Matérias | Entrevistão


Itajaí

Deputado estadual Jailson Lima

"Nós mexemos com os bagres grandes da casa"

Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]


Com a precisão de médico e o tino de fiscalizador, Jailson Lima (PT) soube diagnosticar uma grande ferida nos cofres públicos. Sem anestesia ou curativo, o deputado estadual foi logo colocando o dedo no machucado. Primeiro as denúncias dos supersalários de servidores (ativos e inativos) da assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc). Depois, o maior escândalo envolvendo um órgão estadual nos últimos anos: as aposentadorias irregulares por invalidez.


Através das investigações de Jailson, veio a triste constatação de que os cofres públicos tiveram um prejuízo de milhões de reais, numa “falha” justamente da instituição que deveria fiscalizar os ...

 

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Através das investigações de Jailson, veio a triste constatação de que os cofres públicos tiveram um prejuízo de milhões de reais, numa “falha” justamente da instituição que deveria fiscalizar os recursos – entre as tantas prerrogativas que cabem ao poder legislativo. Inicialmente, a Alesc se posicionou na defensiva e tentou justificar os supersalários recebidos pelos “marajás” da assembleia. Depois, os salários foram ajustados pro teto, que equivale a pouco mais de R$ 20 mil que os parlamentares recebem por mês.



Com a coragem de quem descobriu uma fraude que vem de décadas e o ímpeto de quem cumpriu seu papel (mesmo contra pessoas do alto escalão político), Jailson recebeu os jornalistas Cláudio Eduardo e Gabriele Lindner e encarou o Entrevistão do DIARINHO. Sob os cliques de Minamar Junior, o deputado não teve papas na língua. Respondeu cada uma das perguntas de forma objetiva e com a sinceridade de quem não tem o rabo preso.


Costumavam dizer que deputado nenhum mexia com Tribunal de Contas ou de Justiça porque tinha medo. Esse é o nosso papel.


Eu ousaria afirmar que o Colombo estará com a Dilma em 2014 nas eleições

Então, o deputadômetro, à medida que eles lançaram, eu lancei o sonegômetro. Eu quero ver quem sonega mais na Facisc.

RAIO-X


Nome: Jailson Lima da Silva

Naturalidade: Siderópolis/SC

Idade: 53 anos

Estado civil: casado

Filhos: dois


Formação: médico perito do trabalho e reumatologista

Trajetória profissional: na juventude atuou no Movimento Estudantil da Universidade Federal de Santa Catarina. Mas só ingressou efetivamente na vida pública em 1992, quando disputou pela primeira vez a prefeitura de Rio do Sul. Não ganhou. Na eleição seguinte, concorreu ao cargo de prefeito novamente e por pouco mais de 300 votos não foi eleito. Em 2000, enfim Jailson venceu a eleição e assumiu o comando do município. Em 2006, foi eleito deputado estadual. Com 33.129 votos na disputa de 2010, Jailson foi reconduzido à assembleia legislativa, e hoje ocupa o posto de primeiro secretário da mesa diretora.

DIARINHO – Hoje as denúncias de aposentadorias irregulares de servidores da assembleia legislativa já tomaram grandes dimensões. Como começou essa luta?

