A polêmica da Oktoberfest no parque Beto Carrero, em Penha, ganhou mais um episódio esta semana. Em “carta de desabafo”, assinada pelo filho de Beto Carrero, Alexandre Von Janke Murad, o empresário disse que a proposta nunca foi substituir a festa alemã de Blumenau, que a divulgação do evento com personagens com sotaque alemão não foi para provocar os blumenauenses e que vai manter a festa mesmo com a proibição do estado, mas só com a programação diurna. O ministério Público pede o cancelamento da festa.

A realização do evento dentro do parque Beto Carrero foi barrada pelo governo do Estado, após a secretaria estadual de Saúde considerar que a atração contrariava as portarias vigentes das normas contra o coronavírus. De acordo com o estado, a festa seria uma atividade diferente das previstas na norma que permitiu a reabertura do parque e que o formato do evento previa programação noturna até às 23h, fora do horário normal de funcionamento do parque.

O anúncio do evento pelo parque também não pegou bem para os organizadores da Oktoberfest de Blumenau, onde a festa foi cancelada justamente por causa da pandemia. Ao usar os personagens Fritz e Frida pra tentar explicar a realização do evento, simulando uma conversa com um carregado sotaque alemão, a confusão só aumentou. A brincadeira chegou a ser vista como provocação e uma forma de ironizar as críticas. 

Em sua carta de desabafo, Alexandre diz que a empresa costuma ter uma linguagem divertida e descontraída na comunicação com o público, pensando principalmente nas crianças. “Às vezes falamos de coisas sérias brincando e acabamos sendo mal interpretados”, explicou. “Nossa brincadeira com o sotaque alemão não foi provocação pra ninguém. Minha família inteira por parte de mãe é de Blumenau, até meus filhos nasceram lá”, completa.

O empresário lembrou as dificuldades do setor de eventos durante a pandemia e que o parque, mesmo após fechado por três meses, não demitiu ninguém. “Hoje, estamos muito felizes de poder proporcionar o trabalho digno e sustento aos músicos, bandas e fornecedores que, infelizmente, esse ano não puderam estar presentes na Oktoberfest de Blumenau, pois com grande pesar não poderá acontecer (e isso não foi culpa de ninguém)”, afirma.

Ele destacou que a Oktoberfest no Beto Carrero é uma festa temática com música ao vivo e gastronomia típica. “Em nenhum momento tivemos a intenção de substituir a Oktoberfest de Blumenau”, alega. O empresário ainda defendeu que o parque tem respeitado as normas preventivas desde a reabertura. “Em nenhum momento s estaríamos contra qualquer normativa da saúde. Muito pelo contrário, a Oktoberfest do Beto Carrero é um grande exemplo de como podemos seguir em frente com muita segurança”, completou.

Apoio do prefeito continua

Mesmo sem autorização do estado, a Oktoberfest no Beto Carrero é anunciada desde o final de setembro, tendo apoio do prefeito de Penha, Aquiles da Costa (MDB). Ele chegou a divulgar um vídeo com os diretores do parque convidando as pessoas a participarem. Na semana passada, o prefeito defendeu que o evento seria apenas um “festival gastronômico”, sem aglomeração, com as pessoas sentadas, longe dos moldes da Oktober de Blumenau.

Ontem, o prefeito Aquiles voltou a frisar que a apoia a decisão do parque Beto Carrero em manter o evento gastronômico. “Tem que ter o evento, o parque não está fazendo nada além de funcionar”, diz. Aquiles diz que a prefeitura fiscaliza o parque, com relatórios diários. O parque também atua como agente fiscalizador, ninguém entra no parque sem máscara, por exemplo”, completa

Aquiles diz que agora é o momento de tratar outros problemas causados pela covid. “Precisamos tratar outra doença que foi deixa em decorrência da covid, que é o desemprego. A cidade de Penha foi uma das mais atingidas. Eu vi muitos empresários e gestores tendo que fechar o próprio negócio. Agora as pessoas precisam voltar a trabalhar”,  conclui.

MP pede o cancelamento da festa

Apesar de o parque ter mantido apenas a programação durante o dia, o ministério Público pede o cancelamento da festa, em ação civil pública que apura o possível descumprimento das normas sanitárias. A ação foi aberta na sexta-feira, quando o estado também deu parecer proibindo a realização da festa. A promotoria ainda espera a decisão da justiça.

De acordo com o promotor Luis Felipe de Oliveira Czesnat, de Balneário Piçarras, além do horário estendido para depois do previsto no alvará, o empreendimento não apresentou as licenças ambientais para a realização do evento, bem como autorização pra montagens dos palcos e dos equipamentos de som ou documento que ateste que o barulho não vai provocar poluição sonora e afetar os animais do zoológico.

“É nítida a má-fé do requerido, vez que já havia fixado previamente a data da aludida festa, realizado a contratação de bandas e feito a divulgação do evento, mesmo sendo sabedor das medidas que implicam em restrições rígidas de contato social”, anota o promotor na ação. Ele destaca que as normas sanitárias vigentes ainda não permitem o evento proposto pelo parque e que a festividade não se enquadra como “evento social”, modalidade liberada em regiões com grau de risco alto de covid-19.

“Não resta dúvida de que os impactos sociais e econômicos da pandemia estão sendo sentidos ao redor de todo o mundo, todavia, deve-se considerar que o evento da Oktoberfest no Parque Beto Carrero tem potencial para juntar muitas pessoas, sendo um local propicio à propagação do vírus, o que pode trazer um impacto negativo ainda maior na economia do município e na política adotada pelos governos Federal e Estadual, além de acarretar em efeitos desastrosos no sistema de saúde”, analisa a promotoria.