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Nova pista do aeroporto de Navegantes é estratégica, também, para a construção civil
Obra liberaria construções na região central e estimularia turismo com novas linhas
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]



A nova pista do aeroporto de Navegantes será estratégica no desenvolvimento da cidade e trará reflexos para Itajaí. A obra mudaria o cone de aproximação dos aviões, que se alinhariam com a pista pelo mar, liberando atuais áreas restritas para a construção civil. O aeroporto ainda poderia receber aviões maiores e ter novas linhas comerciais, de passageiros e de cargas, estimulando a economia da região.
A construção de uma segunda pista não está prevista no contrato de concessão à CCR, mas a concessionária avalia a possibilidade, entre outras obras para melhoria da capacidade operacional. A expansão do aeroporto é discutida no processo de revisão do Plano Diretor de Navegantes. Os estudos técnicos indicam que a implantação da segunda pista está entre as intervenções necessárias para tornar o aeroporto mais eficiente.
O presidente do Conselho Consultivo do InovAmfri, Paulo Bornhausen, destaca que a importância da segunda pista para Navegantes tem duas vertentes. A primeira está ligada ao setor logístico, complementando um complexo naval e aéreo que movimenta toda uma cadeia de transporte. “Isso vai gerar um forte impacto na economia, na geração de empregos e oportunidades”, opina.
A outra vertente, segundo avalia, tem um impacto local para Itajaí e Navegantes. “A desativação da pista velha, que se fará necessária ao colocar a nova, abrirá todo o cone de aproximação para a construção civil, coisa que hoje não existe”, observa. No entorno dos aeroportos, as normas aeronáuticas impõem restrições para edificações na zona de aproximação e decolagem dos aviões.
“Na pista nova a aproximação será pelo mar. Isso representa que nós vamos liberar, tanto para indústria como para moradia, regiões em que hoje não se pode construir prédios, que a construção civil não pode avançar”, destaca Paulo, analisando que as áreas poderão voltar a crescer. “Esse é o ponto econômico aos nossos dois municípios que precisa ser enfatizado, além de toda a questão comercial e logística”, completa.
A nova pista é prevista com 2,6 mil metros, quase 900 metros a mais do que a atual. Com maior extensão, Paulo considera que o aeroporto pode receber aviões maiores e abrir voos diretos internacionais de carga e passageiros. “Se você tem um [Boeing] 777 que pode vir da Europa e dos Estados Unidos com carga – e nós temos cargas para importar e para exportar –, você começa a abrir linhas de passageiros com turistas”, frisa.
Construção e turismo beneficiados
Antes do processo de concessão do aeroporto, o Sindicato das Indústrias da Construção Civil da Foz do Rio Itajaí (Sinduscon) já discutia com o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), órgão ligado à Aeronáutica, para criar uma zona de exclusão ao sul da rua Silva. A mudança retiraria limitações na região central.
Segundo o presidente do sindicato, Bruno de Andrade Pereira, era esperado um posicionamento do Decea até a saída da Infraero da administração do aeroporto. A expectativa é de que o projeto da nova pista possa ajudar numa resposta favorável, considerando que mudariam as condições do cone de aproximação.
“A gente tem que criar as conversas com o novo administrador do aeroporto, mas acho que é uma tendência que, caso haja essa nova pista, é mais fácil conseguir essa zona de exclusão”, comenta Bruno.
Em Navegantes, o governo já tem conversas com a concessionária. Além de mudanças na mobilidade e urbanismo, um dos reflexos seria no turismo, a partir da criação de novas linhas, segundo avalia o secretário da pasta, Luciano Maibuk.
“Certamente criaria uma visibilidade maior, motivando investimentos voltados ao setor do turismo. Se realmente vier aumento de voos, consequente da nova pista, estimularia hotelaria e gastronomia local e regional”, destaca.
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Porto, túnel, nova pista e até BRT interligando cidades
Os novos índices urbanísticos de Navegantes discutidos na revisão do Plano Diretor levam em conta tanto o aeroporto como o porto, assim como os projetos do túnel submerso e de um bairro planejado. O secretário de Planejamento Urbano, Dagmar de Oliveira, analisa que a cidade acaba se moldando ao aeroporto, mas o local não é mais tratado como um “entrave” ao desenvolvimento.
“É um equipamento urbano de bastante relevância, não só no município, mas em toda a região, porque é o único aeroporto próximo de Blumenau e aí acaba tendo um fluxo bastante grande”, diz. Ele ressalta que a nova pista vai mudar o cone de aproximação e, com isso, os padrões urbanísticos terão de ser alinhados com o Centro Integrado de Defesa Aérea de Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta), subordinado ao Decea.
“Com o novo Plano Diretor a gente já começa a se moldar nesse sentido. Nós queremos realmente que a coisa aconteça. Nesse momento é algo que está se conversando com o próprio aeroporto para ouvir as demandas”, informa. "Para que a gente não crie problemas lá na frente, de estar liberando áreas que possam ter edifícios e que, na verdade, por conta da segunda pista, não poderiam”, explica.
Além de liberação de áreas, a cidade deve ganhar em mobilidade com a criação de novos modais de transportes. Estudos são feitos para a implantação do sistema BRT, que vai passar em frente ao aeroporto e se integrar com o projeto do túnel submerso. A cidade também deve ganhar um bairro planejado em projeto da iniciativa privada.
Obra não está entre obrigações da concessão
O aeroporto passou a ser operado pela concessionária CCR em março de 2022. O contrato de 30 anos prevê investimentos de R$ 583 milhões no período, cerca de R$ 19,4 milhões por ano. A segunda pista não é exigência da concessão, mas está entre as melhorias avaliadas para o desenvolvimento do aeroporto, segundo a empresa.
O processo está em andamento. Estudos sobre as demandas de cargas e passageiros, que podem apontar a necessidade da obra, devem ser feitos e apresentados ao governo federal. A construção é prevista no plano de expansão do empreendimento, aprovado em 2013, mas ficou fora do edital de concessão, o que gerou questionamentos de entidades e parlamentares catarinenses. No Supremo Tribunal Federal (STF), corre ação do Foro Metropolitano de Itajaí que cobra da União a inclusão da nova pista entre as obrigações do contrato.
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