Semasa denuncia fraude no laudo divulgado pela OAB que “condena” a água de poços da Brava
A Aresc, agência reguladora de serviços públicos de SC, atestou que água dos poços da Brava é mesmo potável
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
O diretor Geral do Semasa, Diego Antônio da Silva, registrou uma notícia crime nesta sexta-feira pedindo que a polícia Civil investigue supostas fraudes no laudo apresentado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seccional de Itajaí, e que colocou em xeque a qualidade da água captada numa antiga fábrica de água mineral na praia Brava, em Itajaí. A água, captada de poços artesianos numa propriedade particular, está sendo clorada e depois distribuída pelo Semasa aos itajaienses desde o início da crise de abastecimento. A diretoria do Semasa concedeu uma entrevista coletiva à imprensa, na noite dessa sexta-feira, pra denunciar indícios de fraudes no laudo divulgado pela OAB. O laudo apresentado pela OAB aponta índices de coliformes fecais acima do permitido, o que tornaria a água imprópria para consumo, mas não deixa claro onde a água supostamente contaminada foi coletada. A amostra de água teria sido entregue por “populares” , segundo a entidade, mas não informa como, onde ou quando foi coletada. Para a equipe do Semasa, o laudo não examinou a água dos poços da Brava e foi fraudado para uma armação com fins meramente políticos. Durante a entrevista à imprensa a equipe do Semasa apresentou laudos recém-divulgados pela agência Reguladora de Serviços Públicos de Santa Catarina (Aresc), que fiscaliza o Semasa, e que dão conta que a água coletada nos poços da praia Brava não tem contaminação por chorume ou coliformes fecais. A OAB denunciou que o local poderia estar sendo contaminado pelo chorume do cemitério Parque dos Crisântemos. Pelo laudo da agência, contudo, a água dos poços é potável. “Não é só o Semasa e o laudo do laboratório cadastrada e credenciado pelo Semasa para fazer testagens frequentes que dizem que a água dos poços da Brava é potável. Quem está falando isso é agência reguladora do estado de Santa Catarina. Isso traz à tona essa fake news de grupos de WhatsApp que muito preocupou a cidade nos últimos dias,” disse o diretor de Saneamento do Semasa, Vitor Valente, durante a entrevista à imprensa. Vitor ainda frisou que a água coletada no local passa pelo processo de cloragem antes de ser distribuída nos postos de coleta da cidade. Segundo a notícia-crime, o Semasa recebeu com surpresa o laudo divulgado pela OAB sobre a qualidade da água. Isso porque ele teria sido feito justamente no mesmo laboratório que já atestou que a água da antiga fábrica de água mineral K2, onde tem sido coletada a água, é potável. Quando o Semasa questionou o laudo apresentado pela OAB e assinado pela DJ Saneamento, a direção do laboratório informou ao Semasa que aquela coleta de água examinada no laudo da OAB não foi feita pelos técnicos do laboratório. O teste, segundo o laboratório informou ao Semasa, foi feito a pedido de clientes particulares que trouxeram amostras até o laboratório e depois enviaram áudios de WhatsApp solicitando que o responsável pelo pedido de testagem fosse a “OAB”. O empresário Jorge Luiz Isolani, proprietário da DJ Saneamento, contou ao Semasa que o material foi entregue por um cliente em dois recipientes, sendo um comum litro de água e o outro com 150 ml de água. O maior estava escrito “poço” e o menor “caixa Nossa Senhora das Graças”. O recipiente menor, segundo Jorge, tinha resquícios de cloro e estava potável. O cliente pediu, então, pra colher material do vidro maior e fazer a análise somente daquele recipiente. Segundo Jorge, o cliente solicitante não soube informar o local exato da coleta daquela amostra de água. O diretor do Semasa, Diego da Silva, ainda relatou na notícia-crime, que o solicitante informou ao laboratório que a “água era de um poço existente na Brava”. Solicitante participa de campanha de opositor ao prefeito Volnei