Matérias | Entrevistão


Itajaí

Guto Dalçoquio

“Uma vez me perguntam por que eu saí da política. E eu me pergunto por que entrei”

Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]


O mais jovem vice-prefeito que Itajaí já teve atende pelo nome de Augusto Emilio Dalçóquio, o Guto, que foi vice de Jandir de 2000 a 2004. Guto traz no sobrenome a força da empresa criada pelo pai há 43 anos, e que é referência nacional no transporte de cargas em caminhões.


Guto sempre trabalhou na empresa da família e teve contato com a política ainda jovem. Aos 22 anos, foi superintendente da fundação Cultural de Itajaí. Deu asas ao festival de música da cidade e ...

 

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Guto sempre trabalhou na empresa da família e teve contato com a política ainda jovem. Aos 22 anos, foi superintendente da fundação Cultural de Itajaí. Deu asas ao festival de música da cidade e, três anos depois, foi eleito vice-prefeito junto com Jandir Bellini (PP). E essa relação político-empresarial sempre foi alvo de muitas especulações e ciumeira. A última grande polêmica foi o caso Trocadeiro, publicado pelo DIARINHO em setembro. A reportagem fala de supostas informações privilegiadas concedidas pela prefeitura ao grupo Dalçóquio, que adquiriu um terreno para fazer seu porto privado, cujos sócios são políticos e empresários poderosos. Na entrevista concedida aos jornalistas Bárbara Bianchi e Raffael do Prado, Guto não se esquivou dos questionamentos e falou novamente da polêmica declaração ao DIARINHO, quando afirmou que uma empresa seria mais importante do que uma creche para a cidade. Os cliques são do repórter fotográfico Minamar Junior.



 

DIARINHO – Na época que o senhor era vice-prefeito teve início o festival de música. Este ano, ele chegou à 14ª edição. O festival cresceu, mas mantém a sua essência?


Augusto Emilio Dalçoquio - Ele cresceu, mas eu vou ser um pouco saudosista. O festival não começou comigo, começou em 1998. Em 1999, eu assumi a fundação Cultural. Mas o primeiro festival teve uma programação bem pequena. Em 1999 eu vim com uma vontade de fazer e a equipe era muito boa. E eu sempre disse: “o festival de música não é uma ponte que a gente está fazendo pro rio passar embaixo. Itajaí é uma cidade musical. Então a gente tem que fazer o seguinte: transformar essa cidade musical numa cidade musical.” Na época, os registros de músicos do Brasil e de Santa Catarina mostravam que o maior número de músicos do estado eram de Itajaí. Fazer desse festival de música um encontro da música e das oficinas. E o artista nacional, na minha opinião, não pode vir aqui só pra fazer um show e ir embora. Não. Eu quero que ele venha fazer o show e passe pelo festival, pelas oficinas de música, que vire uma comunidade musical. Durante um tempo foi assim. Eu abri a porta da minha casa, da minha família. A gente fazia churrasco. Eu tive momentos ótimos na minha casa com o Milton Nascimento, com a Elza Soares, com todo o pessoal do festival de música. A família Caymmi veio para cá. Tem que se preocupar com a programação aliada ao que o artista vai fazer aqui na cidade. Eu lembro do João Bosco que veio fazer o show e passou o dia inteiro na cidade. Foi no mercado público, curtiu a cidade. Quer dizer, não é mais um show de agenda que o artista vem fazer. Ele tem que vir participar do festival, conviver com os músicos. Era essa a diferença que eu sentia na minha época. Posso estar sendo saudosista. É uma crítica construtiva. Pessoas que davam aulas no festival tinham vontade vir passar férias aqui depois. Eu lembro da Leila Pinheiro me cobrando no telefone, querendo participar do festival. Então, a gente via essa vontade do artista em vir para cá. Isso que eu gostaria de ver de volta no festival de música. Claro, está cada vez mais profissional, mais estruturado. Mas eu acredito que essa humanização do festival esteja faltando. E falta também mais participação da população. Eu vi o show do Arnaldo Antunes. Nem sempre um show aberto, num lugar aberto, quer dizer que é popular [o show abriu o festival de 2011, dia 3 de setembro, e ocorreu ao ar livre, nos molhes da praia da Atalaia]. Às vezes, tem que saber que artista que vai fazer isso. Vou fazer a minha crítica a isso. Por exemplo, um show do Ney Matogrosso, o qual eu já vi em teatro. Aí, pensa: ah, eu vou popularizar. Mas nem sempre é assim. Fizeram Beth Carvalho e outros, aí é outro tipo de show. Mas Arnaldo Antunes, pelo tipo de show e pelo lugar que era, talvez não tenha sido popular. Fizemos o show do Milton Nascimento e do Djavan em um lugar coberto, quando choveu nos dois shows, mas estava coberto, na época era a lona da Marejada. Cobramos cinco reais. Não cobrar nada? Hoje, quem não paga cinco, 10 reais? Essa coisa de ser graça, eu tenho minhas dúvidas... Eu acho que a população quer ir também a um bom show, quer ter conforto.


