Itajaí
Governador Raimundo Colombo
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Raimundo Colombo, depois de muita insistência, atendeu o DIARINHO e respondeu quase todas as perguntas da reportagem
Governador de Santa Catarina pela primeira vez, Raimundo Colombo tem a missão de não decepcionar os mais de seis milhões de habitantes do estado e trazer melhorias para a população barriga-verde ...
 
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Governador de Santa Catarina pela primeira vez, Raimundo Colombo tem a missão de não decepcionar os mais de seis milhões de habitantes do estado e trazer melhorias para a população barriga-verde. E é o político de Lages, que tem mais de 30 anos de carreira pública, o nosso sabatinado deste Entrevistão.
Mas se você pensa que foi fácil ficar frente a frente com o comandante da Santa & Bela, está muito enganado. A reportagem do DIARINHO tentava marcar a entrevista desde fevereiro deste ano e só foi atendida no dia 22 de setembro. Mesmo assim, tivemos pouco mais de 30 minutos de conversa com o governador e vários questionamentos ficaram pendentes. Por causa disso, mandamos as questões para a assessoria, que se encarregou de enviar as respostas do governador. Dias depois, o recado foi que somente o governador poderia falar sobre os assuntos, e ficamos sem as respostas (as perguntas em questão estão no final do Entrevistão). Foi a primeira vez que um governador do estado, desde o início dos Entrevistões do DIARINHO, se recusou a responder as perguntas em sua totalidade.
Problemas à parte, a reportagem foi atendida por Colombo no centro administrativo do governo do estado, em Florianópolis. Em entrevista aos jornalistas Leonardo Thomé e Marcelo Roggia, o governador falou sobre vários assuntos, como o início do mandato, a última enchente, problemas na segurança, saúde, greve dos professores, privatização da Casan e, como não poderia faltar, suas pretensões políticas. As fotos são de Minamar Junior.
DIARINHO Como vem sendo para o senhor a experiência de ser governador de Santa Catarina?
Raimundo Colombo É um período de muito aprendizado, de muita informação. É um processo mais amplo do que eu imaginava e também mais difícil, mas a gente adotou as estratégias e elas estão respondendo. Primeiro, fazer poupança. Segundo, tocar as obras que estavam em andamento, quero concluir tudo antes de começar obras novas. Eu acho isso correto. E melhorar a qualidade dos serviços e fazer planejamento. Então, nós estamos cumprindo essa etapa e não tem nenhuma obra parada. A gente conseguiu fazer uma poupança e nós estamos investindo agora. E a qualidade dos serviços, a gente tá fazendo um esforço pra melhorar cada vez mais. Um exemplo é o mutirão de cirurgias, o aumento dos efetivos policiais, o avanço tecnológico. São coisas dessa ordem que já estão em curso. [Qual o maior prazer e a maior dificuldade em administrar o nosso estado?] O maior prazer é visitar obra, é inaugurar obra, é realizar um serviço que melhore a vida das pessoas. A maior angústia é ver a burocracia, a lentidão, o conflito de interesses. Essa é a maior angústia.
DIARINHO Santa Catarina acaba de passar por mais uma enchente, em especial na região do vale do Itajaí. Por que até hoje nenhum governador do estado fez algo de prático para minimizar os problemas com as cheias dos rios Itajaí-açu e Itajaí-mirim?
