SANTA CATARINA
Operação prende universitários suspeitos de integrar grupo neonazista no estado
Célula tinha ramificações em Joinville, Florianópolis e São José. Investigado produzia peças de armas de fogo em casa
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]



A Polícia Civil prendeu quatros homens suspeitos de integrar um grupo neonazista de Santa Catarina que tinha ramificações nas cidades de Joinville, Florianópolis e São José. A operação que cumpriu as ordens de prisão foi rna última quinta-feira. Armas, munições, coletes, celulares, símbolos nazistas foram apreendidos. A polícia ainda busca outras duas pessoas suspeitas.
O caso foi divulgado pelo programa Fantástico, da Rede Globo, na noite de domingo. As investigações vinham desde abril, a partir da prisão de um homem por tráfico de drogas que tinha em casa bandeiras com símbolos nazistas e uma arma de fogo ilegal. Na nova operação, três dos acusados foram presos em Joinville e um quarto homem foi detido em São José.
Continua depois da publicidade
Na operação foram presos um auxiliar de escritório de 27 anos que tinha em casa uma espingarda ilegal e munições, um estudante de Engenharia Automotiva da UFSC, de 21 anos, um estudante de Letras, também da UFSC, e um de Direito, ambos de 20 anos. Na casa deste último investigado, a polícia encontrou munição já deflagrada e artigos nazistas.
O primeiro homem preso, ainda em abril, tem 24 anos e é estudante de Engenharia de Agricultura da UFSC. Na casa dele, além de bandeiras, foi encontrada uma impressora 3D usada na fabricação caseira de peças de arma de fogo. No momento da prisão, estavam sendo produzidas partes de uma carabina semiautomática 9mm. Em aparelhos do traficante, a polícia encontrou conteúdos de ódio e violência, maus-tratos a animais e pedofilia. O homem ainda participava de fóruns na “deep web” que planejam e celebram ataques terroristas. Foi a partir do caso dele que a polícia iniciou a investigação e encontrou vídeos com encontros e práticas do grupo.
Continua depois da publicidade
Uma das imagens, de agosto de 2020, mostra a explosão de uma televisão antiga com um adesivo de símbolo nazista criado para depreciar os judeus. Segundo a Polícia Federal, nos encontros os acusados se diziam a “nova SS” de Santa Catarina, numa referência à polícia secreta do nazismo.
O grupo fazia uso de símbolos nazistas menos comuns, como a bandeira supremacista do Kekistão, inspirada no nazismo, e o runodal, um símbolo do alfabeto alemão antigo, ligado à SS. Os presos também participam de grupos de mensagens de celular, um deles chamado “Aniversário do Führer”, nome que faz referência a Adolf Hitler.
“Vamos matar mendigo amanhã”, fala um dos jovens em conversa. “Mendigo, nordestino... todos os mendigos, negros e nordestinos deveriam ser fuzilados”, responde o colega. Nos grupos, os membros também organizaram rituais neonazistas contra negros e judeus e falavam de ataques terroristas.
1117 células nazistas
Os homens presos vão responder por associação criminosa armada, fabricação de arma de fogo e divulgação do nazismo. À polícia, eles negaram práticas neonazistas e planos de ataques. Eles disseram que as mensagens de ódio não passaram de “uma grande brincadeira”.
A UFSC pediu informações à polícia sobre os alunos da instituição presos para a tomada de medidas disciplinares. Os materiais apreendidos com o grupo serão analisados pela polícia, que também vai apurar o envolvimento dos presos com outras células nazistas. Outros grupos neonazistas ainda estão sendo investigados pela polícia.
Conforme estudo da pesquisadora Adriana Dias, da Unicamp, há 1117 células nazistas no Brasil, a maioria no Sul e Sudeste. Santa Catarina e São Paulo são os principais estados em número de células.
Continua depois da publicidade