O eletricista José Carlos da Silva, de 64 anos, que é negro, registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil denunciando um motorista da Transpiedade por suposto ato de racismo. Ele alega que o homem disse “vai tomar banho, senão tu não entra no ônibus”. E, ainda, ameaçou impedir sua entrada no transporte coletivo de Itajaí: “Na minha linha, você não entra mais”.
O caso ocorreu às 20h50 de terça-feira da semana passada, quando José Carlos retornava da igreja CEI. Ele pegou o ônibus para voltar para casa no bairro Fazenda. O mesmo motorista já estaria sendo grosseiro há cerca de um mês.
O eletricista, ainda, conta que pega ônibus sempre e nunca passou por nada parecido em outras linhas. “A empresa precisa colocar um motorista educado para trabalhar com o público”, sugere ...
O caso ocorreu às 20h50 de terça-feira da semana passada, quando José Carlos retornava da igreja CEI. Ele pegou o ônibus para voltar para casa no bairro Fazenda. O mesmo motorista já estaria sendo grosseiro há cerca de um mês.
O eletricista, ainda, conta que pega ônibus sempre e nunca passou por nada parecido em outras linhas. “A empresa precisa colocar um motorista educado para trabalhar com o público”, sugere a vítima.
A advogada Márcia Guimarães, presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB de Itajaí, reforçou que, além de registrar o BO na Polícia Civil, a vítima precisa fazer uma reclamação na ouvidoria da Transpiedade.
“Lembrando que não basta o boletim de ocorrência. Na hora, ele precisa representar pra que a denúncia chegue ao Ministério Público. Com a representação, o delegado vai chamar o ofensor e ouvi-lo. Depois envia o termo circunstanciado para o promotor e segue em frente o processo”, frisou.
Transpiedade tá investigando
A direção da Transpiedade informou ao DIARINHO que irá investigar, internamente, o caso denunciado pelo eletrecista.
A empresa, também, irá chamar o motorista para ouvir a versão dele sobre a denúncia. “Iremos verificar, internamente, o que ocorreu”, informou o diretor da empresa, Rodrigo Corleto Hoelzl.
Rodrigo, também, reforçou que a empresa é contra qualquer tipo de racismo ou de condutas que faltem com a verdade. “Somos contra racismo, contra fake news, contra atitudes tendenciosas. Em síntese, contra quaisquer condutas que não sejam justas e responsáveis”, alegou.
“O racismo é uma chaga que, ainda, está aberta”
O professor Bento Rosa Silva, militante dos direitos da comunidade negra, diz que é preciso continuar denunciando atos racistas em todas as instâncias da sociedade. “Vivemos um momento em que os racistas não escondem mais o racismo. Porque, desde a última campanha presidencial, ficou escancarada a posição do atual presidente em relação às minorias. Basta revistarmos a forma como ele se referia aos negros, aos gays, às mulheres, aos índios... Na presidência, não faz diferente. Então, os racistas ficaram desavergonhados. Pior: a lei anti-racismo é muito lenta, as pessoas, às vezes, desanimam de denunciar. Apesar dos pesares, temos uma lei. Ruim com ela, pior sem ela. Temos que continuar denunciando”, explica.
O professor lembra que o 13 de maio de 1888 não aboliu o racismo. “O caminho é a união, a organização, a resistência e a resiliência. Este senhor fez muito bem em fazer o Boletim de Ocorrência e denunciar na imprensa, que é nossa grande aliada. Assim, também fica provado que o racismo está presente nas diversas instâncias da nossa sociedade, não é fato isolado. Já faz tempo que caiu a máscara da cordialidade brasileira. O racismo é uma chaga que, ainda, está aberta”, pondera.