Colombo Muita coisa foi feita no passado. Por exemplo, aquelas barragens de Ituporanga foram feitas na década de 60. Ituporanga, Taió e José Boiteux foram fundamentais nessa enchente, sem elas nós teríamos tido uma verdadeira catástrofe. Quando terminou aquela grande catástrofe de 2008, que não chegou bem a ser uma enchente, mas teve os deslizamentos todos, o governador Luiz Henrique contratou, conquistou, na verdade, porque eles fizeram isso gratuitamente, a Jica, que é uma fundação de estudos do Japão. E eles me entregaram dia 20 [de setembro] o projeto, inclusive tá ali e eu posso mostrar pra vocês o projeto. E eles propõem algumas medidas importantes e fáceis de serem executadas. Por exemplo, aumentar a barragem de Ituporanga em dois metros. Não pode ser mais que dois por causa da estrutura dela. A de Taió, talvez um pouquinho mais de dois metros. Isso segura a água antes de chegar nas cidades. Uma outra proposta muito interessante...[interrompido pelo vice-governador Eduardo Pinho Moreira, que iria viajar pra São Paulo/ SP]. Uma das medidas que eles propõem aqui nesse estudo é você aumentar aquelas plantações de arroz que são imensas, que são de 2200 hectares e a taipa é de 10 centímetro. Se passar de 10 pra 30, você vai represar 60 milhões de metros cúbicos de água. Isso é como funciona no Japão e não tem nenhum prejuízo pra plantação, pelo contrário, tem vantagens. Isso tem um custo, claro. Tem aqui o valor, R$ 35 milhões. Mas pra represar 60 milhões. Então, esse projeto tá pronto. Ele tem três etapas: a primeira, nós teremos um custo de R$ 170 milhões, mais ou menos, mas o global seria dois bilhões e 50 milhões. E na última etapa tem até um canal extravasor. Na questão de Brusque, propõem duas comportas no Itajaí-mirim. São coisas feitas pelos melhores técnicos do mundo e eu recebi agora. Então, a gente tá indo pro Japão. Eles financiam 70% disso. A presidente Dilma [Rousseff, do PT], eu devo estar com ela semana que vem [nessa que passou] levando este material e vamos fazer um trabalho de prevenção. Aqui também tem bastante investimento de monitoramento da movimentação de água, que dessa vez já funcionou bem.
DIARINHO - Além dessas propostas da Jica, o senhor tem algum outro projeto que pretende tirar da gaveta nessa sequência de mandato?
Colombo Em relação às enchentes? [Isso, em relação às enchentes?] Não. Eu só tenho esse aqui pro vale do Itajaí. [Mas a população catarinense pode ficar tranquila que este vai sair do papel?] Este, com certeza absoluta. É prioridade máxima. Eu falei várias vezes com a presidente Dilma, com o ministro Fernando Bezerra, da Integração Nacional. O governo japonês financia essa parte, mas caso não financiasse, nós faríamos com recursos próprios nossos, talvez com o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], porque não dá mais, o que você gasta com cada enchente é quase o valor que vai ser aplicado aqui. [Já tá fechado esse contrato com o governo japonês?] Já. É comum isso, eles fazem sempre e tá muito bem feito. Agora, o que a gente pediu? Nossos técnicos estão estudando isso aqui pra ver se adapta à nossa legislação, mas eles fizeram todos os estudos [interrompido agora pra atender uma ligação do governador de Pernambuco, Eduardo Henrique Accioly Campos]. Nós temos alguns outros projetos localizados, mas de pequeno porte. Temos uma barragem de energia elétrica ali em Rio dos Cedros. A energia elétrica tem um conceito diferente da enchente. O que as barragens da enchente fazem? Elas ficam vazias e se houver muita chuva, enchem. A da energia fica cheia pra gerar energia, então o que os japoneses propõem: nós temos a informação que vai haver uma enchente ou uma chuva, hoje a gente já tem, esvazia a hidrelétrica porque vai encher. Isso a gente não tem feito e nunca operamos assim. Então, isso vai ser um ganho significativo, porque também funciona como represamento. São coisas dessa natureza que, devidamente somadas uma a outra, e em sintonia, nós vamos melhorar muito o nosso desempenho. Claro que já houve, eu acompanhei a enchente naqueles dias, eu viajei por todas aquelas regiões, viajava de carro escutando as rádios, e vi que algumas coisas funcionaram bem, o pessoal tava bem informado, sabia o que ia acontecer. Eu participei na quinta-feira à noite [8 de setembro] de várias reuniões da defesa Civil nas cidades. [Houve melhoras em relação a 2008?] Houve, significativas. Inclusive, nós criamos uma secretaria de Defesa Civil principalmente por causa disso, porque a gente fala da enchente e do deslizamento, mas tem a seca também, que também tá sendo um problema grave, não tá sendo agora. Por exemplo, a previsão pra primavera é chuvosa e muito fria, na primeira semana de outubro pode até dar neve de novo, o que seria uma catástrofe pra produção agrícola. Então, nós temos que melhorar a semente, melhorar a muda da fruticultura, nós vamos ter que dar atenção redobrada nesse sentido. [E esse projeto da Jica, o senhor tem alguma ideia de quando ele pode ser concluído?] Eu vou ser sincero pra você, eu recebi ele ontem com toda a delegação, e eles ficam até o dia 25 ... [a assessora vai atrás da informação.] [É pra ver se vai ser cumprido até o fim da sua gestão...] O prazo de conclusão da primeira fase é quatro anos.
