Itajaí

Prédio abandonado no centrão de Itajaí virou moradia de viciados

Senhor que teve carango chutado por drogadão denunciou a barbaridade. Casa fica a poucos metros da polícia Federal, numa das ruas mais valorizadas da city

Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]

Joelho sangrando e carro amassa­do. Foi dessa forma que o aposen­tado M.Z., 73 anos, ficou depois de cair na porrada com um guardador de carros na rua 15 de Novembro, centrão peixeiro. Depois da briga, o malaco, contou o veinho, correu pro casarão abandonado na esquina da rua com a avenida Joca Brandão. O DIARINHO deu um pulo por lá e acabou descobrindo a versão peixei­ra da cracolândia.

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O ambiente é pesado e triste. Di­fícil de acreditar que seres humanos escolheram viver em meio ao lixo, ameaçados por todo tipo de doen­ça e sem dignidade. O lugar parece até cenário de filme de ...

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O ambiente é pesado e triste. Di­fícil de acreditar que seres humanos escolheram viver em meio ao lixo, ameaçados por todo tipo de doen­ça e sem dignidade. O lugar parece até cenário de filme de terror. Mas o que rola por lá é real. Largado há anos, usuários de crack se instala­ram no casarão e sustentam o vício numa buena.

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Gente boa

Com sete moradores fixos, Jack­son Ricardo da Luz, 26, flanelinha e catador de lata, é o mais velho na baia. É ele o chefe. São oito anos de domicílio. Dentre os colegas, três trampam como pedreiro e outros três cuidam de carros. “Ninguém passa necessidade aqui, nós temos de tudo”, garante.

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O alimento vem das sobras de res­taurantes. Os colchões foram acha­dos na rua. Em comum os morado­res tem o vício em crack. Com cinco pilas, contaram, arranjam droga rapidinho. “Vício é uma desgraça. O mundo tá dominado pelo crack. Já me internei oito vezes, mas não adianta”, confessa Jackson.

Expulsou

Apesar da dependência assumi­da, o chefão da baia garante que todos são do bem. “Aqui não entra ladrão. Eu fiquei sabendo dessa his­tória do carro e mandei o cara que fez isso embora”, conta. Jackson ainda relata que várias vezes eles acabam levando a culpa de outros que aprontam pelo centro. “A gente zela pela vizinhança”, assegura.

É da União

Patrimônio da União, o DIARI­NHO apurou que não há previsão pra casa improvisada dos usuários ter um destino mais útil. A supe­rintendente da União em Floria­nópolis, braço do governo federal na Santa & Bela, Isolde Espíndola, revela que a área foi cedida pra Procuradoria Geral da República de Itajaí e lá será construído o novo prédio do órgão. “Eles ficaram de cercar a área e estão aguardando uma autorização de Brasília pra fa­zer o tombamento e dar início ao projeto”, afirma.

Até o fechamento desta edição, a reportagem não conseguiu contato com o coordenador administrativo do Ministério Público Federal, Har­ley Anderson dos Santos, que tá de férias. No entanto, em matéria publi­cada pelo DIARINHO em março des­te ano, Harley revelou que o terreno era pequeno pro projeto da sede e passaria por adequações.

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As regras da casa

A casa é do governo federal, mas as regras são ditadas pelos moradores de rua. No térreo é o banheiro. Os quartos foram improvisados no forro. Pra conseguir uma vaga, a pessoa precisa passar num “processo seletivo”.

O quesito mais importante é o histórico de vida. Não pode ser ladrão, assassino ou estuprador. Tem que pedir licença pra entrar. Respeitar os camaradas. Não pode se meter em confusão com a vizinhança e estar ciente que o desrespeito às normas acarretará no imediato despejo.

Entre os moradores, tem universitário e outro que foi viciado pelo padrasto ainda na infância

O pai de Jackson se enforcou quando o rapaz ainda era ado­lescente. As más amizades o levaram a abandonar, aos 18, a companhia da mãe e fugir com o irmão, na época com 17. Da maconha pro crack foi um pulo. Hoje, rendido à dependência da pedra, não tem mais contato com familiares. A rua e seus morado­res tornaram-se a família dele. Viciado desde os 10 anos, David Dico Brito, 23, cresceu vendo o padrasto vender droga na city dengo-dengo. A rapaziada puxa­va o cachimbo ao lado de sua casa.

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A curiosidade levou David, ainda na infância, a experimentar a dro­ga maldita. “Apesar dos pesares, eu sou feliz. Não devo nada pra jus­tiça, não tô preso, não sou aleija­do. Tem gente que não agradece a Deus por estar vivo”, discursa.

“Eu tô offline na minha vida de verdade”, conta M.W., 23, o ex uni­versitário que esconde da família que mora no casarão abandonado. Todos os dias, o cara acessa a inter­net pra conversar com a mãe, que também mora em Itajaí, mas pensa que o guri tá super bem na vida.

O rapaz, de boa aparência, abriu mão da faculdade de design, do car­ro e do conforto da vida que levava pra viver sem perspectiva. “Eu tô cursando a faculdade da vida. Tô aprendendo a dar valor às pessoas. Isso vale mais do que qualquer di­ploma”, acredita. M., viciado, tam­bém em crack, acredita que pode recomeçar. “Esse é meu último ano aqui. Vou criar vergonha na cara e tocar a minha vida”.

Otoridades dizem que só demolindo pra acabar com moradia improvisada

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Enquanto o casarão não for abaixo o povão continuará as­sistindo à desgraceira na rua no­bre do centrão da city peixeira. O secretário de Desenvolvimen­to Social de Itajaí, Fabrício Ma­rinho, não vê outra solução pra acabar com o ponto de consumo de drogas senão demolir a ve­lha estrutura. “Já fizemos blitz, já notificamos o governo do Es­tado, mas isso já virou novela mexicana”, desabafa o abobrão.

De acordo com Marinho, o despejo dos dos drogados são constantes. O programa de Orientação ao Migrante (POM) do município vai até o local com uma Kombi e verifica a si­tuação das pessoas. Identifica de qual cidade vieram e manda alguns de volta. “Você retira o pessoal, mas eles acabam vol­tando pro casarão. A gente tem que respeitar o direito de ir e vir. Isso não vai acabar enquan­to não for demolido”, explica.

A polícia Militar da city relem­bra o drama vivido pelos mora­dores da Vila Operária, onde uma casa abandonada ao lado da es­cola Deputado Nilton Kucker era alvo dos casqueiros. A solução foi demolição. De acordo com a PM, não é por falta de ações no local, mas enquanto a casa estiver aber­ta, o vaivém de viciados não vai ter fim.




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