Sabendo do passado do idoso, a sobrinha argumenta que tem preocupação porque V. ainda estaria convivendo com a criança. O idoso vive numa clínica particular de repouso na região, administrada pelos pais da menina. Mesmo com a denúncia de estupro feita pelos pais, o idoso permanece na instituição porque seria uma dos clientes que paga mais caro pelo serviço, segundo alega a sobrinha.
Ela se envolveu na situação após levar a mãe pra visitar o irmão idoso na casa dos donos da clínica, em Barra Velha. Na ocasião, a clínica funcionava em Barra Velha e estava em reforma. O idoso, num acordo com a família, ficou morando na residência dos proprietários por cerca de um mês, durante a reforma do lar.
“Uma das vezes que eu estive lá, percebi alguma coisa de errado e aí eu conversei com os pais da criança. [Disse] ‘gente não deixa a criança tão perto dele assim, não deixa entrar no quarto dele, ele é um senhor idoso que fica sozinho [no quarto]’”, narra a sobrinha.
Alguns dias após o alerta, ela disse que os pais da menina a procuraram pedindo ajuda e falando do estupro. Em boletim de ocorrência registrado no dia 22 de julho, em Itajaí, M.F., de 46 anos, pai da menina e dono da clínica, relatou que, enquanto o idoso morava em sua casa, “o mesmo molestava a sua filha de quatro anos, em formas de beijos e passando a mão”.
Um dia antes do BO, conforme ele registrou na polícia, a mãe da criança notou uma irritação na genitália da filha ao trocar a menina. Em exame com uma pediatra, a médica teria apontado vestígios de uma “possível manipulação da genitália”. A sobrinha do acusado afirma que pagou o exame médico que teria comprovado o estupro.
Ela diz que os pais também acreditam que houve o crime. “Porém, eles não querem manchar o nome da clínica e não querem perder o paciente que é o que mais paga hoje na clínica”, acusa.
A sobrinha afirma que decidiu trazer o caso à tona pra que a criança seja tirada da convivência com o tio. Ela também está cobrando uma medida do ministério Público. Mônica diz haver um jogo de empurra na justiça porque o estupro ocorreu em Barra Velha e os pais hoje moram em outra cidade, sendo que nenhuma comarca toma providências.
“Eu só quero que o pedófilo não fique impune mais uma vez, que a justiça seja feita e que ele não faça nunca mais isso com ninguém”, completa.
Dono de clínica diz que está sofrendo perseguição
Após saber da divulgação da denúncia, o dono da clínica encaminhou áudio pra filha do idoso, que é madrinha e prima da empresária. Nas mensagens, encaminhadas pela denunciante, ele rebate as acusações e promete processar a sobrinha do idoso, “que não estaria interessada em punir o tio, mas em prejudicar a clínica”.
Ao DIARINHO, M. preferiu não passar nenhuma informação sobre o andamento do caso porque o procedimento corre em sigilo e envolve dois incapazes – a criança e o idoso. Ele disse que teve reunião com a promotora nessa semana e que o caso está tendo o devido acompanhamento dos órgãos competentes.
M. ressaltou que não há provas das acusações e que está sofrendo uma perseguição por suposta vingança. “Ela está querendo me prejudicar”, afirma. O pai da menina ainda destacou que nunca deixaria seus filhos em situação de vulnerabilidade. “Jamais deixaria alguém abusar deles”, frisou.
A situação de suposta vulnerabilidade da criança é apurada em procedimento do ministério público, na curadoria da Infância e Juventude, após a denúncia da empresária.
Depois de seguidos pedidos de informações pela empresária, a promotoria respondeu, em despacho de setembro, que o acompanhamento é feito numa comarca em relação à proteção da criança e, em Barra Velha, é apurada a questão criminal ligada ao estupro.
“A Constituição e o Estatuto da Criança e do Adolescente também preservam a intimidade da infante envolvida, não se podendo permitir acesso ao andamento à pessoa que não possua nenhum vínculo familiar com a pequena interessada ou que não seja integrante de órgão da rede protetiva”, explicou a promotora no despacho.
Denúncia de estupro está em investigação
De acordo com o delegado Eduardo Ferraz, da polícia Civil de Barra Velha, o inquérito criminal está em andamento. Ele informou que já solicitou a entrevista da vítima através de psicológa e que, por ser criança, a pequena deve passar por atendimento com a psicóloga policial, pela delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (Dpcami) em Itajaí.
“A gente já fez a solicitação, já está agendado mas ainda não foi realizado. Entra na fila de espera do pessoal da Dpcami de Itajaí”, informa. “Depois do relatório da psicóloga, do atendimento da criança, a gente vai dar sequência na oitiva do suspeito e nas outras apurações que forem necessárias”, completou.
O DIARINHO pediu informações da promotoria sobre o procedimento administrativo, mas ainda não obteve resposta.