Jailson – Tomaram uma dimensão nacional tendo em vista o descalabro que se construiu nessa assembleia legislativa nos últimos 30 anos. O fato de eu ser médico e ter sido perito judicial e hoje ser o primeiro secretário da assembleia me permitiu ter acesso a uma série de informações que até então eram negadas. No mandato passado eu já tinha feito uma série de questionamentos, mas a assembleia tem um espírito de corpo muito forte. Então, este ano, nós conseguimos reduzir os salários para o teto constitucional de mais de 120 servidores. Isso reduziu em aproximadamente R$ 5 milhões só na folha de pagamento desses que ganhavam mais de R$ 20 mil de salário. Tinha 11 deputados aposentados cuja aposentadoria maior chegava a R$ 36 mil. Hoje ninguém ganha mais que o salário de deputado que é R$ 20.046. A partir daí eu comecei a verificar que aqui chegava uma série de pedidos para se aposentar por invalidez permanente, assim como uns já estavam aposentados e queriam o reconhecimento de invalidez permanente. Aí comecei a ir atrás. E durante vários tempos vinham algumas denúncias como teve em 1982, 83, que chamaram de CPI de Bengala. Mas, na realidade, é um debate extremamente tenso. Aqui a gente acaba mexendo com um conjunto de pessoas que não são peixinhos pequenos. Nós mexemos com os bagres grandes da casa. À medida que nós levantamos isso, em que eu verifiquei que aqui tínhamos uma epidemia de doenças cardíacas graves em pacientes jovens, gente aposentada com 22 anos de idade e com sete dias de trabalho, gente que se aposentou antes de entrar assembleia, que já tava com o atestado de invalidez permanente. Epidemia de doenças de reumatismo, de espondilite anquilosante, que não dá em 1% da população. Aqui 11% dos aposentados eram por espondilite anquilosante. Aí nós começamos a observar a verdadeira fraude que se construiu, tendo em vista que a aposentadoria por invalidez permanente dá alguns privilégios: você não paga imposto de renda – sonegação fiscal; você se aposenta com o salário integral – não tem desconto, o que é outra fraude; alguns compraram apartamentos, imóveis financiados e aí quitavam; outros recebiam seguro, pelo seguro de vida que tinham, pela aposentadoria por invalidez permanente. E grande parte disso construído por gente da procuradoria jurídica da assembleia legislativa, que era quem conhecia os mecanismos de como fazer. E aí você tem trâmites. O cara chega com o atestado, tinha gente que se aposentou sem ser com o atestado médico, passa pelo Recursos Humanos da assembleia, depois passa pela assessoria jurídica da assembleia, depois passa pela mesa diretora, vai pro Tribunal de Contas e o tribunal diz ok. Observem quanta gente foi enganada. Uns por má fé, outros sem terem má fé. Mas aqui se construiu uma forma de aposentadorias pra apadrinhamento político de outros que entraram no lugar desses.

DIARINHO – Inicialmente, a postura da Alesc foi de defender os supersalários com unhas e dentes. Gelson Merisio (PSD) lavou as mãos por se tratar de decisões anteriores ao período que ele presidia a assembleia; e a procuradoria garantiu que iria defender os salários dos servidores acima do teto dos deputados. Por que essa omissão justamente do líder do legislativo?

Jailson – Eu não diria que o presidente Merísio foi omisso. Eu acho que ele foi um presidente que assumiu o papel dele e o que tem que ser feito está sendo feito. Ele não se dobrou ao espírito de corpo da casa. Acontece que aqui na assembleia o que mais se escutava – se escutava, não se escuta mais – é que isso sempre foi assim. Chegaram a me dizer que o dia que eu fosse embora daqui tudo ia voltar ao normal, como se o normal fosse essas malandragens todas, essa falcatrua. Num primeiro momento, o que a procuradoria jurídica dizia pro Merísio? ‘Não, tá tudo ok, não tem nada de irregular’. Só que eu fiquei aproximadamente oito meses me aprofundando em documentos e relatórios aqui, pra não errar. Então, quando você tinha uma justificativa jurídica, eu tinha uma resposta técnica e clara com documentos pra provar. E à medida que a gente foi mostrando, debatendo... Contra fatos não há argumentos. Com fatos há um conjunto real, e essa realidade representou o desvio de R$ 360 milhões em aposentadorias indevidas nesse período, sem considerar o custo dos 120 que entraram nesse período. Porque aqui também disseram que a média do salário dos aposentados era de R$ 6 mil. Primeiro que não é verdade; segundo que, sobre as aposentadorias, você tem 13º; você tem os encargos sociais sobre isso tudo, você tem vale-refeição, tem o auxílio pra quem faz pós-graduação, uma série de nuances que tem nesse conjunto. Então, nisto não me enrolaram em absolutamente nada, porque considerei as agregações desse período.

DIARINHO – De todas as histórias escabrosas envolvendo as aposentadorias irregulares, qual delas deixou o senhor mais indignado?

