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BC 55 anos | Das antigas: Avenida Brasil foi a primeira a receber postes em Balneário Camboriú

Até os anos 60, a principal rua comercial da city se chamava avenida do Telégrafo

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Quem gosta de desfilar pela Avenida Brasil para conferir as vitrines cheias de roupas e sapatos de grife não pode imaginar que há 50 anos, o local era apenas um corredor de transmissão telegráfica, num tempo em que telefone e TV eram coisa rara em Balneário. Sem ter o que fazer depois que o sol se punha, o que tirava as pessoas de casa nos anos 60 era o cinema. Percebendo o potencial da cidade para o lazer, Eduardo Delatorre vendeu a serraria que tinha em Lages para investir na construção civil e abriu o Cinerama em 1967, com 1200 lugares. “A população não chegava a 10 mil pessoas, e mesmo assim, o cinema vivia lotado, com fila na porta dependendo do filme”, conta o herdeiro Fernando Delatorre, 74, que no ano passado abriu o Museu da Imagem e do Som (MIS) com relíquias dos áureos tempos em que a sua família tinha três salas de cinema. Fora tudo o que ele descobre em feiras de antiguidades mundo afora. “Minha mulher já disse, ou eu ou essas tranqueiras”, brinca Fernando, que construiu um prédio de seis andares para acomodar sua coleção. O empresário viveu quase toda a vida entre as avenidas Brasil e Central. Ele chegou com a família em 1958, quando seu pai comprou uma área grande perto da praia, que não era muito valorizada naqueles tempos. O primeiro investimento foi a construção do edifício Arlene, em 1960, que tinha três andares. “Foi o primeiro edifício de material para alugar apartamento para turistas,” afirma. A família também morava ali. “Sou da época em que a avenida Atlântica se chamava Beiramar e a Univali se chamava Fepevi, só não me formei ali porque ainda não era reconhecido pelo MEC”, revela. Fernando conta que o pai participou do movimento de emancipação do município, que incluía Higino Pio, o primeiro prefeito, muito conhecido pelo armazém de Secos & Molhados, onde a galera comprava antes dos supermercados. Higino teve a carreira política e a vida ceifada por uma denúncia na época do regime militar. “Quando Higino sumiu daquela forma foi uma comoção geral. A sua família era muito conhecida e ele muito generoso. Foi um grande trauma para a cidade”, recorda. O Hotel Pio foi inaugurado nesta época, na avenida Central.

Censor batia ponto

Fernando ainda lembra do primeiro filme que deu início a saga do cinema na cidade, em 7/07/1967: “A epopeia dos anos de fogo”, um filme russo de guerra. Nesta época, ele estava terminando a faculdade de Direito, na UFSC, na capital, e mesmo antes de ser inaugurada a BR-101, ele preferia encarar a estrada todo dia para ajudar o pai à noite no Cinerama. “Eu fiz de tudo: fui porteiro, bilheteiro, gerente e tocava a bomboniere. O cinema era tão conhecido que até a Vera Fisher, Miss Brasil de 1969, passou por lá”, relata. Um dos filmes de maior público foi “Doutor Jivago”, que teve que abrir sessão extra para dar conta da demanda. Outra coisa que Fernando guarda desta época são os certificados que a secretaria de censura do regime militar exigia de cada filme exibido, mesmo para crianças. “Não podíamos colocar um pôster na frente do cinema se não tivesse o carimbo do censor. Quem exibisse os filmes também era obrigado a ter uma carteirinha, eles controlavam tudo”, recorda.

Muito namoro começou no Auto-Cine

A paixão pela Sétima Arte fez a família inovar mais uma vez abrindo um Auto-Cine na cidade, no bairro dos Estados, em 1973. O Auto Cine imitava o modelo americano e consistia em um estacionamento gigante com uma telona, onde se assistia filmes de dentro dos carros. Também havia um serviço de drive-in, parecido com food trucks, que atendia principalmente casais de namorados que esperavam a luz apagar para trocar carinho no escuro. O Auto-Cine tinha capacidade para 350 veículos e funcionou até o final dos anos 80, quando o videocassete fez com que as pessoas passassem a assistir os últimos lançamentos do cinema em casa. Mas antes do videocassete, quando nem se imaginava que o cinema passaria a ser exibido dentro dos lares, Fernando abriu mais um cinema, o único que ainda se mantém, mas agora, como um local de eventos: o Cine Itália, pertinho da avenida Central, na rua 700. “Ainda me lembro que foi um sucesso a abertura do cinema, pois inauguramos com o filme “ET”, que havia ganhado Oscars e foi um sucesso de público”, afirma. O Cine Itália funcionou como cinema até 2006 e depois abrigou festivais locais.

MIS celebra a Sétima Arte de forma criativa e inovador

Como bom colecionador, Fernando não jogou nada fora. Além dos três enormes projetores herdados dos três cinemas, que estão expostos no saguão do MIS, ele adquiriu mais de 100 projetores de todos os tipos e épocas. O museu vertical também tem duas salas de exibição, uma com 25 lugares e a outra com 50, onde são exibidos filmes raros de cinema mudo, como Charles Chaplin e “O Gordo e o Magro”. Fernando também tem cerca de seis mil trailers de filmes que exibiu e também doados pelo cinema Arco-Íris do shopping Atlântico. A quantidade de pôsteres ele nem sabe, pois ainda não conseguiu um lugar para expor, já que sua coleção não se limita a equipamentos de cinema. Cada andar do museu é uma surpresa. No último está sua coleção de moedas e selos. No quinto andar, ele conta a evolução da tecnologia da comunicação, dos fonógrafos às vitrolas, das máquinas de escrever aos primeiros computadores, videocassetes, dvds, cd players, câmeras fotográficas e rádios. O saguão, onde está uma réplica do fusca Herbie, de 1969, foi inspirado nos cinemas culturais de Sampa. “Como viajo muito, de cada lugar trouxe uma ideia, uma forma de expor, uma brincadeira, tudo para que o museu tivesse caráter educativo e lúdico”. A saída de emergência é genial, mas não vou dar spoilers. A satisfação é garantida! Quem mais aproveita este acervo são as escolas públicas de cidades vizinhas, que levam estudantes toda semana conhecer a história da comunicação ao vivo. “Seria interessante que o poder público fizesse uma via cultural. Já imaginou um calçadão com artistas de rua, cafés, museu e teatro onde a vida cultural da cidade floresceu?” Fica a dica, prefeito Fabrício.

Você sabia?

Telegrama era uma correspondência urgente e sigilosa usada em época de guerra, e depois passou a ser usado para parabenizar alguém pela formatura ou casamento, com a vantagem da mensagem chegar no mesmo dia. O telegrama só caiu em desuso com a chegada dos computadores no começo dos anos 90 e sepultado de vez com a popularização da internet e das redes sociais. Esta fama de confiabilidade e rapidez inspirou o aplicativo Telegram, cujas mensagens são criptogradas e tão difíceis de serem hackeadas, que oferecem 300 mil dólares a quem realizar a façanha. Até hoje, ninguém levou a bolada.

Serviço

MIS – Rua 700, 44, centro. Em frente ao Cine Itália, quase esquina com avenida Central. Horário de funcionamento: de terça-feira a domingo, das 13h às 18h. Contato para visitas em grupo: (47) 3363-5787 e 3367-0988. Ingresso: R$ 20 e R$ 10 (meia).




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