DIARINHO – O fato de o evento estar mais envolvido com a universidade não estaria afastando o festival do povo de Itajaí?

Guto – Não. O que está faltando é a casa da Cultura ficar pronta. Eu estou fazendo uma crítica construtiva ao festival, já que vocês estão fazendo a pergunta. Eu fui convidado pelo prefeito a retornar à fundação Cultural, mas não aceitei. [Foi recente o convite?]. Sim, eu agradeci e agradeço até hoje a lembrança do meu nome. Eu não tenho esse tempo disponível para estar na fundação Cultural. Quando eu fui superintendente da fundação, em 1999, eu saí da empresa [Dalçoquio]. O meu tempo de dedicação é aqui na empresa. Eu não conseguiria fazer os dois. A Univali pode ser uma boa integração. Tem a faculdade de música. Mas falta a casa da Cultura ficar pronta. A casa é um grande centro cultural do festival de música. A gente fazia apresentação nas praças. Tanto da igrejinha velha quanto da igreja matriz. Falta concentração maior em um lugar.

DIARINHO – Após ser vice-prefeito, o senhor abandonou a política. A experiência foi mais negativa que positiva?

Guto – Uma vez me perguntam por que eu saí da política. E eu me pergunto por que entrei. Foi espetacular. Primeiro, eu tinha 22 anos quando entrei na fundação Cultural. Um jovem. Eu me lembro da primeira reunião que participei em que o mais jovem tinha 22 anos de cultura. E eu 22 de idade. Nunca pensei em ficar ali. Mas queria fazer alguma coisa pela cultura. Não sou artista plástico, não sou cantor, não sou compositor, mas eu sabia administrar a cultura de Itajaí. O que eu fiz? Peguei os projetos junto com esse pessoal, tínhamos grandes projetos do festival de música. Vamos florescer isso? Como? Com patrocínio, dinheiro. Então a amizade política que eu tinha tanto com Jorge Bornhausen, Angela Amin, Esperidião Amin; tinha o governo do Fernando Henrique, que era aliado ao nosso governo. Aí surgiu a ideia de ser vice-prefeito. Nem imaginava. Aí, com 25 anos, fui vice-prefeito, fui um dos mais jovens, assumi 11 vezes a prefeitura. Não sei se teve alguém que assumiu tanto tempo quanto eu. Administrar a cidade onde tu nasceu, aos 25 anos de idade, foi uma emoção, uma experiência na minha vida que eu levo a reuniões de negócios, a experiência da vida pública... Mas eu, durante esse tempo, percebi que, olhando para dentro de casa, foi uma boa experiência, mas eu tinha muita coisa para fazer na empresa da minha família. Por todas as organizações que tínhamos que fazer, pelo que estamos passando hoje. Não digo decepção, mas vi que tinha muito mais para fazer pela minha família do que na vida pública. Eu só me arrependo daquilo que eu não fiz. [Teve algum projeto que o senhor quis implantar e não aconteceu?] Teve um projeto que ficou na minha mão e por vários motivos até hoje não foi concluído, que é o da praia Brava. Hoje é uma realidade. Depois veio o governo do Volnei, agora o Jandir, que tá melhorando. Na época, existia uma cobrança da população para melhorias naquela área, que tava abandonada. A praia Brava para mim é um ponto hoje, de Santa Catarina e do Brasil, importantíssimo, falando turisticamente. E tem que ser tratada com o maior carinho. Eu não me dediquei tanto. Mas os outros projetos, o teatro municipal é um prazer eu dizer que fiz parte. Fiz parte porque eu não estava sozinho. Era uma equipe querendo que acontecesse. A cultura cobrando, com toda razão. Existia o projeto da casa da Cultura no São João, onde é o parque Alessandro Weiss, que infelizmente não saiu. Mas eu acho que os pontos principais da cidade, nós fizemos: fizemos o bem-morar, o crescimento do porto de Itajaí. Porque na nossa campanha a grande batida era que a terceirização do porto de Itajaí iria quebrar a cidade, que a minha família iria comprar o porto. Então, a gente demonstrou que nada disso aconteceu. A cidade cresceu, a minha família não comprou o porto. Na época se dizia que a gente ia fazer o transporte das cargas, que seria só a Dalçoquio. Pude mostrar isso pessoalmente, que eu estava aqui para ajudar o Jandir a ser o administrador da cidade. Não era nada em benefício próprio. Graças a Deus, os 43 anos de negócios da minha família foram de trabalho e não de benefícios políticos e partidários.