DIARINHO O Grupo de Trabalho contra Catástrofes, criado após a enchente de 2008, pelo governo do estado, está esvaziado pela falta de estrutura. Ele tem alguma atuação prática hoje?
Colombo Não. Com a criação da secretaria da Defesa Civil, coube a ela esta função e eles estão fazendo todo o trabalho. Eu fui com o Geraldo [Althoff, secretário de Defesa Civil] em, no mínimo, 80 municípios, onde ele reuniu a defesa civil, trouxe informações, preparou. Então, nós estamos fazendo uma estrutura bem eficiente e neste teste [enchente de setembro] eu quero valorizar e tenho que reconhecer que o pessoal foi muito bem. A gente sabia passo a passo tudo o que ia acontecer. Aumentava o volume de chuva, desviava pra lá, pra cá, a gente sabia tudo, todo mundo foi informado. E esse projeto da Jica, eu participei em nove meses de oito reuniões com os japoneses. Acho que esse processo funcionou bem e nós vamos avançar muito em tecnologia. Tem hoje 16 estações de informação e nós vamos passar, pelo projeto da Jica, pra 32. Inclusive com avanços tecnológicos extraordinários. É um trabalho em sintonia. Você represa um pouco de água aqui, um pouco lá, está dentro de um planejamento bem feito.
DIARINHO Há quem afirme que o real interesse da Jica, que se diz disposta a financiar obras que vão acabar com as enchentes, seria puramente econômico e que os japoneses estariam muito interessados em comprar a Casan. O que essa afirmação tem de verdade?
Colombo Nada. A Jica é só uma fundação, ela não tem interesse econômico nenhum. Ela é do governo japonês e não tem nada a ver com Casan, não existem nenhuma ligação de uma coisa com a outra. É uma instituição séria, idônea, que já prestou muitos serviços à nossa sociedade, ao Brasil, ao mundo, e não tem nenhum investimento aqui. Eles não fazem investimentos, quem financia não é a Jica, é o governo japonês, então não tem relação. [E qual é sua posição com relação a uma possível privatização da Casan?] A Casan não será privatizada, não iremos privatizar. O que nós fizemos foi o seguinte: dos 100% das ações, acho que 32% não são mais da Casan. São da Codesc [Companhia de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina], da SC Parcerias e da Celesc. Esse percentual, a nossa ideia é vender na hora certa, que eu não sei se será daqui a seis meses, um ano, dois, e esse dinheiro não irá para os cofres do governo do estado. Ele vai pra própria Casan, através de um fundo de investimento em saneamento, que é o grande problema de Santa Catarina. Com isso, nós vamos viabilizar a contrapartida de financiamentos em diversos bancos, como o francês, o japonês, BID [Banco Interamericano de Desenvolvimento], BNDES, governo federal, e aí você vai poder fazer um sistema eficiente. Também vamos modernizar a gestão. Agora, a Casan seguirá sendo pública, com 60% a 70% das ações se mantendo públicas. Privatizar é você vender a metade e mais um, e abrir mão do comando, mas não é isso o que está acontecendo. Se nós não fizermos isso, o que vai acontecer? Os municípios sairão da Casan, que são eles que têm a concessão, nós não vamos fazer as obras que são necessárias, o povo não vai ter esgoto e o atraso na saúde será muito grande. Santa Catarina é quase o primeiro lugar em crescimento econômico, em desenvolvimento humano, em alfabetização, mas tem um problema que compromete, que é saneamento. Mostra que nós precisamos mudar o modelo. A Casan tem mais de R$ 1 bilhão contratado, que não consegue executar porque não consegue gerar o dinheiro pra isso. Então, essas ações, sendo vendidas, não vão pro caixa do governo, não vamos fazer despesas de outra ordem com isso. Vamos fortalecer a Casan. Já trouxemos Chapecó de volta, Barra Velha e vários outros municípios estão dispostos a voltar, sem falar que não deixamos mais nenhum sair, porque hoje tem uma proposta. Quem é que vai comprar as ações? Serão vendidas num leilão, na bolsa de valores, na hora que for mais adequada, que vai ser um grupo especializado que vai estudar. Ninguém sabe quem vai comprar, o leilão é da bolsa. Poderá ter vários sócios, e quanto mais tiver, pra nós é melhor. O controle seguirá sendo 100% do governo. Agora, eu poderia não fazer nada, ninguém iria criticar, mas o saneamento não ia melhorar. Acho que estas coisas você tem que ter coragem e tem que fazer.
