Itajaí
Competição entre grupos busca emagrecimento de forma saudável
“Perder para Ganhar” foi lançado sábado na unidade básica central. Objetivos são saúde, autoestima e qualidade de vida aos participantes
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Navegantes lançou no sábado o projeto “Perder para Ganhar” na unidade básica de saúde central. O projeto, em parceira com núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), reunirá três grupos com cinco competidores cada. O objetivo é ver qual grupo perde mais peso até o final do ano. O grupo vencedor ganhará um prêmio pelo empenho. O projeto tem o acompanhamento do nutricionista Alexandre Ribeiro, a avaliação médica do doutor Oscar Misael Ayala Pizana e o acompanhamento do psicólogo Everton Mazzoleni. Os participantes farão a avaliação do Índice de Massa Corporal (IMC) e, após as avaliações, o nutricionista vai elaborar uma dieta para cada paciente. Após essas primeiras avaliações e consultas, os grupos vão se reunir uma vez ao mês para que sejam monitorados e acompanhados pelos profissionais da saúde. No final de novembro, o nutricionista identificará qual grupo perdeu mais peso e o vencedor receberá uma premiação. Também será avaliada como ficou a saúde dos pacientes, observando os índices de colesterol e de glicemia, por exemplo. A ideia é que todo o grupo tenha mudanças de hábitos na alimentação e também consiga ter uma vida mais saudável e feliz. O projeto foi idealizado pelo médico mexicano Oscar Misael Ayala Pizanaque. Ele veio para o Brasil através do Programa Mais Médicos e agora está estabelecido em Navegantes,trabalhando no posto central. Confira a seguir a entrevista da jornalista Franciele Marcon com o médico Oscar que discorreu sobre o tema emagrecimento, uso de remédios controlados, depressão, ansiedade e outros males que assolam as pessoas nos dias de hoje. NOME COMPLETO: Oscar Misael Ayala Pizana IDADE: 32 anos NATURAL: Monte Rei, México ESTADO CIVIL: solteiro FILHOS: não FORMAÇÃO: Medicina, com especialização em Cirurgia Geral e Saúde Pública EXPERIÊNCIAS PROFISSIONAIS: médico em Monte Rei, trabalhou no centro de Emergência de um hospital particular de Cáncun e médico da rede municipal de saúde de Navegantes. “Não existe uma mágica para o emagrecimento. Para o emagrecimento é preciso boa saúde, boa alimentação e exercícios.” DIARINHO – O Brasil tem o maior número de pessoas com depressão da América Latina, 5,8% da população teve a doença diagnosticada. Como explicar esse índice? Oscar: A maioria das pessoas que está tendo depressão são mulheres e só idosos. Mulheres na meia idade. Observamos que elas têm depressão, porque têm mais coisas para fazer. Antes essa mulher só se dedicava à casa e aos filhos, agora ela também está trabalhando. Tem o estresse do trabalho, da casa e tem o estresse econômico que é geral. Poderíamos sugerir: faça um pouco de exercício, um pouco de terapia comportamental com um psicólogo, mas vai sair muito caro. É mais fácil conseguir uma receita de fluoxetina com um médico, por recomendação de alguma amiga, e o médico, muitas vezes, por não querer falar que “não” ao paciente, ou pelo fato que não tem muito tempo para conversar com o paciente, decide fazer uma receita de fluoxetina ou outro antidepressivo. Por isso há um consumo desse tipo de remédio tão alto. DIARINHO - A depressão é a maior causa de afastamento laboral no Brasil. Há alguma forma dos empregadores atuarem preventivamente junto aos colaboradores? Oscar: Um tema complicado. Muitas vezes é a carga horária. A carga horária do trabalhador é muito pesada. Muitas vezes, o tratamento do chefe não é humanizado. Veem o trabalhador como um robô. Se essa pessoa não presta o serviço como o patrão quer é mandada embora. Os trabalhadores não se sentem valorizados. Na minha experiência, no Porto das Balsas, quando eu comecei a trabalhar no Brasil, tinha uma empresa, não vou falar o nome, o tempo todo estava contratando pessoal e o tempo todo estava mandando embora. O pessoal começava a ter um pouco de dor no cotovelo, dor no ombro e o chefe não queria mais. Eles são tratados de um jeito que incomoda o funcionário, até que o trabalhador fica cansado, explode e acaba indo procurar um