A morte de Sheila Margarete de Jesus, 37 anos, não deverá ficar por isso mesmo pro hospital Marieta Konder Bornhausen e pros médicos que atenderam a coitada. Durante o enterro da vítima, ontem, Antonio Luciano de Jesus, 32 anos, irmão da mulher, contou ao DIARINHO que já acionou um advogado e vai entrar com uma ação contra o hospital e os dotores responsáveis pelo atendimento da mulher. Sheila faleceu às 3h34 da madrugada de domingo, depois de dar entrada cinco vezes no Marieta, com fortes dores no peito. Apesar do quadro aparente de problema cardíaco, os sabichões do hospital diagnosticaram perrengues estomacais. As freiras prometem fazer uma auditoria pra analisar se houve falha no atendimento.
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O enterro de Sheila rolou na manhã de ontem, no cemitério da Fazenda, no Itajaí. Num misto de dor e revolta, amigos e parentes deram o último adeus à mulher. Antonio, um dos cinco irmãos de Sheila ...
O enterro de Sheila rolou na manhã de ontem, no cemitério da Fazenda, no Itajaí. Num misto de dor e revolta, amigos e parentes deram o último adeus à mulher. Antonio, um dos cinco irmãos de Sheila, tentava confortar Nicole Margarete de Souza, 14, e Artur de Jesus, de quatro, filhos da pobre, à beira do caixão. Ele lembrou do último momento em que viu a mana. Ela foi desacordada para o hospital. Lá, acho que conseguiram reanimá-la, mas perderam novamente em seguida, lamenta.
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Não deram bola
O sofrimento de Sheila começou na terça-feira à noite, quando sentiu os primeiros sintomas de um possível problema cardíaco. Segundo Antonio, sua irmã reclamou de fortes dores no peito e de formigamento nos braços, característicos de um infarto. Ela passou o dia seguinte em casa e, com a pressão nas alturas, deu entrada pela primeira vez no Marieta na manhã de quinta. À tarde, a mulher voltou ao hospital.
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Mesmo sabendo do histórico de problemas cardíacos na família de Sheila, os médicos do Marieta não deram bola. Ela passou por um exame de enzimas, que mede a quantidade de sangue no coração, mas a bagaça não constatou qualquer anormalidade. O irmão desconfiou, já que o resultado era controverso. Conversei com uma enfermeira amiga minha, e ela disse que o resultado do exame de enzimas só dá positivo se for feito, no máximo, 24 horas depois do infarto, e minha irmã enfartou já na terça-feira, lembra.
A desconfiança fez com que Antonio a levasse à policlínica do bairro São Vicente. Lá, um eletrocardiograma apontou o problema no coração. A médica da policlínica circulou os picos de frequência cardíaca e anexou o eletro ao prontuário, mas ninguém do hospital deu importância para isso, lasca o brother.
A dotora que atendeu Sheila no postinho lhe indicou um remédio pro coração e chamou a atenção da mulher, dizendo que seu caso era grave. O remedinho atenuou as dores no peito e o formigamento nos braços da pobre, mas sexta a coitada se sentiu mal dinovo e foi pro Marieta escutar as mesmas desculpas. Pra piorar, no sábado pela manhã Sheila voltou a ficar ruim e um dotô do hospital suspendeu seu medicamento. O médico receitou dois remédios, um para enjoo e outro para o estômago, e disse para parar de tomar o do coração, frisa Antonio.
Após a penúltima visita de Sheila ao hospital, ela voltou a sentir dores e, por volta das duas da madrugada de domingo, teve de voltar pro Marieta. Dez horas depois de ter deixado o hospital, minha irmã voltou para lá e morreu, lembra, emocionado, Antonio.
Hospital vai investigar
No domingo, a justificativa pra morte de Sheila, dada por um médico do Marieta, foi de mal súbito, conforme disse seu mano. Mas o diagnóstico não teria sido incluído no atestado de óbito pelo dotô. O mesmo médico que me confirmou que ela morreu do coração disse que teria de pôr a causa da morte como desconhecida, garante Antonio.
Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa do Marieta informou que a diretoria do hospital abriu ontem uma auditoria interna e deverá avaliar os prontuários médicos. Não há data definida pra divulgação do resultado.
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Mas o médico cardiologista Eriberto Luchtenberg, ouvido pelo DIARINHO, disse que, baseado no relato de Antonio, dá pra concluir que a moça apresentava todos os sintomas de uma pessoa infartada. O infarto ocorre com a interrupção da passagem do sangue. Isso provoca fortes dores no peito e dormência nos braços, explica. Ainda conforme o sabichão, o histórico de doentes do coração na família ajuda a aumentar as chances de uma pessoa ter o piripaque. O histórico familiar é um dos agravantes. Entre os fatores de risco estão também o fumo, o colesterol, o sedentarismo e a diabetes, finaliza o médico.