DIARINHO A região de Itajaí e Balneário Camboriú é hoje uma das mais importantes do estado, economicamente falando, mas tem sérios problemas de segurança e saúde. Há inúmeros assaltos e homicídios e os hospitais estão em situação precária. Um bom exemplo foi o recente cancelamento de cirurgias no hospital Marieta Konder Bornhausen, o maior da região. O senhor está ciente disso? Como pretende mudar este quadro?
Colombo Eu tô ciente. Eu tô indo amanhã lá [na sexta-feira, dia 23 de setembro] fazer um convênio com o hospital de Navegantes, de um milhão de reais. Vou conversar sobre o hospital Ruth Cardoso, ali de Balneário Camboriú. Vou levar mais um milhão de reais pro Marieta e vou lá no Marieta discutir com as irmãs aquela unidade, aquele projeto que elas têm de ampliação. É muito sério. Eu também vou assinar com o prefeito Jandir Bellini o projeto de construção de uma policlínica, que eles já têm o projeto e o Estado vai disponibilizar os recursos pra isso. [E a segurança, especificamente?] Assim, nós temos que aumentar os efetivos. Então, nós formamos 465 policiais, eles vão começar a trabalhar na rua agora em outubro. Tão entrando mais 465, que é a nossa capacidade máxima, porque são oito meses o período de treinamento e mais 560 que vão ser feitos [treinados] em sete unidades/batalhões, com 80 em cada um, que é a nossa capacidade máxima. Então, nesses 16 meses nós começamos em fevereiro, seria maio do ano que vem , nós vamos estar com 1500 novos policiais. Infelizmente, nesse período, 450 vão pra reserva. Vou ter um saldo de 1050. Acontece que, se você observar que se trabalha 24 horas, 365 dias por ano, então você tem que trabalhar em turno e o incremento é pequeno. Você tem que trabalhar com esse perfil aqui de três anos, é o máximo que a gente pode fazer. Eu tô autorizando agora a chamar mais 300 e poucos do concurso da polícia Civil. Também autorizamos pro ano que vem, pra 2013 e 2014. Esses três anos, mais 500 bombeiros. Tem uma lei, estou assinando pra mandar. O que nós estamos fazendo também é muito avanço tecnológico, como a renovação da frota, assinei ontem [dia 21 de setembro] a compra de 610 novos veículos. Vamos fazer em março mais uma leva. Nós estamos agregando muita tecnologia. Por exemplo, agora os nossos carros são todos rastreados. Deu uma denúncia, uma ocorrência lá em Balneário Camboriú, a gente foi acompanhar o rastreamento do carro e encontramos a denúncia fundamentada. Nós estamos comprando equipamentos, onde o veículo fotografa a placa. Dentro do veículo andando na rua ele vai fotografando todas as placas em tempo real. Ele te dá qualquer irregularidade. Em locais públicos, tipo Marejada, tipo rodoviária ou aeroporto de Navegantes, nós temos condições também de fotografar a fisionomia, que qualquer irregularidade vai apontar. Então, nós estamos avançando muito. É o primeiro estado do Brasil que tá adotando isso. E o sistema prisional nós ativamos a cadeia lá [em Itajaí], o presídio. Infelizmente, não podemos cumprir o prazo que me deram da penitenciária, que tá prevista pra outubro. Houve excesso de chuva, a empresa tinha problema com a Caixa Econômica, que demorou. Essas coisas burocráticas que fazem a gente sofrer, que incomodam, que às vezes até desgastam a gente em não cumprir a palavra. Mas há agora compromisso com o secretariado e comigo de que, em outubro, a gente possa ativar a nova unidade.
DIARINHO O efetivo de hoje da polícia Civil de Itajaí 106 homens e mulheres, incluindo os setores burocráticos é o mesmo de 25 anos atrás. A cidade cresceu em número de população e, consequentemente, em áreas urbanas, mas a força de segurança responsável pelas investigações de crimes não aumentou. Como o senhor pretende enfrentar esse descaso?
Colombo Tem que aumentar o efetivo e ganhar em eficiência, com apoio tecnológico. E é isso que nós estamos fazendo. Agora, não tem jeito, você tem que formar o policial, você tem que qualificá-lo, você tem que habilitá-lo, e esse período não dá pra apressar isso. A única coisa que nós mudamos foi, no caso da polícia Militar, esse dos batalhões foi uma inovação [treinamento em sete batalhões, com 80 homens em cada]. E na polícia Civil, a academia, a capacidade máxima vai ser usada. No começo do ano, nós colocamos 350 policiais civis e agora vamos chamar. Estive ontem com o delegado geral da polícia, e nós vamos chamar um número igual. E realmente as regiões que apresentam os piores índices são Florianópolis e a região de Itajaí, e aí decorre diretamente de um problema de droga.