médico, dizendo que está depressivo, que não quer trabalhar mais, que chora o tempo todo, que o chefe dele está assediando. E acaba acontecendo esse tipo de situação. Como é uma empresa transnacional, eles não se importam se um trabalhador vai ficar ou não. Os trabalhadores não são valorizados mesmo. DIARINHO - Há políticas públicas no Brasil que tentem amenizar os transtornos psiquiátricos (ansiedade, depressão e esquizofrenia)? Oscar: Um exemplo é o trabalho que estávamos fazendo no posto de saúde central de Navegantes. Esse projeto que começamos a fazer, inicialmente, foi pensado por um grupo de médico de Florianópolis. É difícil porque a população que está tendo esses problemas, o CRAS é pequeno e não está dando conta. Por isso, nós, os médicos clínicos gerais, estamos tentando ajudar a solucionar esse problema. Seria um trabalho em conjunto, não só da saúde mais também das empresas, ensinando ergonomia do trabalho, para evitar lesões aos trabalhadores. Os trabalhadores que ficam com alguma lesão não podem trabalhar mais e eles ficam estressados, e esse estresse também vira depressão. Daí, temos mais trabalhadores afastados. Também por parte da secretaria da Saúde fazendo terapia, acompanhamento psicológico, equipes de exercícios e caminhadas. DIARINHO – Os ansiolíticos são receitados para tratar a depressão e a ansiedade. Como atuam essas medicações no cérebro? Oscar: O programa que estamos fazendo é sobre a benzodiazepina. As benzodiazepinas não são usadas como antidepressivos, mas sim como um ansiolítico e um hipnótico. As benzodiazepinas funcionam no nível de gaba. Eles funcionam em uma parte do cérebro bem específica que controla os receptores e inibeoutros neurotransmissores do cérebro para a pessoa ficar sem ansiedade, ficar mais tranquila e mais relaxada. [Ela deixa as pessoas dopadas diante das emoções?] Isso. Mais tranquilas, como anestésicos algumas vezes. DIARINHO – Quando os ansiolíticos começam a deixar as pessoas dependentes? Oscar: A partir de seis semanas de uso. Em quatro, se falarmos dos benzodiazepínicos. A maioria dos livros fala que depois das seis semanas eles causam muita dependência. Temos pacientes que há mais de 10, 15 anos tomam e é difícil os fazer pararem de tomar os benzodiazepínicos. A maioria diz que não pode parar de tomar. A gente fala dos efeitos que eles têm sobre as pessoas e eles dizem que não vão parar. É um problema que estamos tendo bastante agora, principalmente com os pacientes idosos. Falamos e eles dizem: ‘venho há 15 anos tomando...’. A gente fala que eles causam esquecimento, tonturas e eles dizem ‘eu prefiro ter esses sintomas do que não dormir’. DIARINHO – Quais as terapias que podem substituir o uso desses remédios? Oscar: A experiência que estamos tendo é que muitos pacientes estão querendo mudar, parar de tomar o remédio e estamos fazendo uma terapia em conjunto com o psicólogo e fisioterapeuta. Os psicólogos estão ensinando terapia comportamental, principalmente com as mulheres, para elas saberem controlar a ansiedade. Os fisioterapeutas estão ensinando principalmente os mais idosos a higiene do sono, para eles aprenderem a dormir. Muitos deles não têm uma boa higiene do sono. Não tem uma boa rotina. Eles consomem muita cafeína muito tarde e dormem pouco. Dormem durante a tarde e chega à noite estão sem sono. É normal. Uma pessoa dorme cinco, seis horas durante a tarde, não vai conseguir dormir à noite. Isso que o psicólogo e a fisioterapeuta estão tentando ensinar. Eu tento convencer eles de parar de tomar o remédio. DIARINHO - O que te preocupa mais no uso do remédio? Oscar: Dois grupos que estão usando e que me preocupam mais. Os idosos e as mulheres. As mulheres principalmente porque estão abusando muito. Usam como ansiolíticos e elas estão fazendo muita resistência no remédio. Estão consumindo um, dois, três ou quatro benzodiazepinas por dia. Levam na bolsa e se tiver alguma emergência toma. E isso causa depressão. Agora é a depressão causada pelo abuso de benzodiazepínico, que no momento era só para ansiedade, mas está tomando um antidepressivo que não vão parar de tomar nunca porque estão tomando um ansiolítico. É um ciclo vicioso, que não termina nunca. No caso dos idosos