DIARINHO – No cenário político itajaiense estão no comando sempre as mesmas pessoas, alternando os grupos políticos. O que falta para surgir e emplacar uma nova geração de políticos na cidade?

Guto – Tirar o medo dos velhos de que o novo precisa entrar na vida pública. Acho que todo mundo tem que saber a hora de sair. O exemplo bom é o do Pelé: ele é o rei, pois soube a hora de sair e fazer seus sucessores. Saber o timing. Há grandes homens públicos em Santa Catarina, mas tem que saber a hora de parar. Isso é em qualquer lugar. A empresa vai ter o meu tempo de sair também. Sucessor se faz quando vivo. Quando morre, é herança. A pessoa que sabe fazer o seu sucessor, escolhido ou não por um colegiado, tem a sua grande vitória. Como o Lula fez com a Dilma. Está na hora dessa turma, que só faz discurso de renovação política, botar isso em prática. O novo está com vontade. O medo do homem público é fazer os novos aparecerem. E é tão bonito ver o novo surgindo. A cidade de Itajaí, independente dos partidos, tem gente boa surgindo. [Da velha guarda, quem o senhor acha que já deveria ter parado? E desses novos, poderia citar alguns nomes?] Quem sou eu para classificar o que é velha guarda? Eu só acredito que tem pessoas que poderiam estar trabalhando para aqueles que vão estar no futuro político da cidade de Itajaí. Eu não vou classificar aqui quem é velho, eu nem posso. A experiência faz a pessoa. Hoje, tenho 35 anos, quando tiver 70, não quer dizer eu vou ser a velha guarda. [É uma questão de mentalidade?]. É. Por isso que eu digo. O Pelé parou com 40. Mas ele é o rei porque soube a hora de parar. Esse timing, cada um tem o seu. Tem homens públicos de Santa Catarina que eu tenho o prazer de conhecer, de ter convivido, que souberam a hora de parar. E da nova política, tem bons nomes na nossa cidade, que eu tenho certeza que precisam ser olhados como um diferencial, porque talvez seja aí a nova geração política da cidade.

DIARINHO – O senhor às vezes faz declarações afirmando que a política itajaiense vira as costas para as pessoas mais jovens. Isso fez o senhor se desmotivar com a carreira política?

Guto – Eu sou até um pouco o inverso disso. Eu fui visto como uma renovação política. Quando eu fui vice-prefeito do Jandir, eu tinha 25 anos, quer dizer, eu fui uma aposta. A minha entrada na política é até uma comprovação de que a renovação poderia existir. Mas nem sempre a gente se sente bem em todos os lugares. Eu sempre digo: eu me incomodei em estar em algum momento em tudo isso. Bem, se eu estou incomodado, eu que tenho que me retirar. É a famosa frase “os incomodados que se retirem”. Foi o que aconteceu. Foram várias situações que me fizeram pensar em: “eu estou me dedicando à minha cidade, estou tendo prazer em ser vice-prefeito da minha cidade, sou uma aposta de renovação política na minha cidade”. Ontem [quarta-feira], eu escutei de um político: “esses jovens estão dizendo que não querem mais a política, e eu estou ficando preocupado”. Mas a gente só vai pras coisas que interessam quando os exemplos são bons. Felizmente, temos ótimos políticos no país. Mas, infelizmente, tem muitos políticos que nada fazem pelo nosso país. E isso desanima a nova geração. Mas não podemos desanimar. É a mesma coisa na empresa. Cada imposto que eu pago, cada cheque que se faz aqui e que gera PIS, Confins, e saber que a contrapartida não está sendo feita pelos governantes... Não é por isso que eu vou deixar de pagar, de ser empresário. A gente não pode desistir. Mas dá, às vezes, desânimo.


