Itajaí
Dossiê denuncia rolos na FMEL
Pagamentos indevidos, benefícios suspeitos e manobras pra escolher conselheiros municipais fazem parte do documento
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Dayane Bazzo geral@diarinho.com.br Foi entregue esta semana à câmara de vereadores de Itajaí um dossiê que aponta um listão de supostas irregularidades dentro da fundação Municipal de Esporte e Lazer (FMEL). O documento não está assinado. Teria sido deixado na câmara de Vereadores por uma mulher, que não foi identificada. Fábio Reginaldo dos Rezes, o Fabinho, superintendente da FMEL, nega todas as denúncias. A capa da papelada possui o nome “Observatório Esportivo”. Além do relato das supostas irregularidades, o dossiê também traz cópias de documentos, como relatórios do portal da Transparência do site da prefeitura, editais publicados no jornal do Município e atos administrativos da própria FMEL. Todos os vereadores receberam uma cópia do dossiê na quarta-feira. O parlamentar Robison José Coelho (PSDB), da oposição, diz que já deu uma olhada no documento. Ele diz que os documentos são verdadeiros. Mas, ponderou, ainda vai analisar se as denúncias têm fundamento. O vereador tucano adiantou que pretende encaminhar oficialmente ao superintendente da FMEL, Fábio Reginaldo dos Rezes, o Fabinho, um pedido de resposta. Pepinos pra descascar Fabinho já tem pepinos pra descascar desde abril deste ano. Foi quando um grupo de técnicos e atletas denunciou à imprensa que seus salários estavam atrasados. Além disso, este ano a prefeitura também diminuiu o valor do repasse do bolsa atleta e bolsa para técnicos. Há profissionais ganhando até 20% menos, reclamou ontem um técnico ao DIARINHO. Também ontem, a prefeitura retirou da câmara o pedido de votação em urgência do projeto que muda critérios do bolsa atleta, incluindo o pagamento de técnicos. Entre outros, o projeto prevê a inclusão da possibilidade de pagamento para técnicos “em iniciação esportiva”, ou seja, os professores de escolinhas, que já estariam trabalhando mas não têm como receber por conta de restrições na lei. Para a oposição, a decisão de não pedir a votação em urgência do projeto tá ligada à aparição do dossiê contra a FMEL Denúncias em quatro blocos No documento de 20 páginas as denúncias se dividem em quatro grupos: Conselho Municipal de Esporte e Lazer (Comel); bolsa atleta; pagamento de diárias; suspeita sobre o projeto que muda as regras do bolsa atleta. Conselho Municipal de Esporte e Lazer Pela denúncia, o superintendente da Fão estaria respeitando o estatuto do Comel, além de tentar favorecer alguns indicados. Chegou a ser dado a Fabinho o poder de decidir quem seria o conselheiro, em caso de empate de indicações. Também foi mudado o prazo para as inscrições de indicação dos conselheiros, para dar tempo dos chegados da FMEL se candidatarem. Bolsa Atleta Para concorrer ao Bolsa Atleta, o candidato precisa ser avaliado por uma comissão e o valor a receber, caso seja aprovado, é definido com base em critérios como o currículo e desempenho. Pela denúncia, quem define os valores que cada atleta recebe é o próprio treinador. No documento há a imagem de uma conversa de WhatsApp, onde o superintendente da FMEL justifica o atraso no pagamento porque os treinadores não teriam entregado a planilha de valores. Outra denúncia é o caso de uma bolsista da modalidade futebol, que foi aprovada em maio para ganhar R$ 3,6 mil por ano, porém, poucos dias depois ela passa a receber R$ 19,5 mil anuais. Os denunciantes apontam que este aumento foi devido à prestação de serviço como fisioterapeuta no ginásio Gabriel Collares. “Prática totalmente ilegal e não prevista no edital do Bolsa Atleta 2017”, diz a denúncia. Teria até até pessoas sem currículo de atleta recebendo bolsa. O caso também aconteceria com treinadores, que ganham para uma modalidade, mas sem ter experiência ou participado de competições. O dossiê aponta que a modalidade Triatlo possui quatro técnicos contratados e que recebem salário de R$ 2,2 mil por mês. Porém, os atletas que representam o município nos Jogos Abertos de Santa Catarina são de outras cidades e nem treinam em Itajaí. Também há a denúncia de que uma família (casal e duas filhas) estaria recebendo R$ 87 mil por ano: o pai seria o técnico, a mãe a auxiliar e as duas filhas atletas. Há ainda a suspeita de professores da secretaria de Educação terem sido cedidos à FMEL sem obedecer aos critérios estipulados em lei e ainda estariam ganhando salários muito acima do permitido em lei. Diárias O dossiê afirma que um diretor da FMEL recebeu diária para assistir um jogo em Blumenau e, ao mesmo tempo, apitava um jogo do campeonato Brasileiro na Bahia. Pela denúncia, o mesmo funcionário faltou ao trabalho em Itajaí pelo menos cinco vezes só em junho para atuar como árbitro em outros estados e nada foi descontado do seu salário. Projeto de lei Por último, o dossiê questiona a proposta de mudança na lei do Bolsa Atleta, que prevê a criação da categoria ‘Iniciação Esportiva’ para atender os professores das escolinhas esportivas de bairro. Pela denúncia, a alteração só beneficiaria os interesses políticos e pessoais, pois, os atuais professores, que já recebem benefícios do Bolsa Atleta, tão trabalhando sem cumprir os requisitos mínimos previstos na lei. Veja o que diz Fabinho Rezez, chefão da FMEL O chefão da FMEL garante que as denúncias são infundadas. “Isso é mais um fator político, é mais pra tentar denegrir a nossa imagem. Mas não vão conseguir porque trabalhamos com transparência, não temos nada a esconder”, diz. Fabinho rebate alguns dos itens que aparecem no dossiê, como a questão do pagamento das bolsas. Segundo ele, o treinador avalia o desempenho do atleta e depois a comissão, presidida por ele, analisa o currículo e define qual valor se adequa às necessidades do atleta. “Fazemos tudo conforme o regulamento, não é o treinador quem escolhe o valor”, afirma. Sobre a bolsista que ganha também por trabalhar como fisioterapeuta, o chefão da FMEL também diz que é mentira. “Ela é atacante do time de futsal e treina todos os dias. Nosso funcionário colocou para ela receber R$ 400 por mês, aí ela nos procurou dizendo que por esse valor não poderia. Esse valor estava errado e foi corrigido”, explica. Em relação à função de fisioterapeuta, o superintendente diz que é uma coincidência. “Ela é fisioterapeuta e quando a gente precisa, nos dá uma força, mas gratuitamente”, completa. Sobre o projeto que muda a lei das bolsas, Fabinho explica que antes os técnicos que davam aulas nos bairros ganhavam como treinadores de modalidade e a alteração na lei é para enquadra-los na real função que exercem, que é de professores de escolinha. “Eu quero fazer o certo, inclusive, hoje eles estão parados até que essa situação se resolva”, afirma.