Jailson – Eu diria que o conjunto da obra. Mas o mais indignado que dá pra gente ver mesmo é a grande maioria desse povo se aposentando numa faixa etária abaixo dos 40 anos de idade. O maratonista que aposentou-se aqui com 34 anos de idade, com seis anos de trabalho [ O maratonista a que ele se refere é Gaizito Nuernberg, que não podia trabalhar por problemas cardíacos. Mas, no início do mês, correu a Maratona Caixa de Santa Catarina. Aos 63 anos, ele percorreu 10 quilômetros em 1 hora, 3 minutos e 24 segundos]. Quando a gente vê isso... É de uma imoralidade. Quando a gente vê tantas pessoas necessitando... Olha, R$ 360 milhões dá pra fazer quase 290 mil cirurgias num mutirão em Santa Catarina! Quantas pessoas não seriam salvas com isso? O conjunto da obra eu acho que representa a grande mácula do poder público. O importante é que a assembleia está revendo isso, não está escondendo. E o que também foi observado é que somente a assembleia de Santa Catarina tem esse cenário, nenhuma outra tem esse cenário das aposentadorias do jeito que tá aí.

DIARINHO – Em algum momento o senhor foi perseguido ou acuado por algum deputado ou por servidores relacionados na lista dos supersalários da Alesc?

Jailson – O que distribuíram com carta anônima a meu respeito é algo inconcebível. Eu mesmo, através de um ato que a gente solicitou, em torno de 600 cartas foram recolhidas, onde disseram que eu tinha altos salários, funcionários fantasmas, sendo que eu tenho três servidores aqui. Divulgaram no Alto Vale, a minha região, que eu peguei diária da assembleia – rodou e-mail, Facebook, Twitter – pra passear na enchente em Rio do Sul. Eu tive duas diárias durante os períodos das enchentes pra acompanhar a região: fui a Brusque, Gaspar, fui a diversos lugares, não fui a Itajaí. Só o que eu produzi em economia nessa casa com a redução do teto salarial, dá as diárias dos 40 deputados pelos quatro anos. E o que eu faço é muito transparente e eu assumo claramente.

DIARINHO – E a pensão vitalícia pra ex-governadores? Existe alguma forma da assembleia criar mecanismos pra acabar com essa regalia?

Jailson – Essa é uma luta que está sendo feita principalmente pelo deputado Padre Pedro (PT), que já foi pra justiça. É inconcebível que uma pessoa que trabalhe três meses como governador incorpore uma aposentadoria vitalícia de R$ 24 mil, R$ 25 mil. Eu concordaria se ele tivesse feito a contribuição previdenciária sobre isso, assim como se aqui na assembleia tivesse uma aposentadoria. Os 11 ex-deputados que tem aqui, vários deles se aposentaram incorporando o salário de deputado, por uma lei que fizeram aqui. Mas não contribuiram por isso. Se eles tivessem contribuído em 30 anos de prestação de serviço sobre esse valor, não tem problema, eles contribuiram financeiramente pra isso. Então, logicamente que a gente é contra e vamos tentar derrubar isso.

DIARINHO – Como a base governista é maioria absoluta na assembleia, a bancada de oposição consegue, de fato, fazer oposição ao governo de Raimundo Colombo(PSD)?

Jailson – Não, aqui é um rolo compressor. A gente faz oposição no debate político, esse é o nosso papel. A gente faz o bom combate propositivamente, até mesmo porque o governo Colombo já está mais governo dilmista do que outra coisa. Ele tá na nossa base de apoio federal. Isso está mais do que claro pelos passos que estão sendo dados aqui. Agora, de qualquer maneira, nós vamos continuar cobrando os investimentos que não estão sendo feitos: na Saúde... Hoje mesmo [a entrevista foi feita na última segunda-feira, fim da tarde] tivemos audiência pública sobre Segurança, onde a gente tá vendo uma verdadeira guerra entre polícia Civil e polícia Militar, enquanto a população está sem ser atendida por questões mínimas. Eu diria que é mais problema de vaidade de corpos do que problemas efetivos existentes entre as instituições. Enquanto isso a população fica à deriva.

DIARINHO – No início do ano, o governador fez todo um alvoroço de que cortaria despesas, inclusive suspendendo o contrato de locação do avião do governo. No entanto, já no início do ano fez um tour pela Europa. Agora está em viagem pela Ásia. Até que ponto estas viagens são necessárias? Vale o investimento do povo pra que Colombo e parte da sua equipe acumulem carimbos no passaporte?

