Hoje faz 15 dias que o morador de rua e viciado em crack Alexandre Faria de Oliveira, 37 anos, foi torturado dentro do supermercado Mini Preço do bairro São João, em Itajaí, por um segurança terceirizado. O cara procurou o DIARINHO ontem à tarde pra contar em detalhes a versão da história dele. Alexandre, que afirma ser ladrão há 20 anos pra sustentar o vício em crack, revelou que entrará na dona justa contra o mercado, pois, segundo ele, pelo menos cinco funcionários participaram da sessão de tortura. O Mini Preço não quis comentar as declarações do cara.
Alexandre veio de São Bernardo do Campo (SP) e conta que já morou em Armação, na Penha, mas agora vive pelas ruas de Itajaí desde que deixou a penitenciária de Canhanduba, dia 20 de junho deste ...
Alexandre veio de São Bernardo do Campo (SP) e conta que já morou em Armação, na Penha, mas agora vive pelas ruas de Itajaí desde que deixou a penitenciária de Canhanduba, dia 20 de junho deste ano. Ele contou à reportagem que no dia 15 de novembro foi a primeira vez que pisou no supermercado Mini Preço. Assume que não foi pra comprar nada, mas pra pedir um pão francês, que foi negado por um funcionário. Daí eu confesso que fiquei irritado com isso. Eu peguei um pacote de bolacha wafer e coloquei debaixo do braço. Quando tentei sair, tava o gerente e um segurança na porta e eles me levaram pro escritório da gerência, relembra.
Foi na sala do gerente que, segundo o morador de rua, começou a pancadaria. O segurança Rafael Fernando Pessoa, 28, teria quebrado um cano de PVC em quatro partes nas costas de Alexandre. Aos berros, ele conta que pedia pro agressor parar, mas o cara não lhe deu ouvidos. O segurança disse que nem por amor da minha mãe ele ia parar e começou a me perfurar com as pontas do cano, relata.
Depois de apanhar, Alexandre conta que o gerente da loja, que presenciou tudo, identificado como Amarildo Silva Furtado, mandou o segurança levá-lo pruma câmara frigorífica. Lá, Alexandre afirma que apanhou com um cassetete e foi obrigado a comer uma cebola crua. Nessa etapa da tortura, a vítima conta que outros três funcionários acompanharam a violência. Ele garante que os funcionários tavam rindo enquanto ele apanhava.
A agressão foi finalizada, relata o cara, com um balde de água fria, já no pátio externo. Essa parte da tortura foi filmada por um desconhecido. Quando o vídeo vazou, há cerca de duas semanas, o DIARINHO publicou a primeira matéria sobre o caso. Todos cometeram crime. Eles poderiam ter denunciado ou pedido pra parar, mas não fizeram isso, opina Alexandre, revelando que por medo de voltar pra cadeia não registrou boletim de ocorrência, mas pensa em procurar um advogado.
Sobre o vício no crack e os pequenos furtos que comete, Alexandre também falou. Eu sei que tudo o que tenho feito é errado, mas isso que eu passei é triste pra caramba, eu não desejo pra ninguém, desabafa. Alexandre pretende voltar pra São Paulo dentro de uma semana, onde vivem a mulher e as três filhas. Ele não vê a família há quatro anos.
Não foi encontrado
O gerente Amarildo não quis comentar as declarações do homem. Não posso me pronunciar sobre o assunto, somente a direção ou o jurídico da empresa, garantiu. O diretor do Mini Preço, Mário César Sandri, não estava no escritório quando foi procurado pela reportagem. O segurança Rafael, funcionário da Via Seg, foi demitido no dia 17 de novembro.