O diretor Diego também narrou à polícia que o cliente que solicitou as análises da água sem origem esclarecida pra DJ Saneamento seria o conhecido Deco. Ele também solicitou, através de áudios de WhatsApp (anexados à denúncia), que a empresa informasse no laudo que o pedido de teste foi da ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Itajaí, afirmando que a entidade seria, na realidade, a verdadeira solicitante. O pedido foi feito por um número de WhatsApp. Só que o laudo do laboratório já teria sido cadastrado em nome do comerciante e ex-candidato a vereador Francisco de Assis Reinaldo da Silva, o Ceará do Celular, que segundo as redes sociais é apoiador da coligação do candidato Robison Coelho (PSDB). Ceará teria levado as amostras ao laboratório. O número do telefone que manteve contatos através de mensagem com o laboratório seria da empresa Wave Cleaner do Brasil. A empresa ganhou as manchetes de jornais durante a pandemia quando foi autuada pela vigilância Sanitária e investigada pelo ministério Público, acusada de falsificação de álcool em gel. A Wave é do mesmo grupo econômico da empresa Canaveral, também com sede Itajaí. Diante do que chama de indícios de que houve armação de um laudo fraudado, o diretor do Semasa fez a notícia-crime à polícia Civil pedindo que investigue supostas irregularidades no laudo divulgado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Diego também enviou cópia da notícia-crime ao presidente da OAB estadual, Rafael de Assis Horn, para tomar ciência do ocorrido. O proprietário da DJ saneamento foi arrolado como testemunha do caso. As conversas de WhatsApp entre o laboratório e solicitante dos exames foram transcritas em ata notarial e entregues à polícia. Se limitou a encaminhar a denúncia Em nota, a subseção da OAB em Itajaí, informou que recebeu a denúncia acompanhada de um laudo sobre a qualidade da água distribuída para a população da cidade. “Cumprindo o seu papel institucional, também levando em consideração a gravidade do fato e bem estar da comunidade, a entidade encaminhou a denúncia e o documento aos órgãos competentes para apuração dos fatos”, afirmou a OAB. Sobre as denúncias do Semasa, a OAB diz que a “subseção de Itajaí tomou conhecimento das acusações infundadas contra a instituição e seu presidente através da imprensa. Repudia veementemente todas as acusações e informa que cumpriu o seu dever de levar ao conhecimento dos órgãos competentes a denúncia recebida para apuração”, disse a entidade. A OAB ainda diz que tomará as medidas necessárias administrativas e judiciais cabíveis. O DIARINHO não teve retorno do empresário André Gustavo Sandri Silva, o conhecido Deco, sobre o pedido ao laboratório sobre a troca de nomes de solicitantes no laudo da água. Ele não respondeu à reportagem pelo Whatsapp. Francisco de Assis Reinaldo da Silva, o Ceará do Celular, que aparece no laudo como o real solicitante da análise ao laboratório, também não respondeu as mensagens da reportagem. O comerciante Ceará foi candidato a vereador em 2012 pelo PP. Em vídeo publicado no Facebook na última quinta-feira, Francisco aparece pedindo votos pra uma candidata a vereadora do PSL e pra coligação do candidato a prefeito Robison Coelho (PSDB). Para o diretor do Semasa, a divulgação do laudo fake foi intencional e quis causar pânico num assunto tão grave como o abastecimento de água. “Acredito que tenha cunho político essa denúncia. Sei que o Deco é filho do Zé Grandão, o proprietário da empresa Canaveral, mas a polícia é quem vai investigar e esclarecer tudo.” Cícero Zucco, chefe de gabinete do vereador Robison Coelho (PSDB) e que atua na coordenação da campanha do candidato a prefeito, também foi ouvido pela reportagem, e refutou qualquer motivação política. Ele afirmou que o laudo divulgado pela OAB jamais foi usado na campanha política de Robison. “Nem tivemos acesso ao documento. Vamos esperar a investigação da denúncia para depois nos manifestarmos a respeito,” completou.