Com problemas no coração, volta e meia a mãe do gurizão de 17 anos Matheus Rogério, passa pelo Marieta. Ele preferiu não revelar o nome da mãe, de 46 anos, pra não expô-la e causar-lhe ainda mais sofrimento. Matheus revela que o descaso é o mesmo de sempre. Do bairro Cordeiros, chegaram ao hospital às 8h15 de sexta.
A muié tava com uma tremenda dor no braço e na perna esquerdos há uma semana, mesmos sinais do piripaque que fez com que a mamãe do guri fizesse uma cirurgia no coração ano passado.
Foram duas horas de espera só pra passar na triagem. Nesse tempo, a gente viu muitas pessoas pedindo informação e os funcionários tratando mal, denuncia Matheus.
Depois de mais de quatro horas sicontorcendo à espera dum dotô, a muié entrou na salinha do pronto socorro. Mas não foi atendida. Lá dentro, mais espera. Macas e cadeiras enfileiradas pelo corredor acomodavam quase 15 enfermos. Nesse momento, a mãe de Matheus parou de contar as horas, esperando que dessa forma o tempo passasse mais rápido.
Ao ser atendida, uma enfermeira manuseou medicamentos e aplicou injeção na muié sem luva e com a mão não esterilizada. Assustado com o que viu, Matheus registrou a cena com o celular. Ano passado, minha mãe fez um eletrocardiograma e os médicos fizeram a leitura errada. Levamos em outro especialista e eles constataram o problema [cardíaco] da minha mãe, lembra.
Falta de notícias e grosseria de funcionários desesperou parentes
A manhã de sexta de dona Espedita da Silva Viana, 47, começou agitada. Ela saiu do PA do São Viça com o marido, Adão Sebastião dos Santos, e correu pro Marieta, às 8h30. O cara é diabético e precisava amputar o dedinho mindinho. Se demorasse, ele poderia perder o pé inteiro. Era pra ele ser atendido logo dicara. A muié tinha o encaminhamento do PA em mãos. Contudo, foram sete horas de espera.
Adão precisava ficar com o pé inclinado, mas não tinha maca disponível. Ao buscar informações com os atendentes, a grosseria prevalecia. O sangue subiu à cabeça e rolou até bate-boca. Funcionários mal-educados, uma falta de respeito. Deu vontade de levar ele embora, mas não tinha como, conta Espedita.
Gringo sem atendimento
Renzo Chirre, peruano de 28 anos, conta que mora em Balneário Camboriú, mas trampa na city peixeira. Apesar do mal-estar, insistiu em ir trabalhar. Com o estômago virado e garganta infectada, o cara, que trampa na Marcelo Sports, não guentou atender nem o primeiro cliente. O relógio marcava 9h15 quando chegou ao hospital. Ele tinha no punho uma pulseira azul, que indica que o cara não tinha risco de vida e poderia esperar até quatro horas por atendimento.
Até às 15h10, quando a reportagem do DIARINHO saiu do local, Renzo ainda mofava na cadeira. Lá em Balneário, no Santa Inês, o atendimento pode até demorar, mas lá eles tratam a gente bem. Aqui parece que tão fazendo um favor pra gente, desabafa.
Família sem notícias de parente em coma
Internada desde a manhã de quarta-feira, dona Leda da Silva Dutra, 57, teve um AVC e veio de Penha receber atendimento na city peixeira. A filha Raquel da Silva Dutra, 33, revela que só no dia da internação foi que teve contato com o médico. Depois disso, ninguém deu mais satisfação. Eles não tão nem aí. Os familiares tão aflitos e eles não correm atrás de nada. Eu só quero notícias da minha mãe. A enfermeira disse pra gente preparar as coisas pro enterro, mas como assim, a minha mãe ainda tá viva, desabafa. Raquel ainda relata que a mãe está internada numa pequena sala do pronto socorro com outras cinco pessoas e que não tem recebido nenhum medicamento.
Pacientes do Balneário tão vindo pra Itajaí, diz hospital
Os 340 leitos de internação do Marieta estão ocupados e outros 42 foram improvisados no pronto socorro. A porta-voz do hospital, Roberta Ramos, revela que, por conta da transição entre o Santa Inês e o Ruth Cardoso, muitos pacientes da Maravilha do Atlântico tão vindo pra Itajaí procurar atendimento. Na manhã de sexta, uma reunião com a direção do Marieta e do Ruth, na 17ª Regional de Saúde, definiu que a situação nos hospitais da cidade vizinha deve ser normalizada no domingo. Dessa forma, o hospital peixeiro deve voltar a operar normalmente já no início da próxima semana.
Estamos trabalhando acima da nossa capacidade, temos conhecimento disso. As alas de internação estão lotadas, por isso deixamos alguns pacientes no pronto socorro, justifica.
Por conta da demanda, Roberta diz que a demora é inevitável e garante que informações de data e horário de atendimento são registrados no boletim de atendimento dos pacientes.