O contramestre Amilton conta que já tinha notado que Cesar tava muito perto da borda do barco e chegou a avisar o pescador sobre o perigo. Eu disse pra ele cuidar com o cabo. Mas na hora de jogar o ferro, ele laçou o pé, bateu a cabeça e caiu, relata. A tripulação jogou boias na água pra tentar socorrê-lo, mas ele afundou no mar. A alternativa encontrada pra resgatar o pescador foi recolher a rede em que ele tava enroscado. Segundo Amilton, Cesar ainda parecia estar respirando quando foi tirado do mar. Eu fiz todo o procedimento, fiz massagem, e ele colocou água pra fora.
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Depois disso, o contramestre acionou a Rádio Costeira e conseguiu contato com os bombeiros, que disseram não ter meios pra ajudar o pescador. Eu pedi que mandassem pelo menos um bote, lembra Amilton. O presidente do sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Pesca de Itajaí e Região (Sintrapesca), Manoel Xavier de Maria, diz que esse problema é recorrente. Eles não vão por causa da distância e também porque não tem preparo nem conhecimento pra isso. Não dá pra depender de ajuda terrestre, carca.
Em 35 anos trabalhando em barcos de pesca, Amilton nunca havia passado por uma situação tão tensa em alto-mar. Pra ele, o acidente foi consequência da falta de atenção e cuidado do próprio Cesar. Eu disse pra ele chegar um pouco mais pra cima. Dizia isso pra ele todo dia, afirma. O corpo do pescador chegou na sexta-feira de manhã na capitania dos Portos e foi levado pro instituto Médico Legal (IML) de Itajaí.
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A embarcação vai ficar retida em Itajaí até que a inspeção no barco seja realizada. A documentação tem que ser verificada, porque parece que o armador não tava com ela, comenta o delegado da Capitania dos Portos, José Sávio Feres Rodrigues.
Caso será investigado
A história contada pelos tripulantes é a mesma. Cesar enroscou o pé na rede, bateu a cabeça e caiu no mar. Mesmo assim, a delegacia da Capitania dos Portos vai abrir um inquérito pra esclarecer as circunstâncias do suposto acidente. Segundo o delegado Feres, o prazo pra entrega do documento é de 90 dias, que podem ser prorrogados pra, no máximo, um ano. Vamos reunir depoimentos das testemunhas e provas materiais, explica.
Não só o pessoal da capitania tem dúvidas sobre as circunstâncias da morte de Cesar. O presidente do Sintrapesca também busca descobrir detalhes do ocorrido. Se foi desequilíbrio, se ele passou mal ou o que for, nós vamos investigar, afirma Manequinha.
Cesar tava embarcado há 26 dias, trampando na pesca de corvina. Segundo a capitania dos Portos, o barco levava mais dois tripulantes paulistas e três catarinas. O contramestre Amilton, de Floripa, conta que Cesar era morador de Ubatuba (SP) e foi indicado por outros pescadores pra trabalhar na embarcação Guilherme Santos, construída em Itajaí. Apesar de garantir ter experiência na área, Cesar nunca apresentou a carteirinha de pescador.
Pescador do naufrágio é achado sem vida
O pescador Emerson Luiz, 35 anos, não conseguiu escapar com vida do naufrágio do barco de pesca de Itajaí, Vô João G, na madrugada de quarta-feira, em Balneário Barra do Sul. O corpo dele foi encontrado na sexta-feira, dentro da embarcação. Outros quatro tripulantes continuam desaparecidos, entre eles um morador de Itajaí. As buscas continuam, mas diminuem o ritmo.
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A equipe de mergulhadores contratados pela empresa dona do barco, a J. Gonçalves Comércio de Pescados Ltda, resgatou o corpo de Emerson, morador de Imbituba, na manhã de sexta-feira. O tripulante não conseguiu sair do barco e morreu afogado na cozinha. O corpo foi levado pro instituto Médico Legal (IML) de Joinville e só foi reconhecido pelos familiares no início da noite.
Cerca de 20 parentes dos tripulantes ainda desaparecidos tão de plantão no corpo de Bombeiros de Barra do Sul à espera de notícias de Cedemir do Nascimento, 59, Rodnei Peixoto, 42, Carlos Alberto Souza do Carmo, 47, e Laureci Batista, 42. O barco naufragou com 17 tripulantes a bordo, mas 12 escaparam com vida.
De acordo com o comandante da Capitania dos Portos de São Francisco do Sul, delegado de fragata Claudio Luis Estrella Pereira, as equipes da Marinha continuam as buscas. No entanto, como na madrugada de sábado se completaram 72 horas da tragédia, a ação perde a intensidade.
Estamos trabalhando pra encontrar os outros quatro tripulantes com vida. Não teremos todos os meios de resgate à disposição, mas as buscas não terminaram e temos esperança de encontrá-los vivos, afirma.
O delegado acredita que os desaparecidos possam estar em alguma ilha ou mesmo resistindo em alto-mar. O avião, o helicóptero e o faroleiro da Marinha devem deixar o litoral de São Chico durante o finde. As buscas seguem com as lanchas da capitania e com os barcos pesqueiros.
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