“O medo de morrer foi constante,” narra Alfabile

Fotógrafo conta a descoberta da doença, os dias na UTI e como vive a recuperação

Uma semana após ganhar alta do hospital Marieta, de Itajaí, onde passou 16 dias internado se tratando do coronavírus, o fotógrafo Alfabile Santana, 34 anos, compartilhou com o DIARINHO os momentos de incerteza, medo e de superação que viveu ao entrar pro universo de mais de 416 mil moradores de Santa Catarina contaminados desde o início da pandemia.

O fotógrafo destaca a força de viver, o carinho, as orações de amigos e a dedicação da equipe médica e de enfermagem do hospital como os responsáveis pela sua recuperação.

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A entrevista com o Alfabile Santana serve de inspiração aos pacientes da doença e aos que estão saudáveis para que tenham os cuidados necessários para evitar a contaminação.

DIARINHO – Como você descobriu que estava com covid-19?

Alfabile: Tudo começou com um banho de piscina ao anoitecer. Estava muito frio. No dia seguinte acordei com dor no corpo, mal estar, um pouco de febre. Depois a garganta inflamou um pouco. Esses sintomas pareciam de um resfriado e duraram quatro dias. Depois desse primeiro momento teve um dia que eu acordei super bem e fui fotografar o amanhecer. Na volta fui direto pra piscina, novamente estava muito gelado e fiquei por quase uma hora ali.

DIARINHO – Quando você percebeu que precisava de um médico?

Alfabile: Os primeiros sintomas pareciam de resfriado, mas com o passar dos dias foi agravando até atacar meu sistema respiratório. Na primeira vez que fui pro CIS, pelos sintomas, que pareciam de resfriado, fiquei em observação com duas pessoas positivas para covid-19 e isso foi uma forma de exposição também. Recebi a medicação Azitromicina, Crisped,  e já marquei o teste para cinco dias após essa consulta. Tomei os antibióticos por cinco dias. Nesse meio tempo, fui em um laboratório perto da minha casa e paguei por um teste de sangue particular. Uma hora depois veio o teste negativo para covid. No quinto dia, retornei ao CIS me sentindo mal, porém, não estava com problemas respiratórios. Fiz exames de sangue e urina – o de urina estava alterado. Voltei pra casa com novas medicações. Perto de uma hora da manhã, informei o meu marido que eu estava com bastante dificuldade de respirar e, mesmo com medo, precisava que ele me levasse no CIS. Fui direto à urgência respiratória e coletaram sangue pra exames. No final do dia, conseguimos vaga no Marieta, e fui transferido. Até então, tinham sido três testes que tinham negativado. Já no Marieta fiz o teste do cotonete e esse deu positivo pra covid.

DIARINHO – Como você se sentia psicologicamente e fisicamente?

Alfabile: Meu psicológico estava abalado com a incerteza do diagnóstico, com as possibilidades que surgiam dia a dia de poder estar com covid e todas as implicações. Fisicamente eu estava ficando cada vez mais debilitado. A partir daí o inferno começou.

DIARINHO – Você chegou a pensar na morte?

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Alfabile: Eu subi para o quarto e, no segundo dia, a saturação do meu oxigênio começou a cair. Eu já estava com bastante dificuldades de respirar. A partir daí, depois de ter usado a máscara de ventilação não invasiva, que foi bem traumatizante, porque eu estava com bastante dificuldade de respirar, o medo de morrer foi constante a cada hora do dia. No segundo dia precisei ser internado na UTI e pela situação, mesmo com toda a fé e vontade de viver que tive, no fundo, o medo de morrer que me motivou a vencer os outros medos, superar todas as privações alimentares, a vergonha…

DIARINHO – O que você lembra da UTI?

Alfabile: Enquanto eu era transferido para a UTI alguém me falou: "Alfabile, fica tranquilo que tu vai perceber que a UTI é muito melhor e mais segura de que qualquer outro lugar. Se tem um lugar que as pessoas têm chance de viver é na UTI". Nunca vou esquecer isso. Ainda no quarto tive um atendimento “fora da curva”, de algumas pessoas como a enfermeira Cris, a fisio Adri e outras que não recordo o nome. Todas incrivelmente humanas e de uma empatia surreal. Lembro de ouvir a voz da doutora Alexandra, que de forma muito carinhosa e cheia de esperança, me dizia: “Sou a médica da UTI e vamos cuidar de você. Não se preocupe que tudo vai ficar bem”. Essa frase ecoa até hoje; tive uma experiência digna de filme com a equipe da UTI. As enfermeiras e enfermeiros que cuidaram de mim foram parte de toda a força que eu precisei para me recuperar. […] Eu cheguei bem perto de ser entubado. Teve momentos em que o único paciente que não estava entubado era eu, todos os outros nove pacientes estiveram entubados na UTI. A equipe era incrível... Lembro que quando fui pro Marieta minha mente criou um desejo tão grande de beber suco que foi surreal. Esse desejo percorreu os dias e já na UTI, de tanto eu comentar com todos, teve um dia que mandaram um suco de laranja, parecia aqueles sucos de pozinho, mas quando dei o primeiro gole, eu chorei. Algo tão simples que, naquele momento, foi tão valioso e importante pra mim. Nos últimos dias, o nível de oxigênio que eu precisava foi sendo reduzido até chegar em três litros e poder trocar a máscara pelo cateter. A doutora Alexandra me deu alta. Estou em prantos lembrando de toda a experiência que vivi.

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DIARINHO – Depois da alta a recuperação continuou em casa?

Alfabile: Eu já havia vencido a morte, mas tinha plena consciência que a dedicação que tive até então, eu teria que ter em casa novamente, para não regredir. Estou no oitavo dia de alta e cada dia que passa me dedico mais em fazer os exercícios de respiração, extensão pulmonar.  Fui entendendo minhas limitações e meus avanços. Quarta-feira  me senti confiante e capaz de subir as escadas que levam até a laje da minha casa. Fiz fotos com meu drone Hórus, e foi libertador.

DIARINHO – Qual a mensagem que você deixa para as pessoas que não tem receio da doença?

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Alfabile: Estamos lutando contra um inimigo invisível, mas muito traiçoeiro. O vírus age de maneira distinta em cada pessoa. Para uns não faz nada, para outros, como eu, causa danos imensos a ponto de quase matar. E, para muitas pessoas, ele é implacável, e mata! Digo isso porque senti na pele, sei que,  às vezes, usar a máscara enche o saco... Todas essas informações nos deixam com medo, raiva e tantos sentimentos, mas nada é pior do que se ver à beira da morte, sem ar, dependendo de outras pessoas para te lavar, te alimentar, de aparelhos para te manter respirando e tantas coisas que podem acontecer com quem é infectado. Ah, e pior, quanto mais gente for infectada, mais os hospitais vão superlotar e mais pessoas vão morrer sem ter a chance de se tratar num quarto, numa UTI, num posto de saúde.



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