Preços baixos
Atacarejos se multiplicam em Itajaí e disputam consumidor mais exigente
Novas lojas contam com serviços antes disponíveis apenas nos supermercados tradicionais
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Por Renata Rosa
Na segunda rodada da série sobre economia popular, o DIARINHO entrou de cabeça no universo dos “atacarejos”, categoria de supermercado que vende tanto no atacado quanto no varejo, e se tornou o queridinho do povão que precisa economizar ao máximo para garantir comida na mesa, diante da alta dos preços dos alimentos.
Em Itajaí, novos atacadões foram abertos nos bairros, aumentando as opções de compra e acirrando a concorrência, que está rebolando para continuar oferecendo preço baixo com melhor serviço.
Ao contrário de outros setores econômicos afetados pela pandemia, o segmento cresceu, impulsionado pela doação de cestas básicas. Segundo a Associação Brasileira dos Atacadistas de Autosserviço, as vendas já representam 43,5% no varejo alimentar brasileiro.
Mas qual é o segredo para oferecer preços diferenciados? A grande sacada foi comprar grandes lotes de mercadorias e dar um desconto extra para quem comprar mais unidades do mesmo produto. Além disso, as empresas economizam na ambientação e no número de funcionários, limitam as marcas e abrem mão de setores como padaria e açougue.
Só que, com o aumento da concorrência e a diversificação no perfil do consumidor para além do pequeno comerciante, o setor teve que se reinventar.
Agora, não basta apenas oferecer preço, mas também uma boa experiência. Por isso algumas estratégias estão sendo revistas, como não aceitar cartões de créditos e oferecer apenas produtos industrializados.
Um exemplo é o Komprão da rede Koch, inaugurado este ano na Ressacada, onde é possível comprar carne fresca e não apenas embaladas a vácuo ou congeladas.
O Atacadão, do grupo Carrefour, possui uma lanchonete na unidade do Cidade Nova, assim como o Brasil Atacadista, na Brava, que abriga uma lotérica.
Cartão de crédito
O pioneiro do setor na cidade, o grupo Fort, que abriu a terceira loja em maio, em Cordeiros, passou a aceitar outros cartões de créditos além do da rede e oferecer inovações que facilitam a vida do consumidor e tornam o tempo gasto nas compras mais agradável.
Mas a pergunta que não quer calar: quem oferece o melhor preço? Acompanhe a seguir a pesquisa de preços de 30 itens básicos não perecíveis.
A pesquisa
O DIARINHO coletou os preços nos dias 14 e 15 de setembro nos estabelecimentos: Fort (centro), Komprão (Ressacada), Maxxi (São Vicente), Atacadão (Cidade Nova) e Brasil Atacadista (Brava) - todos em Itajaí.
Na disputa pela melhor oferta quem ganha é o consumidor
Diferentemente da cesta básica do Dieese, o DIARINHO incorporou produtos que estão na dispensa da maioria das famílias e novas necessidades nutricionais, como grãos integrais. E também algumas “bobicinhas”, afinal, todo mundo tem direito a se deliciar com uma sobremesa no almoço de domingo ou assistir a filmes e séries comendo pipoca. Como cada estabelecimento tem parceria com fornecedores diferentes, foi coletado o menor preço de cada item, independentemente da marca, mas sempre com o mesmo peso.
Dos 30 itens pesquisados, quem ofereceu a maior quantidade de produtos pelo menor preço foi o Komprão (10), seguido do Fort (9). Brasil Atacadista e Atacadão ficaram com a medalha de bronze com seis produtos cada. E o Maxxi aparece na lanterninha com quatro produtos. A maior diferença foi constatada no milho de pipoca de 400g (185,87%), cuja marca mais barata custa R$ 2,69 no Komprão e R$ 7,69 no Maxxi. Outro item que apresentou variação de preço maior que 100% foi o achocolatado de 400g (167,22%), que pode ser encontrado no Maxxi por R$ 2,99, em contraste com a marca mais barata do Brasil Atacadista (R$ 7,99).
Outros produtos que apresentaram diferença significativa de preço foram: margarina 500g (72,68%), molho de tomate 300g (63,15%), arroz integral (63,29%) e sal (51,20%). Alguns produtos não apresentam tanta diferença de preço, mas pesam mais no orçamento doméstico por causa do volume consumido, como o leite. No levantamento do DIARINHO, a caixa com 12 litros variou 30,95%, com preços que oscilam entre R$ 45,36 (Komprão) e R$ 59,40 (Atacadão).
O leite UHT chegou a R$ 7 em julho e agora pode ser encontrado por menos de R$ 4. Para o engenheiro agrônomo Tabajara Marcondes, da Empresa de Pesquisa Agropecuária de SC (Epagri), o que mais pesou no preço, além da entressafra de inverno, foi a diminuição de oferta. No primeiro semestre, a produção nacional caiu 8,8% provocada pela estiagem de 2021, que diminuiu a safra de grãos, necessários para a alimentação dos animais. Em 2021, o Brasil produziu 25,12 bilhões de litros de leite, cerca de 500 milhões a menos que 2020.
Cesta básica foi criada no regime militar para definir valor do salário mínimo
Apesar da mudança dos hábitos alimentares dos brasileiros ao longo do tempo, a lista de produtos da cesta básica analisada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) se mantém com 13 itens, nas seguintes quantidades por pessoa: carne (4,5kg), leite (6l), feijão (4,5kg), arroz (3,6kg), pão francês (6kg), trigo (3kg), batata (6kg), tomate (12kg), café (300g), banana (7,2kg), açúcar (3kg), óleo (750g) e manteiga (750g).
O supervisor técnico José Álvaro Cardoso disse que isso se deve às origens da criação do salário mínimo, em 1978, ainda durante a ditadura militar. “Para não ter distorções regionais, preferimos manter a metodologia original, que calcula o custo dos alimentos para uma família de quatro pessoas ao longo de um mês, a fim de criar políticas públicas que adequem as necessidades básicas ao valor do salário mínimo”, explica.
Gastos com alimentação
Segundo os dados de agosto, em Florianópolis, uma família gasta cerca de R$ 6298 só com alimentação, mais de cinco vezes o valor do atual salário mínimo (R$ 1212).
José conta que, apesar dos alimentos estarem com os preços nas alturas, em agosto alguns itens começaram a cair após a entressafra, como é o caso do leite (abril-julho), que acumulou alta de 71,62% em 12 meses.
Já o preço da banana, no último ano, aumentou 36%. Mas no caso da carne, a alta foi abaixo da inflação: 7%. “É a velha relação entre oferta e procura. Se as pessoas não têm condições de comprar carne, a oferta aumenta e o comerciante segura o preço. Com o empobrecimento das famílias, muitas delas na informalidade, há mais procura por proteínas baratas, como carcaça de frango e ovos”, acrescenta.