Oficialmente, a administração do porto público peixeiro não foi informada sobre a transação. Eles não nos fizeram nenhuma manifestação, disse ontem Antônio Ayres dos Santos, chefão-mor do porto. Mas, admitiu, já tinha conhecimento da intenção da Marfrig de se desfazer do terminal. Soube que não está mais no foco da Marfrig a gestão do terminal, comentou Antônio Ayres.
A direção da Marfrig não fala em valores sob alegação de que a empresa opera na bolsa e, por isso, tem limitações quanto ao que pode deixar vazar pra imprensa. Sendo uma companhia de capital aberto, só poderá informar detalhes sobre a transação quando for firmado um negócio, alega, na nota. O que se espalha nos bastidores do mercado é que a transação rolaria com uma cifra próxima a R$ 200 milhões.
Esta seria a quinta vez que o terminal muda de dono. Ele nasceu com a empresa Kowalski, na década de 80, foi vendido pro frigorífico Braskarne, que acabou adquirido pela indústria de alimentos Seára e que, depois, se juntou à multinacional norte-americana Cargill.
Já tem gringo de olho na Braskarne e no arrendamento do porto público
Uma fonte ligada à administração portuária diz que já haveria dois grupos internacionais interessados na compra do terminal da Braskarne. Os gringos estariam de olho, na verdade, é na ampliação da área através do arrendamento do que sobra do cais do porto público.
Como as duas áreas são vizinhas, a junção da Braskarne, que tem 150 metros de comprimento, com os 471 metros dos berços três e quatro do porto peixeiro, transformaria o novo terminal no segundo maior do complexo portuário de Itajaí. Ele passaria a ter mais de 680 metros de costado, já contando o espaço em vão que existe entre a ponta noroeste do cais público e o começo da Braskarne.
Pra se ter uma ideia do que isso significa, o APM Terminals (antigo Teconvi), que arrenda parte do porto público, tem dois berços de atracação com 555 metros de comprimento. O porto de Navegantes (Portonave) é o maior, com 900 metros e três berços de atração. O Teporti, que fica na Murta, tem 150 metros de cais.
Marfrig tem R$ 10,3 bilhões em dívidas
No seu discurso oficial, a direção da Marfrig diz que a estratégia do grupo é focar esforços em seu negócio principal: produção e comercialização de alimentos de proteína animal, como carnes de frango, de boi, porco e até mesmo de peixes.
Mas o que a Marfrig estaria é buscando soluções para suas dívidas que, pela imprensa especializada, chegou a R$ 10,3 bilhões no primeiro semestre deste ano. Na segunda-feira desta semana, o grupo revelou que vendeu uma de suas empresas, a Keystone Foods, com base nos Estados Unidos, para a também norte-americana Martin-Brower. A transação foi de 400 milhões de dólares, incluindo unidades nos próprios EUA, na Europa, Ásia, Oceania e Oriente Médio.
A Marfrig comprou a Cargil/Seára em 2010 e, com ela, também o terminal da Braskarne, que fica na rua Blumenau, bairro São João, em Itajaí. O grupo, que nasceu como um frigorífico em São Paulo, virou uma multinacional e nos últimos anos implantou uma agressiva política de incorporações de outras grandes empresas. Acabou com dívidas bilionárias como sua grande dor de cabeça e agora tá vendendo o que pode.
A direção da Marfrig não quis se manifestar sobre o incômodo assuntos das dívidas.
Compra só vai valer se ampliar área, diz consultor
Procurado pelo DIARINHO pra comentar a negociação do terminal da Braskarne, o consultor portuário Celso Félix de Lima diz que a compra somente vai valer se o novo dono tiver condições e cacife pra investir na ampliação física. Aquele terminal foi originalmente concebido como um píer pesqueiro e tem uma área portuária um tanto acanhada, observa, provocando: Quem vai comprar tem dinheiro pra fazer uma oferta para os vizinhos no sentido de ampliar?.
Questionado sobre as condições reais pra ampliação da área, o consultor afirmou: Todas as possibilidades estão abertas. É que rio acima, onde hoje funcionam uma empresa de pesca, um estaleirinho e uma metalúrgica, há ainda um potencial de crescimento de cais de pelo menos mais 200 metros. No sentido oposto, em direção à boca da barra, há a oportunidade de arrendamento do que sobra do cais público, cuja licitação tá prevista pra sair até final do ano que vem.