Em cada canto do planeta ele tem um amigo. Se precisar de hospedagem na Rússia, tem a quem recorrer. Se precisar de uma cama pra deitar em Itajaí, também. Hans passou pelo DIARINHO semana passada. Ele foi trazido pelos amigos de estrada Dolor Danúbio da Silva e Guilherme Schmitt, empresários da região.
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A conversa foi longe, atravessou países e oceanos, numa história com começo e meio. O final vem sendo escrito todos os dias, com quilômetros rodados e muito chão pela frente. Enquanto essas linhas são escritas, o sueco está acelerando a Honda Goldwing 1800 em alguma estrada de São Paulo em direção ao Recife, capital de Pernambuco, pra visitar amigos.
Antes do asfalto e das estradas de chão, Hans enfrentou um mar bravo. O sueco trampou por muitos anos na marinha da Suécia, quando passou pelos Estados Unidos, na adolescência. Apaixonou-se pelo país e ingressou na marinha mercante americana, no estado do Texas. Eu ajudei a descobrir o petróleo, brinca, relembrando os idos dum trabalho árduo nas perfurações, no encalço da matéria-prima do combustível.
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Mas a vida de petroleiro cansou e a estrada se abriu. Hans nunca mais foi o mesmo. Na visita ao DIARINHO, a reportagem se impressionou com a vitalidade do senhor, uma criatura sorridente e falante. Nesses anos de estrada passei por 129 dos 193 países que existem e percorri mais de 750 mil quilômetros, diz. É a mesma da distância de ida e volta entre a Terra e a Lua.
Hans aparenta ter uma boa saúde. O combustível dele é o vento e o sol no lombo durante as viagens. Numa delas, conheceu o Japão, em um tour inesquecível. Da Terra do Sol Nascente, seguiu com a cabritona pra Rússia, num avião. Foi uma das etapas mais difíceis que passou nessas andanças. A Goldwing 1800 é preparada pra asfalto, mas guenta legal o tranco em terrenos tortuosos. E foi esse tipo de chão que Hans enfrentou quando cruzou a gelada região da Sibéria, encravada no meio da Rússia. O percurso foi vencido com muita dificuldade até a Mongólia, de onde partiu pra Itália, seguindo para casa, em Nova Orleans, nos Estados Unidos.
Hans dá uma boa gargalhada quando questionado sobre a próxima viagem. O plano é não ter plano, encerra.
A moto do sueco
Motor: OHC, 6 cilindros, 4 tempos, arrefecido a líquido
Cilindrada: 1.832cm³
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Sistema de alimentação: Injeção eletrônica PGM-FI
Potência máxima: 118cv a 5.500rpm
Torque máximo: 17kgf.m a 4.000 rpm
Transmissão: 5 velocidades
Sistema de partida: Elétrica
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Capacidade do tanque: 25 litros
Tipo de chassi: Diamond
Comprimento x largura x altura: 2.635 x 945 x 1.455mm
Pneu dianteiro: 130/70 R18 M/C 63H
Pneu traseiro: 180/60 R16 M/C 74H
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Peso seco: 381kg
Cores: Preto e marrom metálico (modelo 2010)
Preço: R$ 92 mil
Do sul do Brasil ao Jalapão e Chapada dos Veadeiros em 14 dias
O editor do DIARINHO Sandro Silva viajou ao centro do país partindo de Penha, onde vive. A incursão rendeu imagens fantásticas. Com poucos recursos e optando por um contato mais próximo à natureza, Sandro conta como se preparou para a aventura e relembra por quais trechos do Brasil passou durante 14 dias de estrada, entre julho e agosto de 2010.
A ideia era percorrer a Transamazônica. Mas, no meio do caminho, me deparei com o deserto do Jalapão. Aí, de antemão, não tive como não me apaixonar pela aventura. Comecei as pesquisas exatamente 12 meses antes. Dois meses depois, montei o planejamento da viagem. Como já vinha guardando um dinheiro desde o ano anterior para alguma maluquice assim, tive ainda mais um ano pra juntar os recursos.
Rodei 5516 quilômetros, ida e volta, com 12 dias de viagem. Na volta, passei ainda na Chapada dos Veadeiros, que é um serrado de montanha.
O Jalapão é diferente. É lá onde o cerrado diz pra caatinga: Deixa que daqui eu assumo. Mas é tão inóspito quanto a caatinga. A diferença é que lá há muita água, muita água mesmo. De repente, você sai do quase árido pra dar de cara com um volume azul de água gigantesco, rugindo no meio do nada, como é o caso da cachoeira da Velha.
Foi uma viagem solo, com objetivo mesmo de testar limites, físicos e de pilotagem. Mas tem algo indescritível em viagens assim: é essa coisa de tu estares contigo mesmo, que é ao mesmo tempo uma limpeza de alma, uma renovação de energias e um repensar da vida.
Sobre o cenário do Jalapão é desnecessário falar. E a quantidade de bichos do cerrado, então, nem se fala. Vi cervo, urubu-rei (algo que poucos viram em estado natural), tatu, muitas araras, papagaios, emas, siriemas e, o mais curioso, jegues selvagens.
Durante 10 meses me preparei fisicamente. Os profissionais da Academia Dançar e Cia, em Penha, fizeram, de graça, toda a preparação física. Os mecânicos da Big Star Motos, também de lá, deram dicas básicas de mecânica para emergências. Fui equipado com GPS, mapas, barraca, fogareiro, bússolas (duas), bota para trilha, joelheira e cotoveleira para as áreas cabreiras do Jalapão e calça e jaqueta de cordura (um super nylon) pra viagem de asfalto.
Saí daqui no inverno, com seis graus, e cheguei em Palmas/TO, três dias depois, com mais de 40 graus.
Se você já tem os equipamentos, com menos de R$ 2 mil faz uma viagem dessas. Mas tem que estar disposto. E esse é o grande lance. Dormir em lugares baratos, fazer acampamento selvagem, comer sem luxo. Ah! O mais mágico é conhecer pessoas. E nem queira entendê-las.
Apenas as conheça.