Jailson – Eu vou te dizer uma coisa: a gente tem que chegar além das fronteiras. Eu sou um deputado que fez várias viagens à China. E, no entanto, recebi dia 29 uma comenda de um estado-irmão de Santa Catarina. A Comenda da Amizade do Rio Amarelo, só sete pessoas receberam isso [fala enquanto mostra, orgulhoso, as páginas de uma revista com fotos dos que receberam a honraria chinesa]. Tem da Coreia, da Alemanha, um americano... Pelas relações que a gente tem construído. Agora nós assinamos um protocolo com o hospital da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), pra poder ir estudantes pra lá, residentes e vice-versa. Viviam dizendo que o presidente Lula só viajava. O que deu a sustentação econômica pro Brasil na crise? Além do consumo interno, o comércio internacional e o Brasil ser visto do jeito que é. Eu não sou crítico em relação às viagens, desde que elas deem resultados. Desde que elas sejam relações de necessidades. Agora, por exemplo, ele foi pro Japão ver o projeto Jica, que nos foi apresentado aqui na assembleia. Tem deputado acompanhando, inclusive. É um projeto que prevê redução das cheias, são R$ 200 milhões iniciais e o governo da Dilma já disse que vai dar 50% da contrapartida do estado. Então, se a gente encaminhar pra fazer isso evoluir, quantas famílias deixarão de ser inundadas com as cheias? E aí não adianta, tem que ir, porque os investimentos são empréstimos internacionais, e o governo japonês, através da Jica, permite o empréstimo de R$ 200 milhões pra esse processo. Se for em viagens de trabalho, eu não sou contra. Eu costumo dizer o seguinte: o prefeito, o governador, o deputado que só fica dentro da sua área, ele não enxerga o mundo e não vê a velocidade em que isso anda. Acho que isso é investimento, não é despesa.

DIARINHO – Em contrapartida às viagens pro exterior, Colombo tem ido a Brasília? O senhor acha que apesar de ter feito de tudo pra que José Serra (PSDB) derrubasse Dilma Rousseff (PT) na última eleição, Colombo tem se esforçado pra manter uma boa relação com a presidente?

Jailson – A presidente Dilma, o nosso governo federal, está atendendo o nosso estado de uma forma republicana, como ninguém. Se a gente observar, só agora nas cheias o volume de recursos liberados do fundo de garantia, os investimentos pros municípios de calamidade, de emergência. Se ele for reclamar disso... O investimento de R$ 28 milhões que vai ser dado pro projeto Jica, 70 mil casas que serão construídas em Santa Catarina até 2014, com recurso do governo federal, porque até agora não tem um centavo do estado anunciado pra isso. Independente das relações políticas que tiveram, a eleição passou. Nós temos que estar administrando pro povo como um todo e, logicamente, em 2012, 2014, nós vamos ser adversários do Colombo. É muito pouco provável que estejamos juntos nos municípios ou no estado. Mas isso não impede que em 2014 a base do governo Colombo, através do PSD, esteja apoiando a Dilma. Eu ousaria afirmar que o Colombo estará com a Dilma em 2014 nas eleições.

DIARINHO – O senhor combateu os supersalários na Alesc. Já tem alguma situação engatilhada pra ser sua próxima luta enquanto deputado?

Jailson – Eu sou um deputado paz e amor, eu não gosto de briga, nem de conflitos [falou com leve tom irônico, já que a fala contradiz a postura aguerrida que teve pra derrubar os supersalários e as aposentadorias irregulares da assembleia]. Mas logicamente que a gente vai continuar. Por exemplo, a compra do prédio pelo Ministério Público, aqui em Florianópolis, é uma coisa vergonhosa. Compraram um prédio em caráter de emergência, sem licitação, por R$ 52 milhões. Hoje o município tem terrenos, o estado tem terrenos, que poderiam doar pro Ministério Público pra fazer uma construção, com licitação normal. O Ministério Público, que era pra estar dando o exemplo nesse momento, não deu. Porque, primeiro, não tem que ter uma compra dessa em caráter de urgência, porque isso permite que a compra seja sem licitação. No dia a dia, a gente tá aqui pedindo os salários do Tribunal de Justiça, do Tribunal de Contas de Santa Catarina – que é outra coisa calamitosa e vergonhosa. É um poder independente dentro do Tribunal de Contas, onde nós vimos um que recebeu em fevereiro R$ 78 mil de salário, trabalhando seis horas por dia. E, se bobear, tem dois meses de férias. Nós estamos solicitando sobre todos os órgãos, não somente da assembleia legislativa. Costumavam dizer que deputado nenhum mexia com Tribunal de Contas ou de Justiça porque tinham medo. Esse é o nosso papel. Se estamos mexendo aqui, e aqui estamos fazendo uma cirurgia, os outros poderes também têm que passar por este procedimento cirúrgico.