DIARINHO Governador, a gente levantou alguns números e fomos informados pelo sindicato dos Policiais Civis de Santa Catarina (Sinpol) de que gasta-se R$ 10 mil pra se formar um policial civil, mas ao final de um ano, cerca de 60 policiais civis deixam a corporação pra fazer concurso em outra carreira. Diante desta constatação, já há um plano de reestruturação do quadro funcional da polícia Civil?
Colombo É verdade. Nós estamos perdendo muitos dos nossos policiais, principalmente os jovens, fundamentalmente pro Ministério Público, pro Tribunal de Justiça, que têm um salário bem melhor. Este ano, já perdemos 35 policiais civis. Eles fazem concursos, são aprovados e a gente perde pela aposentadoria e perde por essa evasão. Mas nós estamos fazendo um reestudo salarial, estamos discutindo. É uma questão muito difícil porque os números do estado são muito grandes e se você der pra uma categoria, você tem que dar pra outra. Esse é um problema muito grave que a gente tá enfrentando e eu ainda não sei como isso vai evoluir. [Não saberia dizer como este plano será feito, como ele será aplicado?] Não. Nós estamos estudando, estamos com um grupo de trabalho. É um problema sério, muito sério. E o problema é a isonomia, você viu a greve dos professores, o problema na saúde... [E eles estão também em manifestações?] Tão. E a gente tá estudando tudo isso, tentando encontrar um critério técnico que seja eficiente e permita, porque eu tenho aqui o limite da Lei de Responsabilidade Fiscal. Se eu fujo do compromisso, eu não consigo mais nenhum financiamento. Eu não tenho um repasse do governo federal, se eu deixo de cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal. Por outro lado, o salário, a demanda salarial é presente e em muitos casos é justa. Então, essa é uma equação... olha os cabelos brancos aqui [risos].
DIARINHO O DIARINHO já noticiou algumas vezes a sua ida pra região de Itajaí, mas depois tivemos que informar o cancelamento. Por que tanta resistência em cumprir agenda em Itajaí e nas cidades vizinhas?
Colombo Não. [A assessora de imprensa do governador interfere na conversa e diz que terceiros afirmam que o governador iria, mas nunca houve a confirmação do governo. São boatos, segundo ela]. Na última vez, eu ia lá na inauguração do batalhão, mas eu fui chamado em Brasília/DF num evento, e eu preciso ter uma relação com Brasília porque consigo trazer muitos recursos. Mas amanhã [dia 23 de setembro] eu não vou faltar não, eu vou estar lá [risos]. Eu gosto muito de Itajaí, fui algumas vezes lá na questão dos portos e tal. E eu preciso estar mais presente. Mas, por outro lado, pra eu conhecer bem o governo, ter todas essas informações, eu preciso mergulhar. Se não, não dá, sabe? O que eu mais gosto é de viajar pelos municípios. Eu adoro isso, porque é a melhor parte que tem. Mas, por outro lado, eu preciso também me dedicar muito, porque eu tô conhecendo ainda. Então, pra formar minhas convicções, pra poder tomar decisões mais ousadas, eu quero fazer com cautela. Ousadia com cautela.
DIARINHO Um dos lemas de campanha quando concorreu ao senado era acabar com os cabides de emprego das secretarias de Desenvolvimento Regional (SDRs). Agora, como governador, o senhor não mexeu na estrutura. Por quê?
Colombo Eu quero conhecer bem o resultado. Eu não posso agir com preconceito, eu preciso agir em cima de uma informação real. E é isso que eu estou construindo. Eu acho que as secretarias têm um custo menor do eu dizia no começo. Eu tava errado em relação ao custo, porque a informação que eu tinha é que custava um valor x e não era bem isso. E se elas exercerem um papel de integração, eu acho que cumprem a sua finalidade. Nós estamos discutindo, e como a descentralização é um processo novo, tem oito anos de execução, eu acho que seria um equívoco interromper isso pra ficar bem com a minha palavra anterior. Eu acho que a gente deve dar mais tempo pra ver se ela tem um aperfeiçoamento melhor.
