Violência
Fretista sequestrado e agredido por manifestantes deixa SC
Veja o vídeo: Grupo montou emboscada para capturar Rafael (de boné e sem camisa). Ele ficou preso por quatro horas
Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]
O trabalhador rendido por manifestantes e mantido em cárcere privado depois de ironizar os protestos contra o resultado das eleições é um fretista de Bombinhas. Um novo vídeo a que o DIARINHO teve acesso registra o momento em que o grupo de manifestantes faz a emboscada para capturar a vítima no último domingo.
Os manifestantes queriam se vingar do vídeo postado por Rafael, de sobrenome não informado, num grupo de WhatsApp trolando os protestos. A vítima foi capturada pelos manifestantes e passou quatro horas na mão do grupo. Após ser libertado, Rafael seguiu recebendo ligações com ameaças de morte.
Por volta das 15h de domingo, os manifestantes ligaram para Rafael simulando a contratação de um frete de um sofá para o bairro Meia Praia, em Itapema.
Rafael foi ao encontro do grupo na garagem do prédio para pegar o trabalho, mas acabou rendido pelos homens – alguns estavam sem camisetas, outros com camisa do Brasil e outros vestindo verde e amarelo.
A partir daí, Rafael passou quatro horas na mão dos agressores, que não aceitam a derrota nas urnas do presidente Jair Bolsonaro (PL) e não gostaram da brincadeira feita pelo fretista.
Rafael foi cercado, rendido, ameaçado e agredido com um tapa no rosto. O vídeo mostra ainda o homem que deu o tapa no rosto do fretista segurando o rosto de Rafael e questionando: “tu pensou na tua família e nos teus filhos? Tu és PT, tu queres que aqui vire uma Venezuela e que os teus filhos passem fome?!”.
Em outro momento do vídeo, Rafael aparece cercado por manifestantes e pedindo desculpas. Só que eles não aceitaram as desculpas e obrigam Rafael a seguir à força, com eles, até o acampamento, para se desculpar com todos os manifestantes.
Levado em caminhonete
Antes de sair do prédio onde rolaria o suposto frete do sofá, Rafael pediu para ir em seu veículo até às margens da BR 101. O grupo de homens não aceita e o obriga a entrar na caminhonete deles. O vídeo mostrar ele ainda no meio de dois manifestantes.
O fretista foi levado até às margens da rodovia, onde foi obrigado a se desculpar, a pisar num boné do MST que foi colocado em sua cabeça, se enrolar e a balançar uma bandeira do Brasil ao som do hino nacional. Tudo registrado em vídeo pelos próprios agressores. Rafael foi xingado de “seu bosta”, “seu lixo” e ameaçado.
Os próprios manifestantes gravaram vídeos mostrando as agressões a Rafael e postaram em grupos de WhatsApp.
Rafael achou que seria morto, conta advogado
O advogado da vítima, Marcelo Saccardo Branco, contou ao DIARINHO que Rafael passou quatro horas detido pelos manifestantes. Ao ser levado para as margens da rodovia, ele achou que seria morto pelo grupo. “Na hora que colocaram Rafael dentro do carro, ele disse que teve certeza que iriam matá-lo. Fizeram uma sessão de tortura. Humilhação, pressão psicológica, ameaças... Fizeram pegar a bandeira, ir para o meio da rodovia, com xingamentos, colocaram o boné do MST na cabeça dele, mandaram botar no chão e pisar. Humilharam por quatro horas, só foram liberar por volta das oito da noite”, narrou o advogado.
Os manifestantes ainda quebraram o carregador do celular de Rafael. “Ele foi para casa depois e continuou recebendo ameaças via celular. Eles falavam ‘eu sei onde você mora, não denuncia a gente’, e assim por diante”, conta o advogado.
Apavorado, Rafael não quis registrar o boletim de ocorrência. “Ele está extremamente apavorado com a situação, morrendo de medo”, conta o defensor.
Traumatizado e sendo ameaçado de morte, Rafael deixou a cidade de Bombinhas no início da noite de terça-feira. Ele se mudou para outro estado.
A vítima não chegou a registrar boletim de ocorrência na delegacia. No entanto, a Polícia Civil teve acesso aos vídeos e abriu uma investigação para identificar os agressores.
Já amparado e orientado pelo advogado, Rafael prestou depoimento à distância na tarde desta quarta-feira. Ele também prometeu colaborar com as investigações, mas não irá revelar onde está vivendo por questão de segurança.
Além da ação criminal, o advogado da vítima estuda se ingressará com uma ação pedindo danos morais e materiais contra todos os agressores.
O caso eganhou repercussão nacional pela crueldade. O vídeo foi repostado pelo deputado federal Alexandre Frota (PSDB) e por vários portais de notícias nacionais.