diz que enviou inúmeros pedidos de informações e não teve retorno da prefeitura de Itajaí sobre a falta de fiscalização, dos cuidados sanitários e ambientais, e da Secretaria de Urbanismo sobre o uso da rua e do passeio público, além das vagas de estacionamento, pelos participantes da manifestação.
“Eu não participei de nenhum ato antidemocrático, golpista ou ainda, criminoso. E qualquer apontamento neste sentido, me vinculando a esses termos será punível na forma da lei”
Liliane Fontenele, advogada
Com o relatório protocolado, o PT espera que o MP investigue os atos, apurando quais as lideranças e financiadores levaram o povo para as ruas, incitando à prática criminosa. Além disso, que, identificados os responsáveis, eles sejam responsabilizados.
“Esperamos que o MP cumpra com sua função e denuncie estes cidadãos e cidadãs que apoiaram atos golpistas nesta incubadora e laboratório de ações terroristas que foram os acampamentos ilegais”, disse Gerd.
O MP informou que a denúncia será encaminhada à promotoria responsável.
Advogada seria a principal liderança
O relatório do PT diz que a advogada Liliane Fontenele esteve presente nas depredações na sede da Polícia Federal, em Brasília, no último dia 12 de dezembro. A advogada também esteve no Congresso no dia 7 de dezembro, com o humorista Bismark Fugazza, que atualmente é considerado foragido da Justiça, lendo uma carta que conclamava as Forças Armadas a darem um golpe de estado.
O relatório aponta ainda que a advogada organizou um ônibus gratuito para pessoas irem a Brasília no dia 8 de janeiro. “Ela comemorou e pediu apoio aos invasores da praça dos Três Poderes [...]. Após o ato terrorista, ela ainda incentivava pessoas a irem para Brasília ou a refinarias”, aponta o relatório.
Outra citada é a empresária Adriana Keller da Cunha, que tem um escritório para realizar empréstimos. Ela, segundo o relatório, ajudou a organizar caravanas para Brasília. O relatório ainda traz uma lista com possíveis pessoas que foram a Brasília no dia da invasão. “Ela organizava protestos em outras localidades, inclusive na BR-101, com intuito de fechar a estrada”, diz o documento.
O relatório aponta Patrick Dauer como um dos incitadores da multidão. “O mesmo veiculou vídeo no qual discursa em carro de som perante os ‘manifestantes’. [...] Ele pede intervenção e chama a todos os presentes a pedirem em coro com ele intervenção federal, atentando contra a Democracia”.
O relatório traz prints com informações da participação do vereador Rubens Angioletti, de Itajaí, no movimento. No início de novembro, ele postou um vídeo da manifestação com a legenda: “Linda e ordeira manifestação agora em Itajaí. É o povo, dentro da lei, mostrando sua indignação [...]. Mas, se vamos questionar, tem que ser lá em Brasília e dentro da lei”, escreveu.
O humorista Paulo Souza, de Itajaí, membro do Canal Hipócritas, também foi citado. “Paulo Souza incentiva os manifestantes a permanecerem mobilizados, usando uma metáfora comparando o presidente eleito a um ladrão que está invadindo sua casa”, relata o documento.
Contraponto dos citados no relatório
O vereador Angioletti disse ao DIARINHO que está tranquilo, pois seus atos foram dentro da Constituição. “A Constituição permite manifestações. Da mesma forma que quem ganha pode se manifestar comemorando, quem perde pode se manifestar protestando. Aliás, nas ruas onde fui, o que vi foram pessoas com as mais variadas causas de pedir. A minha ida foi e será contra a corrupção. Quem pratica atos ilegais tem que responder. Estes eu não pratico”, informou.
Já o empresário e ex-candidato Patrick Dauer justificou que também participou como cidadão comum. “Não fui um dos organizadores, na verdade não havia organizador, as pessoas fizeram o ato acontecer de maneira espontânea e orgânica”, afirmou.
A advogada Liliane Fontenele informou que não participou de nenhum ato antidemocrático, golpista ou ainda criminoso. “Qualquer apontamento neste sentido, me vinculando a esses termos, será punível na forma da lei. Não tomei conhecimento do protocolo realizado pelo PT, então, a respeito dele não posso me manifestar”, informou Liliane ao DIARINHO.
A empresária Adriana também alega que participou somente como cidadã. “Não organizei nenhum ato antidemocrático. Todo histórico em Itajaí foi pacífico. Sou contra qualquer ato de vandalismo. E isto tem que ser individualizado e não generalizando as manifestações pacíficas”, informou.
O humorista Paulo Souza não respondeu o contato do DIARINHO até o fechamento desta matéria.
Dando seu ok, você está de acordo com a nossa Política de Privacidade e com o uso dos cookies que nos permitem melhorar nossos serviços e recomendar conteúdos do seu interesse.