DIARINHO – Já que o senhor é um combatente dos gastos desnecessários com folhas de pagamento no poder legislativo estadual, como avalia a manutenção do projeto de descentralização através das secretarias de Desenvolvimento Regional (SDR)? Manter estas estruturas é realmente necessário?

Jailson – Eu sou contra. A maioria das secretarias regionais é uma coisa inoperante. O Colombo, quando era adversário do Luiz Henrique [ex-governador que encabeçou o projeto de descentralização através das SDRs], o que ele dizia? Que as secretarias regionais eram um guarda-roupa com cabides de empregos. Eu acho que ele só não desmonta essas secretarias com vergonha e pelos compromissos políticos que tem. Porque continua sendo cabide de empregos. A gente anda pelo estado e vê um monte de ex-vereador, ex-prefeito, tudo pendurado nesses cargos e com uma capacidade resolutiva extremamente pequena.

DIARINHO – Como médico, o senhor vê alguma saída pra melhorar a saúde de Santa Catarina?

Jailson – Não é a questão da Saúde de Santa Catarina apenas. É a questão do Brasil. Nós, além da aprovação da emenda 29, que é a que regulamenta a saúde do Brasil, temos que definir as fontes de investimentos e as origens dos recursos pra isso. E aí eu defendo tributação das grandes fortunas e do capital especulativo financeiro que roda no Brasil. Se a Europa está fazendo isso, por que não temos que fazer? Na realidade, quando se defendia a CSS [Contribuição Social para a Saúde], nada mais era do que você controlar a sonegação fiscal desse país. Mesmo que seja 0,0001%. Mas é controle da sonegação fiscal no país. Então, nós temos é que definir claramente a origem dos recursos, e nós precisamos de pelo menos R$ 50 bilhões a mais no orçamento do Brasil pra se garantir as questões da Saúde. Porque nós temos o maior sistema de Saúde do mundo e o mais democrático. Não tem nenhum outro país do mundo que tenha um sistema gratuito, que atenda 200 milhões de pessoas. Nós temos o maior programa de distribuição de medicamentos retrovirais do mundo, pra Aids. Quem paga isso? Agora, medicamentos pra hipertensão e diabetes, que pega o rico e pega o pobre. São 11 medicamentos. Só Santa Catarina tem 1390 farmácias que distribuem. Quem paga isso? Nós temos o país com o maior número de cirurgias cardíacas do mundo, 99% pelo SUS [Sistema Único de Saúde]. Só no ano passado foram consumidos no sistema de tratamento de pacientes crônicos, de doenças renais, hemodiálise, quase R$ 2 bilhões. É tudo público. Então, quando a população reclama – e reclama muitas vezes – é da falta de resolução dos serviços na ponta. Porque nós temos que melhorar muito a gestão e com isso melhorar o sistema. Mas, o SUS é um sistema muito jovem, é muito recente. Por isso tem que ter paciência.

DIARINHO – Com essas disputas internas que já são históricas no PT de Santa Catarina, quando o senhor acredita que o partido vá conseguir eleger pela primeira vez um governador no nosso estado? Com o fortalecimento de Ideli Salvatti na esfera federal, será que ela deve esquecer os desentendimentos e alavancar a candidatura de Cláudio Vignatti pra 2014?

