O pescador Augusto Libório, 27 anos, foi pra lida ontem logo cedo. Às 6h tava na embarcação Teimosinha, em busca de camarão. Num dos lances ao mar, sentiu que havia algo muito pesado na rede. Ele contou que estava na altura da Ponta Negra, entre as praias Vermelha e Grande, quando percebeu que a embarcação puxava pro lado direito. Ao ligar o guincho e começar a recolher as redes, levou um susto quando percebeu que havia algo além do camarão e das algas. Pensei que era um defunto. Fiquei branco, comentou, quando viu algo claro e grande no meio da rede. Mas era um peixe com 19 quilos e cerca de um metro, nunca visto por ele.
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Augusto mora no Gravatá, em Navegantes, e às 12h30 de ontem descarregou os 18 quilos de camarão que capturou na praia do Trapiche, em Penha, junto com o peixão. A quantidade de camarão era modesta ...
Augusto mora no Gravatá, em Navegantes, e às 12h30 de ontem descarregou os 18 quilos de camarão que capturou na praia do Trapiche, em Penha, junto com o peixão. A quantidade de camarão era modesta, mas o pescador tava contente com a captura do peixe estranho. Ganhei o dia, disse, sem dizer se pretendia vender ou saborear o escamoso.
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Veio com o enchente
A incansável equipe de reportagem do DIARINHO mandou fotos do peixe pros profes sabichões da Univali, pra alguém descobrir, ao menos, a espécie. O professor Paulo Ricardo Schwingel dá aula pro curso de oceanografia da universidade e é especialista em ictiologia, que é o estudo dos peixes. Depois de quebrar a cabeça de tanto procurar nos alfarrábios da biblioteca, deu algumas explicações. Mas garante. Não é nada 100%.
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Esse é um peixe de água doce. É uma carpa capim, da espécie Ctenopharingodon Idellus. Provavelmente, ele habitava algum pesque-pague da região rural e chegou ao mar aberto durante a enchente, esclarece.
Segundo Paulo, o escamoso capturado pelo valente pescador se alimenta de vegetação e chegou ao Brasil há muito anos e logo virou alvo das pescarias de araque. Por se alimentar só de vegetação, esse peixe cresce muito rápido. Além disso, se adapta muito bem em lagoas rasas, diz.
O profe conta que se o peixe ficasse mais uma semana no mar salgado, certamente não sobreviveria. Como é de água doce, essa espécie tem uma regulação interna diferente dos peixes de água salgada. Ele deveria estar perdido e muito mal, finaliza.
Anos de mar
O seu Benedito Paula de Jesus, 87, pescou durante 70 anos. Há quatro, por insistência dos filhos, deixou de ir pro mar. Já viu de tudo nas redes, menos o que foi capturado pelo colega Augusto. Antes mesmo de qualquer sabichão dizer, ele já sentenciava: Isso aí é peixe de água doce. Nunca vi no mar. E arriscou dizer: Parece um pirarucu.