DIARINHO - O senhor também demorou meses até nomear todos os cargos das SDRs. Isso não seria atestar a falta de importância das regionais na sua administração?
Colombo É que nos primeiros cinco ou seis meses eu não ia investir nada mesmo, então não precisava manter ninguém lá. Agora é que as obras começam a acontecer, que as decisões começam a ser tomadas. Naquele momento não era necessário. Agora, não. Agora eu quero fazer reforma de escola, melhoramento em penitenciária, investimento em hospitais, enfim, agora realmente tem bastante trabalho pra fazer. Então, nomear antes seria um negócio mais político. [Esses seus primeiros meses de governo foram mais para conhecer a estrutura?] Eu denominei o programa Conhecer o Governo, para conhecer as pessoas que trabalham no governo. Uma coisa é alguém me ligar pra dizer: Olha, a rua tal, a praça tal precisa de não sei o quê. Outra coisa é eu ter ido lá, ter visto. Uma coisa é alguém dizer que o hospital de Navegantes precisa de recursos. Outra coisa é eu ter ido lá conhecer, ver como estão fazendo, qual o resultado. Isso vale pra mim e vale também pra todos os nossos secretários, pra nossa equipe. Agora, eu não parei nenhuma obra. É como você começar a construir uma casa e fazer 80% dela, erguer as paredes, fazer o forro, mas se não colocar as janelas e a porta, você não vai morar lá, não usufrui. Eu quero terminar com as obras que estão em andamento. Nós temos mais de 500 quilômetros de estrada que vamos entregar até o fim do ano. Em Itajaí, por exemplo, nós vamos assinar o projeto da policlínica, vamos fazer um elevado que o prefeito Jandir [Bellini] pediu. Agora começam obras novas e a gente guardou dinheiro para fazer isso.
DIARINHO Na sua opinião, o que mais arranhou o governo politicamente: a greve dos professores estaduais ou o troca-troca de partidos, com a criação do PSD?
Colombo Eu acho que foi a greve dos professores. O troca-troca de partidos, eu não troquei, eu estou fundando um novo. Me sinto mais confortável defendendo uma ideia nova. Acho que a política está desgastada, desmoralizada e o modelo está errado. A minha expectativa de criar um partido novo é que este partido se contraponha a isso e consiga trazer propostas novas, que a gente tá tentando fazer. Se nós não conseguirmos, serão mais três letrinhas que não vão pesar e nem valer nada. É exatamente isso. Já a greve dos professores nos trouxe pra fora um problema que existe: o professor ganha mal, a educação está perdendo qualidade, e também greve, confronto, desgastam. [O senhor acha que no final os professores acabaram perdendo a razão da greve?] Toda a greve termina assim, ninguém tem razão no final. Desgasta o governo, desgasta os professores, desgasta o sindicato e desgasta as famílias. Por isso que a gente tem que dialogar e não deixar isso acontecer. Agora, eu tenho limites. Eu não posso pagar um dinheiro que eu não tenho. Hoje, o Rio Grande do Sul tá com problema, Minas Gerais tá com problema, todos os estados estão com problemas. É uma situação geral do Brasil inteiro. [Até que ponto o processo de criação do PSD e a mobilização por adeptos à nova sigla atrapalharam o andamento do governo?] Não atrapalhou em nada, até porque eu não me envolvi, não participei praticamente de nenhuma reunião política, não fiz nenhum telefonema. Até meus companheiros reclamam disso. Eu sou partidário, torço, estão ali meus companheiros, meus amigos, mas eu também tenho uma aliança e eu quero ser correto com todos. Não houve nenhuma interferência no governo e nem tirou tempo ou prioridade minha. Eu não ajudei em quase nada.
DIARINHO - O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, criou o PSD alegando insatisfação no Democratas. No início do ano, quando foi levantada a possibilidade do senhor fazer o mesmo, o senhor declarou a permanência no DEM. Afinal, o que o Kassab lhe prometeu para convencê-lo a ir pro PSD?
