O bairro Monte Alegre, em Camboriú, que está ocupado há cerca de 10 dias pelas forças policiais por conta da alta criminalidade, é onde mora o povo do bem. É isso mesmo. Faltariam páginas nesta edição para relatar as histórias de solidariedade, de empreendedorismo e de perseverança que a reportagem encontrou durante um dia inteiro e parte de uma noite em que bateu pernas pelo distrito do Monte Alegre, em Camboriú.
Continua depois da publicidade
O DIARINHO foi pras ruas, casas, bares, praças e igrejas do Monte Alegre pra buscar alguns bons exemplos que pudessem demonstrar que na concentração urbana considerada a mais violenta do estado ...
O DIARINHO foi pras ruas, casas, bares, praças e igrejas do Monte Alegre pra buscar alguns bons exemplos que pudessem demonstrar que na concentração urbana considerada a mais violenta do estado também moram boas pessoas. Voltou de lá repleto de histórias. E, vale a confissão, bem mais do que esperava encontrar.
Continua depois da publicidade
O que se viu é uma outra face da comunidade, diferente daquela que tem ocupado os noticiários nos últimos anos. Uma dimensão onde o que vale é a honestidade, a preocupação com o vizinho, a vontade de construir um mundo melhor.
Onde a prefeitura e os governos federal e do estado falham, lá estão os moradores. Eles combatem a criminalidade não com armas, helicópteros ou viaturas. O fazem trabalhando, se cooperando e estendendo a mão a quem precisa.
Continua depois da publicidade
Através destas páginas, entre no Monte Alegre e conheça quem são os moradores desse distrito que reúne cerca de 25 mil pessoas e que praticamente vive à margem do cuidado do Estado. Na edição de amanhã, o DIARINHO publica a segunda parte da reportagem, com relatos sobre as impressões, os jeitos das pessoas e os sons e cheiros que brotam das movimentadas ruas do distrito que nas últimas semanas virou o centro de atenção de toda a mídia.
O sem-terra que virou dono de construtora
Antônio Simão de Góis, o Toninho, 54 anos, leva hoje uma vida confortável na rua Monte Bandeira. Mas nem sempre foi assim. Em 1985, quando chegou ao Monte Alegre, vindo de Salto do Lontra/PR, sequer tinha ideia de como seria o futuro por aqui. Toninho era carpinteiro e tinha que sustentar a mulher e os filhos pequenos. Um início difícil, lembra. Mas o ex-operário não desanimou e hoje é um pequeno empresário da construção civil.
O sorriso é tímido. Chega a esconder a energia de Toninho, que já foi trabalhador sem-terra e chegou a morar com a família, acampado numa fazenda ocupada pelo MST.
O salto econômico do operário aconteceu em 2003, quando já era encarregado de algumas obras da construtora para a qual trabalhava. Como o Monte Alegre passou a receber investimentos na construção civil, Toninho se apegou na oportunidade. Pediu demissão, juntou as economias e começou a construir por contra própria. Eu comecei a juntar um dinheirinho pra investir nos meus empreendimentos, que surgiram com o tempo. Me tornei meu chefe, conta.
Hoje, o ex-sem-terra e ex-operário mora num sobrado com vista para todo o bairro e tá até construíndo um pequeno prédio de quatro apartamentos. Mesmo crescendo na vida, Toninho faz questão de continuar morando no Monte Alegre. Eu acredito que 98% das pessoas do Monte Alegre são trabalhadoras, mas pagam por uma minoria que vem de outros lugares e se esconde por aqui, conclui.
Continua depois da publicidade