DIARINHO – Quando noticiamos a matéria sobre o caso Trocadeiro e o questionamos sobre a operação, o senhor disse que era mais importante uma empresa do que uma creche para a cidade. O senhor acredita mesmo nisso?

Guto – Os dois são importantes. Cada um no seu lugar, literalmente falando. Só para ter um exemplo, depois da frase publicada no DIARINHO, fiquei pensado: “vou ser obrigado a ver quantas creches foram feitas no nosso governo”. E foi uma das épocas em que mais houve construções de creches em Itajaí. Na verdade, o que é que eu disse naquela entrevista? Tinha um contexto. Entre uma empresa e uma creche, naquele local que a Trocadeiro está, é muito mais interessante uma empresa. Não que eu seja contra creche. Muito pelo contrário. Sou um apaixonado por crianças. Quem me conhece sabe disso, quero ter meu filho, minha filha, sou apaixonado pelos meus sobrinhos. Não sou contra creches, mas têm lugares específicos para construí-las. Primeiro que aquele terreno fica na beira do rio. Tem lugares pra fazer praças e creches muito melhores do que a beira do rio e uma área onde a gente vai estar sempre fazendo monitoramento ambiental. Foi essa frase que eu disse.

DIARINHO – Os empresários estão confiantes na vinda da Volvo Ocean Race como um incentivo à economia da cidade? A etapa da regata representará uma mudança de hábitos e uma evolução para a cidade como um todo?

Guto – É um grande evento. Eu vi esse evento em Portugal, em 2001, eu tava num evento com a Univali em Lisboa e eu fui a Cascaes ver uma etapa da Volvo. Nunca imaginei que fosse acontecer em Itajaí. E, realmente, o tempo que fica na cidade, quase 30 dias, movimenta muito. Nós não temos ideia de quantas pessoas falam disso no mundo. É um esporte um pouco mais elitizado, mas faz muita gente vir para cá conhecer a nossa cidade, conhecer o Brasil. A cidade vai ser comentada no mundo. Isso é um ganho para a cidade. É um esporte super elitizado, mas eu digo sempre uma coisa: o esporte integra muito as pessoas, mais do que um show. O Rock in Rio integra naquele momento. Mas o esporte é um circuito, tem o preparo do atleta. Itajaí vai ser mostrada para o mundo. Esse ibope é bom para a cidade. Já é conhecida como um grande porto e uma grande prestadora de serviços. Já dizia uma frase da bandeira de Itajaí: do rio vem a nossa riqueza. E a Volvo Ocean Race vem condecorar tudo isso.

DIARINHO – O senhor acha que Itajaí está preparada para receber a etapa da Volvo?

Guto – Eu não sei nem se o Brasil está preparado para receber as Olimpíadas e a Copa. Imagina Itajaí. Quanta coisa que a gente tem para melhorar! Tem que acelerar. Eu sou um crítico feroz da Copa e das Olimpíadas, mais da Copa até. Temos que nos preparar, correr atrás, Itajaí está no olho do mundo. É a mesma coisa para a Copa e para as Olimpíadas. Também é uma construção. O que vai ser feito na Volvo Race, pra mim, é o começo de uma oportunidade maior lá na frente. A cidade de Barcelona se transformou depois das Olimpíadas [1992]. Houve um legado. Todo grande evento não pode acabar quando termina o evento. Pra mim, começa, pra cidade, a possibilidade de abrigar novos eventos. Eu acredito que tem que correr muito atrás pra que em abril do ano que vem estejamos preparados para isso.

DIARINHO – O senhor foi escolhido pelo seu pai entre seus irmãos para estar na presidência do grupo Dalçoquio, há cerca de dois anos. Comenta-se que haveria brigas constantes entre seus dois outros irmãos para comandar a empresa. Sua saída da presidência do grupo tem algo a ver com problemas familiares?