Colombo Eu tive uma conversa com o DEM, com o José Agripino e o Marco Maciel [senadores democratas], lá em Blumenau, e eu disse pra eles o seguinte: O DEM tá inviabilizado. Seu posicionamento ideológico está errado. Nós somos contra tudo e contra todos, o tempo todo, o que era o PT antes de ser governo. E isso pra mim não serve. Ou a gente faz uma fusão com o PSDB e constrói uma coisa nova, ou eu vou sair. Eles demonstraram interesse, tentaram ajudar. Eu falei com o Aécio [Neves, senador do PSDB], falei como [Geraldo] Alckmin [governador de São Paulo, também do PSDB], falei com o [José] Serra [uma das principais lideranças tucanas no país], pedi a influência do Fernando Henrique [Cardoso, ex-presidente] também, mas não houve condições, em alguns estados não era possível fazer a fusão. Então, eu me senti desobrigado, e eu realmente acho que é necessário fazer um rearranjo da política brasileira. Acho que hoje as redes sociais dinamizaram muito. O processo está errado. E eu espero que, a partir de um partido novo, em formação, se consiga fazer isso. Não é muito fácil, mas acho que vale a pena tentar. [A sua ida pro PSD é 100% certa?] Sim, 100% certa. [E como o senhor viu aquela questão das filiações no PSD, de acharem assinaturas até de pessoas que já morreram pra criação do partido?] Às vezes, pode até ser maldade de algum adversário. Inclusive, nós fizemos algumas investigações, isso pode ter ocorrido. Mas o que acontece nesse caso? Você entrega uma lista e a lei determina que o cartório referende a assinatura. Se não conferir, não passa. Então, quem faz isso é idiota, porque não vai ser referendado e ainda traz um desgaste. Por que fizeram isso? Ou por incompetência ou por burrice. Se a pessoa assinou falso, na hora você vai conferir. Foi uma coisa idiota.
DIARINHO - No Entrevistão que concedeu ao DIARINHO, o vice-governador Eduardo Pinho Moreira disse: O PMDB provavelmente vai ter projeto em 2014. O nosso compromisso [com Raimundo Colombo] foi pra 2010. Isto quer dizer que a tríplice aliança desandou ou vai desandar?
Colombo Eu acho que é muito cedo pra avaliar isto. O projeto de 2014 sofre influência do projeto de 2012, pode surgir uma liderança nova, carismática, que agregue popularidade, e se um partido tiver um candidato viável, ele vai lutar por isso. Se for mais adequado, se a aliança tiver tido sucesso, se a sociedade aprovar, ela vai ser mantida. Eu é que não sei se vou ser candidato em 2014 [risos]. [Vai tirar umas férias da política?] [risos]. Eu acho que tem que deixar correr pra ver. Se você tiver fazendo uma gestão exitosa, com compreensão das pessoas, aí vale a pena o sacrifício. [E tem havido esta compreensão até o momento?] Tem. É muito forte a compreensão das pessoas com o nosso esforço. Eu sinto isso. Teve uma fase muito difícil durante a greve, que a gente era muito contestado, mas agora eu sinto que as pessoas compreendem o esforço. Mas a aliança política é feita por outros parâmetros. É o que eu digo: se surgir uma pessoa num partido, com potencial eleitoral, o partido vai querer ter. É como o teu time de futebol. Se começar a deslanchar, a torcida se une em torno dele. Eu acho natural que cada partido tenha agora o seu candidato.
DIARINHO Então não poderíamos dizer hoje que seu principal objetivo político é a reeleição?
Colombo Sinceramente, não. Eu não saberia avaliar isso hoje. O meu problema que é eu estou há mais de 30 anos na atividade pública. Entrei por acaso, sempre dizendo que na próxima eu iria sair. Se eu tiver sentindo que a gente está fazendo um bom trabalho e que as pessoas querem que a gente continue, eu vou continuar. Se eu sentir que as dificuldades são grandes, que desarrumou a aliança e que também o processo de êxito não tem compreensão, não há porque continuar, não é uma obsessão. Nunca mais pude jogar futebol, tomar chimarrão, conversar com meus amigos, e eu gosto muito disso, sinceramente. Você não tem nem mais um minuto de privacidade e é uma coisa... Não é ruim, mas também não é bom. [Ainda mais que boa parte do ano foi de greve dos professores...] E ainda nos últimos 40 dias deram quatro enchentes. Eu não tô reclamando. Se o povo que perdeu a casa, que perdeu a geladeira, não reclama, só falta eu reclamar. Não tenho esse direito. Pra mim tá tudo bem, em nenhum lugar vocês viram eu reclamar e não vou reclamar. Eu tenho que dar o exemplo da superação. Mas do ponto de vista pessoal, eu também quero jogar bola, quero sentar com meus amigos, viver. Agora, se o que eu tô fazendo vale a pena, tá unindo Santa Catarina, tá trazendo bons resultados, vamos continuar. Se tiver um cara melhor do que eu, passo o bastão com o maior prazer [risos]. [Mas pelo andar da carruagem, se a eleição fosse hoje, o senhor acha que venceria nas urnas com a mesma facilidade que na eleição do ano passado?] No começo de uma gestão, acho que tem que ser avaliada a postura do governante. As ações ainda não dão pra avaliar, porque elas estão muito no começo. Como eu disse antes, eu tô continuando as obras, ainda não impus minha marca. Eu acho que temos que avaliar mais lá na frente. Esses dias me disseram: Mas você é muito conservador, espera um pouco pra decidir. Claro, eu quero conhecer. É tão fácil decidir rápido com o dinheiro dos outros. E eu acho a cautela, o bom senso, uma coisa fundamental. E esse é o meu estilo. Pode ser que daqui três anos os catarinenses vão dizer: Esse cara não serve pra nós. E eu vou perceber isso. Mas, por enquanto, é esse o jeito que a gente gosta de governar, tá tendo resultado e vamos continuar. Não vou me acovardar, acho que tem que deixar correr. Não sei se hoje tem alguma pesquisa, qual o grau de avaliação, mas eu não fiz nenhuma burrada também [risos].
