A vida pode ser devolvida através de uma agulha. Por nove anos, Ruan Gabriel Serpa procurou um doador de medula óssea compatível. Em 2010, encontrou. Entretanto, a esperança de vencer a leucemia desapareceu com a covardia de um desconhecido. Hoje, aos 15 anos, o garoto está fora da lista de espera pelo transplante. Depois de sessões de tratamentos pesados, os médicos deram a notícia que a família se nega a ouvir: não adianta mais procurar alguém com compatibilidade; se o organismo de Ruan suportar o transplante, não aguentará o procedimento pós-cirúrgico. O fim da busca pela medula veio em outubro do ano passado poucos meses após ter surgido uma pessoa compatível que, por razões ignoradas pela família, desistiu de doar.
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Atualmente, o transplante de medula óssea é a única esperança de cura para 1,2 mil pessoas que sofrem de leucemia e estão aptas para passar por este procedimento no Brasil. A possibilidade de encontrar uma medula compatível é de uma em 100 mil. E a mãe de Ruan foi à luta para encontrar onde estava a única chance do filho. Giana Carla Melo Serpa, 38, largou tudo para se dedicar unicamente a Ruan desde que ele foi diagnosticado com leucemia linfoide aguda (LLA), aos seis anos. Assim que ele iniciou o tratamento, mesmo sem estar na fila de espera pelo transplante, Giana exigiu que fosse feito o teste de compatibilidade na família e, quando chegaram os resultados, ela descobriu que nenhum dos parentes poderia ser doador caso o menino precisasse.
Sempre exigi que o tratamento do meu filho fosse o melhor possível e que não o privassem de nada. Para os médicos, ele era mais um. Mas, para mim, é o meu filho, narra a dona de casa. Hoje, Ruan só toma medicamentos para que a doença não progrida. Em outubro do ano passado, quando os médicos o desenganaram e mandaram para casa para passar os últimos dias perto da família, o garoto se recuperou de uma forma incomum. Eu sinto que as coisas estão se afunilando. Está cada dia mais difícil, mas ele é guerreiro, conta a mãe.
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Apesar de ser um adolescente, Ruan tem físico de um menino: mede 1,48m e pesa pouco mais de 40 quilos. Todos os tratamentos a que se submeteu para vencer a leucemia acabaram retardando o crescimento. Hoje, já bastante debilitado, o garoto passa os dias em frente à televisão ou ao computador. A mãe conta que ele anda deprimido e dorme 20 horas por dia. As pessoas me dizem que eu já sei o que vai acontecer e que devo estar preparada. Não, eu não estou preparada! Tem tantos milagres acontecendo a todo o momento. No fundo, eu tenho a certeza de que vai acontecer um com o meu filho, enfatiza Giana, com a firmeza de quem confia no instinto maternal.
Explicação médica
Quais as chances de encontrar alguém compatível?
De acordo com a médica hematologista Samara Graf do Prado, com base nas leis genéticas, as chances de se encontrar um doador ideal entre irmãos (filhos dos mesmos pai e mãe) é de 25%. Mas, caso não exista alguém compatível na família, há como encontrar um doador não aparentado através do Registro Brasileiro de Doadores de Medula Óssea (Redome). Para que se realize um transplante de medula é necessário que haja uma total compatibilidade entre doador e receptor. Caso contrário, a medula será rejeitada, afirma a especialista. Ela explica que a compatibilidade é determinada por um conjunto de genes localizados no cromossomo 6. A partir de amostras de sangue, a análise é realizada por meio de testes laboratoriais específicos chamados de exames de histocompatibilidade, salienta.
O tratamento da leucemia pode afetar o crescimento?
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A hematologista conta que o primeiro passo depois que o paciente recebe o diagnóstico de leucemia é a indicação de quimioterapia para o prolongamento de sobrevida. Todavia, há diversos efeitos colaterais causados pelas drogas utilizadas no tratamento. As pessoas têm organismos únicos, logo, respondem de forma diferente à quimioterapia, explica Samara.
Como funciona o transplante?
Existem duas formas de doar as células-mãe da medula óssea: uma coletada nos ossos da bacia e a outra é a filtração pelas veias, destaca a hematologista. A forma mais comum é a retirada da bacia, em que se coleta a quantidade de medula equivalente a uma bolsa de sangue. Mas não há razão para que o doador tenha medo. É aplicada anestesia e o procedimento dura, em média, 60 minutos. Não fica nenhuma cicatriz. É importante destacar que não é uma cirurgia, ou seja, não há cortes e nem pontos, explica Samara. Depois da retirada da medula, o doador fica em observação no hospital por um dia e, em poucas semanas, já tem a medula completamente recuperada.
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