Guto – Na verdade, meu pai [Augusto Dalçoquio Neto] foi fazer uma cirurgia do coração. Meu irmão [Emilio Dalçoquio] era diretor operacional e minha irmã [Maria Regina Dalçoquio] diretora administrativa. E, talvez, por eu ter participado da vida política - eu nunca perguntei a razão pro meu pai -, mas ele fez uma reunião com todos os filhos e me escolheu para ser o presidente. Se foi bom ou ruim, eu não sei. Meu irmão me ajudou muito na parte operacional. A Regina, que está comigo, conhece muito da área administrativa e financeira da empresa, e eu fui o presidente que pôde consolidar isso até um momento. Quando eu percebi que o meu pai estava retornando à empresa, eu disse: não tem como uma empresa ter dois presidentes. Meu pai retornou à presidência e eu fui cuidar dessa área de armazenamento. Mas isso sem nenhum problema. Ele ficou preocupado com o que as pessoas pudessem falar. Foi um processo de amadurecimento. Ele quis ficar na transportadora, com o meu irmão e mais o sócio, pois é o mundo dele. Ele é apaixonado por caminhões.

DIARINHO - O senhor está se filiando ao PSB [Partido Socialista Brasileiro]. Não é estranho alguém com tanto envolvimento no setor privado entrar para um partido que tem uma bandeira socialista?

Guto - É estranho tanta coisa, né? Eu digo que se partido fosse bom, não era partido, era inteiro. Mas por que é partido? Porque é uma parte que pensa dessa forma. A questão da ideologia partidária no Brasil, e eu me incluo nisso, tem que amadurecer muito. A gente ainda não tem essa questão de ideologia. Mas a gente sabe onde não se sente bem. Como eu falei, os incomodados que se retirem. Eu não tinha mais motivos para estar no PSDB [Partido da Social Democracia Brasileira] por vários motivos. Até porque o PSDB saiu, até onde eu sei, da administração do governo do Jandir Bellini (PP). Eu, antes de tudo, sou amigo do Jandir. Fui vice dele. A minha saída do PSDB era certa. Deixo grandes amigos, mas o PSB vem de um convite do Antonio Ayres [dos Santos Junior, superintendente do porto de Itajaí]. Confesso que eu não estou pensando na questão de que é socialista, porque eu estou entrando no partido político de um grupo. Eu tive o prazer de conhecer, há uns dois anos, o Eduardo Campos, governador de Pernambuco, que é PSB. O conceito dele, de voltar a administração para as cidades, eu estou achando espetacular. Porque a gente fala muito de país, de estado, mas a população vive na cidade. É na rua da tua casa, na calçada, é no bairro que a gente convive. Então, o conceito dele de administração, eu estou achando muito interessante. Mas não vislumbrei candidatura, não sou candidato, nada disso. A minha saída do PSDB era quase certa, ou eu ia para o PSD [Partido Social Democrático, criado este ano pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que reúne, principalmente, dissidentes do Democratas], por um convite que eu tive do Paulinho Bornhausen (PSD). Aliás, foi assim que surgiu a minha vida pública, através de um convite do Jorge [pai do Paulinho], que me fez entrar no antigo PFL. Quando surgiu o PSB eu mantive contato com o Paulo, e expliquei que ia para lá junto com o Antonio Ayres e uma equipe. Ele entendeu e aceitou.

DIARINHO - Você falou de um projeto na praia Brava que não conseguiu colocar em prática. Foi a sua maior decepção enquanto vice prefeito?

Guto – Sim. [Você chegou a receber alguma proposta ilegal ou imoral?] Ah! Isso a gente recebe todos os dias e em vários lugares... Eu nunca dei abertura para isso, nunca precisei da vida pública para minha sobrevivência. Eu entrei por uma questão de tentar ajudar a cidade onde eu nasci, seja como superintendente da cultura e depois como vice-prefeito. Então, talvez por isso, ninguém chegou perto de mim com qualquer proposta indecente. Que eu lembre, nunca teve.

DIARINHO – Voltando ao caso Trocadeiro. Segundo especialistas, não houve ilegalidade na operação, talvez imoralidade. O senhor recebeu informação privilegiada enquanto vice-prefeito sobre o terreno da Shell? Soube da oportunidade e resolveu avisar sua família sobre a possibilidade de instalação de um porto privado no local?

