casamento no guarani
Vítima de homofobia desabafa sobre agressão
Cabeleireiro foi chamado de “viado” e levou socos, chutes e teve a mão cortada
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]

O cabeleireiro R. Z., de 39 anos, vítima de homofobia e agressões por parte de convidados numa festa de casamento na sociedade Guarani, em Itajaí, no dia 2 de outubro, resolveu falar publicamente sobre o caso. A vítima não havia se manifestado até então devido as ameaças que vinha sofrendo e por medo de represálias. O caso foi denunciado pelo coletivo Mães Pela Diversidade, que organiza um protesto para este sábado.
O boletim de ocorrência foi feito no dia 4 de outubro, bem como o exame de corpo de delito. O cabeleireiro relata que ele e seu companheiro se levantaram da mesa onde estavam acomodados com outros convidados e se dirigiram para o jardim do clube Guarani. A vítima lembra que duas das pessoas que estavam na mesa de trás também se levantaram na mesma hora, o que imaginou ser mera coincidência.
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Segundo R., no entanto, o casal foi seguido e quando chegou à área externa do clube, um dos homens tocou no ombro da vítima e o chamou de “viado”. Ao se virar para o agressor, o cabeleireiro conta que levou socos, chutes e teve sua mão cortada por um objeto não identificado. O resultado foram três costelas fraturadas, a mandíbula deslocada e marcas por todo o corpo.
“Só não foi pior porque uma das cerimonialistas do casamento viu que um dos agressores vinha com um copo quebrado em direção ao meu rosto e o puxou pelo colarinho. Não fosse ela eu poderia estar com o rosto desfigurado ou até morto”, relata a vítima.
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Além das agressões, R. diz que desde o ataque vem sofrendo ameaças pelas redes sociais, tem recebido muitas ligações de números desconhecidos e que observou diversas vezes um veículo com os vidros escuros parado por bastante tempo em frente à sua casa. “Hoje passei a ter medo de tudo. Evito ficar sozinho em casa e tenho medo até de sair sozinho na rua”, desabafa.
Investigação policial
Uma das advogadas da vítima, Franciele Martins, informa que a denúncia ainda está na fase policial pra investigação e apuração dos fatos e coleta de provas. O prazo legal é de 30 dias para conclusão do inquérito e posterior encaminhamento ao ministério Público. “Mas provavelmente haverá prorrogação deste prazo oficial, por conta do número de testemu-nhas a serem ouvidas e acusados”, comenta.
Conforme a advogada, a polícia ainda irá tomar o depoimento de todas as testemunhas, o que envolve a intimação e o agendamento, e também dos acusados e da vítima. Franciele está finalizando uma notícia-crime, peça informativa que irá ajudar na investigação policial. “Nela juntamos provas, fotos e mais detalhes da festa e de todo o ocorrido, bem como a indicação de novas testemunhas dos fatos, para ajudar na investigação”, explica.
Comissão da OAB acompanha o caso; protesto será no sábado
A denúncia também chegou à comissão de Direito Homoafetivo e Gênero da OAB/SC, que mobilizou advogados de Itajaí para acompanharem o caso, tanto nas fases de inquérito, quanto nos processos que devem ser abertos nas varas cível e criminal. O vice-presidente da comissão, Matheus Afonso Brandini, diz que a entidade não medirá esforços para que seja feita justiça.
“Quando se tem provas, o Judiciário tem sido leal aos preceitos fundamentais, onde o agressor sofre sim condenações, tanto na esfera cível [danos morais], quanto na criminal”, avalia. A OAB/SC também deve publicar uma nota de repúdio com relação ao caso. O coletivo Mães Pela Diversidade já se manifestou repudiando os ataques homofóbicos. A entidade prepara um protesto pra a manhã de sábado, em Itajaí.
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A subcoordenadora do coletivo em Santa Catarina, Telma Cristina Issa de Freitas, diz que assim que teve conhecimento do caso, a entidade começou a se movimentar para garantir que não haja impunidade. “Apesar de ainda ser crime, é muito comum a homofobia não ser tratada como tal, ainda mais quando envolve pessoas de dinheiro e com influência na sociedade”, analisou.
O protesto em Itajaí será na rua Uruguai, no centro, em frente ao salão de beleza Studio Effe, a partir das 9h. Toda a comunidade está convidada a participar. O ato vai cobrar a apuração do caso pelas autoridades e a punição dos agressores.
“Nós, as Mães pela Diversidade, estamos sempre combatendo e organizando atos de repúdio e pedido de Justiça pois não aceitamos mais que nossos filhos sejam agredidos e desrespeitados. Ele [R.] não está sozinho nessa luta contra o preconceito e a homotransfobia”, completou Telma.
Em nota, a sociedade Guarani se manifestou dizendo repudiar qualquer ato de homofobia. “Contudo, convém esclarecer que o clube simplesmente locou o espaço (salão) a terceiros, não tendo qualquer relação com os fatos divulgados, sendo que toda e qualquer eventual responsabilidade pelo ocorrido, deverá ser atribuída ao locatário (inquilino)”, informa.