Sob argumentos de que confundiram o artista com uma pessoa em surto psicótico, guardas municipais e socorristas do Samu de Caxias do Sul (RS) pegaram à força o bailarino Igor Cavalcante Medina, 26 anos, o enfiaram numa camisa de força, o levaram até um pronto-atendimento 24h e o deixaram por lá sedado e amarrado durante oito horas. Um detalhe: Igor fazia uma apresentação em praça pública no festival 8º Caxias em Movimento, autorizado pela prefeitura.
Igor, que faz parte da companhia Municipal de Dança, fazia a apresentação “Fim”. A performance era de dança e de texto, que ironicamente fala sobre a brutalidade cotidiana e as violências físicas e ...
Igor, que faz parte da companhia Municipal de Dança, fazia a apresentação “Fim”. A performance era de dança e de texto, que ironicamente fala sobre a brutalidade cotidiana e as violências físicas e psicológicas.
“Será que já não somos nada mais além de um mero pedaço de carne incapaz de sentir, incapaz de resistir, incapaz de se rebelar?” e “Mata, espanca, xinga, mutila, esquarteja, destrói, sangra, mas isso é só se for pobre, preto e sofredor” foram algumas das frases durante a declamação.
A alegação da chefia da Guarda Municipal de Caxias é que o artista foi confundido com uma pessoa em surto psicótico e ao invés de responder às abordagens dos guardas e dos socorristas do Samu, ficou soltando o que foi considerado “frases filosóficas”.
Sedado à força
O caso chegou a repercutir na imprensa nacional. “Falei que estava no meio de uma apresentação e não quiseram me escutar. Quando me abordaram eu estava declamando um poema. Se tivessem parado para me ouvir, isso não tinha acontecido. Eu não tinha como reagir porque eram cinco pessoas me segurando. Tentei conversar porque não dava conta de reagir”, disse Igor à revista Veja.
Dentro da ambulância do Samu, antes de ser sedado com uma injeção, contou o bailarino, teve o peito pressionado por um punho cerrado para que ficasse sem ar e parasse de falar. Não adiantou dizer que aquilo era uma performance, que havia autorização da prefeitura e que participava do festival, segundo contou.
Ele acordou amarrado numa maca oito horas depois no PA. Só quando foi atendido por uma médica psiquiatra é que tudo foi esclarecido e ele foi liberado.
O 8º Caxias em Movimento começou na sexta-feira da semana passada e vai até domingo que vem. Traumatizado, Igor, que ficaria até o final do festival, decidiu deixar a cidade.