Perguntas que ficaram sem respostas:
DIARINHO Especialistas catarinenses dizem que nenhuma das ações propostas pelo grupo Jica representa uma grande novidade, já que técnicos catarinenses já teriam proposto soluções parecidas. Por que só se valorizam essas soluções quando elas são importadas?
DIARINHO Há um desgaste entre a polícia Civil e a Militar catarinense que foi tornado público. Os policiais civis, que por previsão constitucional são responsáveis pela polícia judiciária, estão insatisfeitos com a possibilidade de a polícia Militar registrar BOs ao invés de se limitar ao policiamento ostensivo. Por que há essa confusão entre as funções das polícias em Santa Catarina? Por que o governo tem permitido essa interferência?
DIARINHO A ideia da unificação das polícias Civil e Militar já foi pauta de debate entre as cabeças que pensam a segurança pública em seu governo? Qual a sua posição sobre essa proposta?
DIARINHO Nos últimos anos temos registrado um aumento no número de ocorrências atendidas pela polícia Militar cujo desfecho acaba em mortes. Algumas ações registradas em Itajaí, por exemplo, foram visivelmente desastrosas, pois pessoas inocentes acabaram mortas. Além disso, há denúncias de que policiais militares sejam donos de empresas de segurança, atuando na proteção de empresários e seu patrimônio. Há muitos casos de delinquentes que atacam essas empresas sob a proteção de PMs e depois acabam mortos. A exemplo do que temos visto no Rio de Janeiro, não é um risco quando a polícia Militar acha que tem licença para matar?
DIARINHO O senhor conhece o teor do texto do novo Código Florestal, cujo relator no senado foi o ex-governador LHS? Especialistas denunciam que ele fará um grande retrocesso na legislação ambiental. Não é um contrassenso que o ex-governador de um dos estados mais assolados por enchentes seja a favor de uma legislação menos restritiva com as questões ambientais? O que o senhor pensa a respeito?
DIARINHO Corre uma investigação no Ministério Público Federal que investiga, por parte de funcionários públicos, a venda de licenças frias para construção de empreendimentos que contrariam a legislação e agridem o meio ambiente. Os funcionários estariam se corrompendo em troca de dinheiro. A Fatma de Itajaí é uma sob suspeita. O que o senhor sabe sobre essa investigação? O que pretende fazer a respeito?
RAIO-X
Nome: João Raimundo Colombo
Idade: 56 anos
Naturalidade: Lages/SC
Estado civil: Separado
Filhos: Dois filhos
Formação: Produtor rural na região de Lages, Colombo estudou até o final do ensino médio
Carreira pública: Supervisor do governo de Santa Catarina no Planalto Serrano (1981/1983); secretário de Estado do Desenvolvimento Social (1983/1985); diretor administrativo da Telesc (1985/1986); deputado estadual por Santa Catarina (1987/1988); prefeito de Lages (1989/1992); presidente da Celesc (1993/1994); presidente da Casan (1995); deputado federal por Santa Catarina (1999/2000); prefeito de Lages por mais duas vezes (2001/2004 e 2005/2008); senador por Santa Catarina (2007/2010); e governador de Santa Catarina (2011/2014)
"A maior angústia é ver a burocracia, a lentidão, o conflito de interesses"
"A Casan não será privatizada"