é mais complicado. Porque os benzodiazepínicos são de longa duração, como o rivotril, por exemplo, ou o diazepan, eles deixam bem lesados. O efeito dura quase 100 horas no corpo. O risco de queda é bem maior. O paciente chega falando que está com tontura, com zumbidos, está esquecidos, vemos mais sintomas nos idosos. DIARINHO – Como funciona a palestra e o acompanhamento dos pacientes na unidade básica de saúde de Navegantes? Oscar: Nós temos uma lista de todas as receitas que temos que renovar dos benzodiazepínicos. Estamos fazendo uma lista, estamos mandando um bilhetinho para os pacientes alertando sobre o uso dos benzodiazepinas e os colocando na agenda para renovar a receita. Colocamos oito pacientes no horário das oito da manhã, faço uma palestra sobre o risco de usar as benzodiazepinas e atendo um paciente por vez. Tento convencer eles a querer parar. Não vou falar que estamos com 100% de sucesso, alguns pacientes dizem que não, mas a maioria fala que quer parar com a medicação. A gente faz um agendamento com o psicólogo e com a fisioterapeuta duas semanas depois. Depois eles retornam ao médico e começamos a fazer a diminuição do remédio, quando eles já tiveram a primeira sessão com o psicólogo. [Alguns pacientes já pararam de tomar de vez?] Durante esse programa não. O programa começou faz duas semanas. O tratamento para poder parar o uso de um benzodiazepínico pode levar de dois meses a um ano, dependendo do paciente. O tratamento é individualizado e é tratado com muito cuidado porque o paciente tem muitos efeitos secundários quando ele para de tomar o remédio. Ele para de tomar o remédio e começa a ter pesadelos e ter mais ansiedade. Sente que o teto se mexe, as paredes se movimentam, temos que ter muito cuidado com isso, principalmente, eu que estou tirando o remédio. DIARINHO – Como funcionará o projeto que o senhor e um médico nutricionista estão montando para monitorar 15 pessoas, divididas em três grupos de cinco pessoas, para perder peso até o final do ano? Oscar: Essa ideia surgiu com a enfermeira Roberta, que trabalha no posto central. Estávamos planejando um grupo para ajudar a população, para estimular a fazer exercícios e eu falei: “vamos fazer um grupo que se chame ‘Perder para ganhar’. Perder peso para ganhar saúde. Falamos com o nutricionista Alexandre sobre a ideia e ele ficou muito feliz e quis ajudar. A gente se reuniu há duas semanas para discutir. Tive a ideia de fazer três grupos de cinco pacientes e vamos ver o grupo que vai perder mais peso. Desse jeito estamos incentivando todos. Uma pessoa pode perder o incentivo, mas se o outro ainda tem, ele puxa o colega para não perder a competição. No final do ano terá uma premiação para os vencedores. DIARINHO - A cada cinco brasileiros um está obeso e pelo menos metade da população está acima do peso. Remédios emagrecedores também viraram uma febre de consumo. Quais são os riscos para a saúde? Oscar: Tem muitos tipos de remédios para emagrecer e cada um tem diferentes riscos. A bupropiona tem o risco da dependência e o risco de parar de tomá-la e o paciente volta a aumentar de peso. Tem muito remédio natural, como a alcachofra, que é um diurético, mas ele faz trabalhar muito o rim. Eu falo para os meus pacientes que o mais importante é uma boa alimentação, exercícios, perseverança. Não adianta o uso de remédios para emagrecer porque eles estão mostrando que não funcionam. Não existe uma mágica para o emagrecimento. Para o emagrecimento é preciso uma boa saúde, uma boa alimentação e exercícios. DIARINHO – O senhor é mexicano. Como veio morar e trabalhar na rede pública de saúde do Brasil? Oscar: Uma história bem cumprida, mas vou resumi-la. Eu sempre quis vir para o Brasil. Desde que eu tenho uso da razão, eu sempre quis conhecer o Brasil e eu tentei algumas vezes vir para cá quando estava estudando medicina e não consegui. Quando estava trabalhando em Cancun, vi a oportunidade de vir através do programa Mais Médicos. Eu me inscrevi, não foi nada fácil, foi muito burocrático, mas consegui finalmente. Eu cheguei pelo Espírito Santo. Depois fui enviado para Santa Catarina e em Santa Catarina, finalmente, vim para Navegantes, e estou bem feliz de trabalhar aqui.