Jailson – Eu acho o seguinte: a gente tem que ter paciência. O PT já cometeu muitos equívocos. Mas, mesmo cometendo equívocos, tem muitas virtudes e o fez cometer muito mais acertos. Nós somos o primeiro partido que reelegeu o sucessor do sucessor. O PT cresceu na sua história. Somos a maior bancada federal do Brasil, a maior bancada de deputados estaduais do Brasil e a segunda maior no Senado. Nós crescemos muito. Os conflitos que nós temos em Santa Catarina – e que os outros partidos também têm – eu acho que cabe muito aos dirigentes terem mais humildade. Calçarem as sandálias da humildade. Porque, muitas vezes, essas brigas levam ao desgaste, ao desperdício de tempo.

DIARINHO – Hoje tem municípios em que o PT cogita alianças com o DEM e com o PSDB, como em Itajaí, por exemplo. Pra eleições municipais vale tudo?

Jailson – Infeliz do cidadão que não rever a sua história. O PT cresceu. E pra crescer, democraticamente, tem compressões com lógicas locais. Desde que você não transgrida os princípios, eu não vejo problema. Porque em determinados lugares o PT tem uma direção local. Por exemplo, que é o de não ser vice nem do PSDB nem dos Democratas. Compõe, desde que o PT esteja na majoritária, porque essa foi a resolução do partido.

DIARINHO – O senhor pretende concorrer à prefeitura de Rio do Sul no ano que vem?

Jailson – Nós vamos ter candidatos na maioria dos municípios do Alto Vale, mas hoje eu não devo ser candidato a prefeito em Rio do Sul. O meu papel é continuar construindo o partido, como tenho feito, tentando unificar as tendências do partido. Eu costumo dizer que todas as tendências são a minha, porque a minha tendência é o Partido dos Trabalhadores. Então vamos ter candidato. O nosso candidato em Rio do Sul chama-se Jean de Liz (PT), que foi meu secretário de Cultura. Um jovem militante do PT, presidente da Câmara Júnior Nacional hoje.

DIARINHO – O senhor acha certo os cofres públicos terem de bancar, através das diárias, a ida dos deputados a cada canto do mundo? Recentemente houve algumas denúncias de que o senhor recebia diárias até pra ir pra casa. Isso realmente acontece?

Jailson – Essas diárias são as da enchente, as que eu citei antes. Nós temos que entender que um deputado é um empregado do povo e ele tem que ter estrutura pra trabalhar. O telefone aqui é pago pela assembleia; o carro é um elemento de transporte... Se eu estou numa empresa e sou vendedor, a empresa me concede o carro. As diárias, como eles denunciaram, que foram duas, eu tô indo a Brasília. Já fui a Brasília sem diária e não reclamei. Durante as enchentes, teve uma viagem, porque você tem que pedir as diárias antecipadamente, fiquei quatro dias em Brasília e paguei do meu bolso. Já fiz devoluções de diárias que não usei. Agora, se eu vou executar o meu trabalho, eu acho que tenho que receber as diárias, porque isso é um custo. O importante é que aqui eu execute o meu trabalho com responsabilidade. E aí eu quero te perguntar [fala em direção a um dos repórteres] e fica pro povo responder: estou ou não cumprindo com o meu papel aqui quando, depois de 30 anos, levantei o que nunca se levantou? Estou ou não cumprindo meu papel aqui à medida que a gente reduz o salário de 122 pessoas que ganhavam mais que um deputado? Isso representa uma economia de R$ 5 milhões no ano. Se eu ficar aqui 40 anos, eu não vou gastar isso em diária. E se você verificar, eu não estou entre os deputados que mais tiram diária nessa casa. Eu estou de uma forma mediana pra menos. Então, quando eu tiver que tirar uma diária, é de minha responsabilidade tirar, e vou tirá-la sem problema porque tenho como justificativa o trabalho que executo.

DIARINHO – Ainda nessa questão das diárias, o senhor acha que nessas andanças pra criação do PSD os cofres públicos possam ter bancado parte das viagens da turma de Colombo na luta pra arrecadar assinaturas pelo estado? Até que ponto os catarinenses saíram prejudicados com o envolvimento de parte dos comandantes do estado nessa empreitada de viabilizar a criação de um novo partido?

