Cinco vereadoras de Itajaí foram alvo de ataques machistas e comentários depreciativos feitos por uma conta apócrifa no Facebook. O perfil Xau Volnei Ozonho se intitula como “personagem de crítica política ácida de Itajaí”. Nas postagens, as parlamentares Aline Aranha (DEM), Anna Carolina Martins (PSDB), Célia Regina da Costa (MDB), Christiane Stuart (PSC) e Hilda Deola (PDT) foram listadas em “enquetes” sobre quem seria a vereadora “mais baranga” e qual a “milf favorita”.

O procurador-geral do Legislativo, Fernando Pegorini, iria discutir o assunto ainda na sexta-feira com o presidente da Câmara, vereador Marcelo Werner (PSC), para definir medidas jurídicas contra o perfil. Outros parlamentares também são alvo de montagens e postagens satíricas e homofóbicas. As vereadoras atacadas devem formalizar um boletim de ocorrência conjunto pra que o caso seja apurado.

A questão das mensagens machistas foi repudiada em plenário, na quinta-feira, pelas vereadoras. Anna Carolina informou que serão tomadas providências em nome de todas as mulheres e cobrou que atitudes machistas, como as postadas,, sejam repudiadas também pelos homens. Anna destacou que a pessoa responsável pela página se valeu do anonimato pra atacar as mulheres.

“Isso não é uma brincadeira saudável. Isso não é uma opinião sobre nosso trabalho como pessoas públicas. Tão longe se trata de uma crítica construtiva. É tentativa de desmoralizar mulheres, sim”, avalia. “Nós não somos modelos. Nós não queremos ser avaliadas por conta da nossa aparência”, completou.

A vereadora Hilda Deola relatou que só soube das publicações na quinta-feira e criticou as pessoas que se escondem atrás de computadores para atacar os outros. “Eu, as vereadoras e nossos gabinetes estamos apurando a situação e decidindo em conjunto as medidas que serão tomadas para que essa situação e a pessoa, que fez isso, não fique impune”, informou. Hilda considerou que o ataque às parlamentares também acontece com muitas outras mulheres em seus ambientes de trabalho e outros locais. “A invalidação do trabalho de uma mulher, apenas pelo fato dela ser mulher ou por suas características físicas, é uma prática machista ainda muito recorrente”, lamentou.

A vereadora Christiane Stuart destacou repudiar qualquer tipo de publicação discriminatória e confirmou que medidas judiciais serão tomadas contra o autor. “Utilizou o Facebook de forma anônima para fazer uma enquete e categorizar as vereadoras de forma machista e incoerente, pois, em nenhum momento, comentou sobre os nossos trabalhos, projetos e a nossa vida pública”, disse.

Para Aline Aranha, o teor das mensagens a deixou constrangida e gerou um desgaste emocional. Em seu primeiro mandato como vereadora, ela lembrou que esses atos machistas já eram percebidos durante a campanha. “É tão difícil pra mulher entrar na política que, só quem passa por essa situação, sabe”, disse.

Aline ressaltou que o autor deve ser responsabilizado, considerando que as postagens acabam sendo espalhadas e gerando ainda mais repercussão. “Têm tantas coisas boas que essa pessoa poderia fazer pra ajudar o próximo, mas prefere fazer coisas que virem motivo de piada”, completa.

Liberdade de expressão

A manifestação das vereadoras na câmara e a repercussão do caso foram tratadas com ironia e piadas pelo autor da página. Ele alegou liberdade de expressão e que o perfil só faz “zuação”. O perfil está ativo desde o final do ano passado. Antes das eleições, as postagens eram feitas numa página derrubada durante a campanha.

O presidente do Legislativo, Marcelo Werner, diz que está acompanhando o caso. “Embora entenda que a liberdade de expressão é um princípio fundamental e que deve ser defendida por toda a sociedade, esse tipo de comportamento não pode ser tolerado em hipótese alguma. São postagens que violam a dignidade e constrangem”, diz.

Ele disse que tem tomado medidas pra judicialização dos fatos. “Mais do que afetar a figura das parlamentares ou da instituição Câmara de Vereadores, prejudica a figura da mulher, que tanto tem se destacado no debate político e no exercício da cidadania”, concluiu.