Guto - Não. Vou contar a história. Em 1996, o prefeito Arnaldo Schmitt (PMDB) pediu para que todas as petroleiras saíssem daquela área por questões ambientais. E aí, algumas áreas foram compradas por nossa família, a Souza Cruz, a Ipiranga e a Texaco. Acredito que uma das grandes preocupações do Jandir foi com o que seria feito ali em cima. É uma área importante. Mas, como eu falei, é do rio que vem a nossa riqueza. Então, em 1998, eu nem estava na prefeitura, foi feito este decreto para preservar a área. Mas em nenhum momento a prefeitura efetuou esse pagamento para a Shell. O primeiro que quis comprar a área foi o seu Nino, da Femepe [indústria de pescados com sede em Navegantes]. Ele queria instalar uma indústria alimentícia, mas a Shell não quis fazer a venda, justamente porque ali existem poços de monitoramento permanentes. Então, a Shell não quis, mas ao mesmo tempo, ela queria fazer a venda para uma empresa que pudesse instalar algo viável naquela área. Em 2000, quando foi criado o Trocadeiro, o prefeito viu que ali dava para fazer um terminal. Tinha o interessado e a Shell queria vender. Então, a compra foi diretamente entre a Dalçoquio e o sócio que nós tínhamos com a Shell. A prefeitura não tinha nem dinheiro na época para pagar o valor da desapropriação e talvez nem interesse para isso. Para que ela decretasse aquilo como utilidade pública, ela teria que pagar a Shell no valor de venda do mercado. Eu faço parte da família, mas eu não estava nesse momento da compra. A Nortox [agroquímica] era a empresa que entrou de sócia e que tinha a carga própria. Logo depois que ela saiu, nós compramos a parte dela, precisávamos de carga própria, pois a agência Nacional exige para liberar a instalação de um porto privado. A Frigovale tinha carga própria e interesse na exportação de frangos. Se a operação fosse irregular, ou se fosse algo secreto, não estaria no contrato social, que é público. Não temos o que esconder. O Jandir Bellini, antes de ser político, é empresário. Apesar da vida pública, a família tem negócios. Não existe um benefício, existiu uma negociação entre empresários. Até hoje nós temos postos de monitoramento naquela área. Não estou dizendo que se riscar um fósforo vai pegar fogo na área, mas existe o passivo ambiental. Não sei se a informação chegou ao jornal através de uma denúncia, mas acredito que foi muito mais por uma questão política do que empresarial.

DIARINHO - Hoje, a Panimex Química Importadora é uma das sócias do Trocadeiro e é a responsável por cumprir a exigência de carga própria do complexo portuário. Esta empresa já teve o nome ligado a denúncias de desastres ambientais, inclusive com protestos públicos. Há razões para o povo de Itajaí se preocupar?

Guto - Não, eu fui ao terminal deles na Argentina, e os produtos que eles têm, alguns são compatíveis com os que temos aqui, outros não. Lá, pode receber produto inflamável, aqui não. O manifesto que houve no CQC da Argentina era de uma ação que estavam querendo fazer. Mas era uma indústria. Não tem nada a ver com o que fazemos no Trocadeiro. Aqui o produto já vem pronto. Ele não é classificado, é um plastificante. A situação lá é como se eu fosse abrir uma empresa de químico aqui no centro da cidade. Tanto é que ele só virou sócio nosso sabendo disso, que em nenhum momento teria a possibilidade de receber produtos inflamáveis dentro do nosso terminal.

DIARINHO - Não achamos registros de doações do Grupo Dalçoquio para campanhas eleitorais. A empresa realmente não faz doações ou elas não são registradas?

Guto - Tem registros sim, do Delcídio do Amaral (PT), que é um amigo nosso; do Jandir, do Leonel Pavan (PSDB), também do Volnei Morastoni (PT). Temos o recibo partidário, na minha campanha também teve doação. [Delcídio do Amaral?] Senador do Mato Grosso. Ele foi presidente da Transpetro, onde surgiu nossa amizade com ele. Acho que ele já foi senador duas vezes. Foi mais por uma amizade dele com a gente. A Dalçoquio tem filial no Mato Grosso.

RAIO-X

Nome: Augusto Emilio Dalçoquio

Naturalidade: Itajaí

Idade: 35 anos

Estado civil: Solteiro

Filhos: Não

Formação: Superior completo em Ciências Políticas

Trajetória profissional: Desde a adolescência exerce funções administrativas no Grupo Dalçoquio. Foi presidente da empresa entre abril de 2009 e abril de 2011. Foi vice-prefeito de Itajaí entre 2001 e 2004. Atualmente é presidente do terminal Trocadeiro, do grupo Dalçoquio.

Se partido fosse bom, não era partido era inteiro

Nunca pensei em ficar ali [fundação Cultural]. Mas queria fazer alguma coisa pela cultura. Não sou artista plástico, não sou cantor, não sou compositor, mas eu sei administrar

Nunca precisei da vida pública para minha sobrevivência

   

 




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