Jailson – O PSD que tem que responder. Mas, logicamente, que cada deputado e as pessoas do governo, nos seus trabalhos políticos nas regiões, construíram as relações pra ter em Santa Catarina o novo partido. O nosso estado é o que tem o PSD mais sólido do Brasil, não é São Paulo. Ficou com o governador e o maior número de prefeitos e deputados estaduais. Na execução política da sua função, eu diria que não vejo problemas. O problema é se saiu especificamente pra isso, aí é o questionamento.

DIARINHO – Pela sua luta contra os supersalários, dá pra concluir que o senhor defende uma redução nos gastos do dinheiro público. Este ano, houve um surto – assegurado por decisão do tribunal Superior Eleitoral (TSE) – de aumento de cadeiras nos legislativos municipais. O senhor é favorável a esse aumento em massa do número de vereadores?

Jailson – O salário de vereador e de deputados, a luta surgiu da classe trabalhadora. Sabe por quê? Porque o trabalhador, pra poder representar politicamente, ou ele deixa o trabalho ou fica na câmara. Você tem nos poderes públicos, basicamente, representantes de quem tem poder aquisitivo e dos órgãos corporativos. Você pode ter numa assembleia ou numa câmara de vereadores 10 picaretas e 14 pessoas sérias. O que é mais prejudicial? O importante é que você não tenha aumento dos custos. Então, eu não me importo que aumente, desde que você não tenha que aumentar os custos da casa. Em Rio do Sul, já teve 13 vereadores. Agora são 10 e estava se propondo novamente 13. Fizeram um movimento. Eu não era contra os 13 e, inclusive, o PT propôs que se reduzisse o salário dos vereadores e se eliminasse os assessores, que lá é um por vereador. É uma forma. Porque permite que a sociedade participe mais democraticamente. Senão, por que sempre os mesmos? E aí você faz a discussão apenas numérica, não do ponto de vista qualitativo. E isso não é bom pra democracia. O importante é debater se a representação é qualitativa ou não. Se ela é resolutiva ou não.

DIARINHO – O ranking do deputadômetro deve voltar pro ar, por estes dias, no site da Facisc [federação das Associações Empresariais de Santa Catarina]. O que o senhor achou desta ferramenta?

Jailson – Primeiro: o que é a Facisc? Uma entidade empresarial. Eu aqui represento quem? Segundo: eu fui o deputado que mais apareceu na mídia até agora, no estado de Santa Catarina, inclusive com matéria no Fantástico [reportagem sobre as irregularidades em aposentadorias por invalidez na Alesc], no entanto, era um dos deputados pior avaliado pelo deputadômetro. Perdi pro Parizzotto, rapaz! [Narcizo Parizotto era o presidente do PTB estadual, mas, recentemente, foi destituído do posto pelo líder nacional do partido, o ex-deputado federal Roberto Jefferson. Hoje Parizotto está no PSD]. Perdi pro Altair Guidi, que é um dos aposentados. [O deputado estadual do PPS é um dos que aparece na listinha dos supersalários denunciados por Jailson. Ele acumulava o salário de deputado com o de ex-deputado] Porque, como primeiro secretário da assembleia, eu fiquei enfurnado, estudando documentos. Aqui não passa um projeto sem eu ter que ler. O que vem de documento... Na mesa diretora você não participa das reuniões das comissões, que dá ponto. Pela Facisc eu sou um dos piores deputados que tem aqui. Eu não sei quantos vocês procuraram aqui pra entrevistar, mas vieram me entrevistar por causa do meu trabalho. Então, o deputadômetro, à medida que eles lançaram, eu lancei o sonegômetro. Eu quero ver quem sonega mais na Facisc. Por que não, já que eles têm o deputadômetro? Não é a presença física que constitui trabalho. O que constitui trabalho é o que você produz de resultado nisso. Eu aprovei aqui o projeto de lei da transparência pra todos os órgãos de Santa Catarina. O governo vetou. Eu tô indo agora lá no governo pra discutir isso. Vetou porque o Tribunal de Contas e o Tribunal de Justiça pediram que vetasse. Que interesse é esse? Então eu quero ver o tal do deputadômetro, porque provavelmente eu não vou tirar uma nota muito boa. E vou continuar questionando, porque aqui eu represento o trabalhador, o contingente da sociedade catarinense, e não vai ser a Facisc ou a Fiesc [federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina] que vai qualificar o serviço de um deputado.




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