O berreiro foi geral e as reclamações eram as mesmas: falta de mesas, de tomadas pra ligar os notebooks, de um banheiro feminino e também, segundo os advogados, um calor infernal. Isso fez com que os advogados se reunissem e, segundo o dotô Apóstolo Nicolau Pitsica, pedissem que a audiência fosse cancelada e transferida pro fórum de Blumenau ou de Floripa. Apóstolo foi um dos primeiros a sair do local, por volta das 15h, indignado.
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A tentativa de cancelamento da mega audiência não colou. Encontrou resistência dos promotores. A juíza Jussara Wandscheer, da 3ª vara Criminal de Blumenau, deu um nananinanão pro pedido.
Às 16h30, os carrões dos advogados começaram a cruzar a barreira policial e veio a confirmação oficial: depois de uma reunião, a dona justa prometeu fazer os ajustes pedidos e o julgamento começava só hoje.
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O advogado Marcelo Gonçalves engrossou o coro dos descontentes. Existe uma desigualdade entre o oferecido para o ministério Público e para os advogados, mas amanhã é pra estar resolvido, carcou.
Anselmo da Silva Livramento Machado, assessor de Relações Institucionais da ordem dos Advogados do Brasil (OAB) da Santa & Bela, reforçou o berreiro dos colegas. Não tem a mínima condição de trabalho. Foram colocadas cadeiras de plástico brancas de praia e não tem mesas para apoiar o material de trabalho, reclamou.
Anselmo garantiu que vão recorrer às instâncias superiores da justiça caso a situação não seja resolvida. Pelo menos 10 dos profissionais que defendem os réus são da defensoria Pública do Estado.
A confirmação de que hoje vai estar tudo certo foi dada por Leandro Lima, chefão do departamento de Administração Prisional (DEAP). Já estava tudo acertado. Foram feitos alguns pedidos pelos advogados e eles vão ser atendidos, afirmou, assegurando que hoje vai começar o julgamento dos suspeitos das três ondas de atentado que aterrorizaram a Santa & Bela.
Duas barreiras montadas na entrada da cadeia
Independente do beicinho dos advogados, do lado de fora, tava tudo dominado pelos fardados. Foram montadas duas barreiras pra impedir qualquer acesso à rua que leva ao complexo penitenciário sem identificação. Nada passava por lá sem pentefino da PM.
O coronel Atair Derner Filho, comandante da 3ª região da PM, coordenou pessoalmente o trampo. Caminhões e carros eram revistados minuciosamente. Quem chegava de moto tinha que tirar o capacete e todos tinham que mostrar a identificação. Só passava gente autorizada pelos agentes do DEAP. Estamos aqui apenas pra dar segurança. A decisão de quem passa é deles, explicou.
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O estrelado se disse tranquilo quanto à segurança, mas não quis falar em momento algum sobre número de homens ou do armamento empregados na operação. Estamos trabalhando com o número suficiente de efetivo, limitou-se a dizer.
A aparente tranquilidade só era quebrada pelo grande número de viaturas que entravam a saíam do complexo e que circulavam pelas ruas do bairro. O único estresse durante a barreira foi dois rapazes que tentaram passar de carango e tavam com um cheiro danado de maconha. Nada foi encontrado com eles.
Todos os busões que circulavam na comunidade tinham escolta policial.
Pra moradores, julgamento não mudou a rotina
Nem mesmo a agitação provocada pelo julgamento interferiu na rotina dos moradores. Na tarde de ontem, apesar das viaturas e dos fardados que tomaram conta do bairro Canhanduba, o povão parecia bem à vontade. Não mudou nossa rotina, garantiu Jorge Passos da Silva, 47 anos, presidente da associação dos moradores. A comunidade abriga 620 famílias.
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Pro eletricista que mora na bairro há 47 anos e que ontem trampava numa obra praticamente nos fundos do complexo, tudo seguia como outro dia qualquer. Pra gente tá tudo normal. Sabemos que tem o julgamento do PGC, mas tem um monte de polícia circulando. Então tá tudo certo, afirmou.
A comerciante Celiana Venâncio Ribeiro, 43, que tem um barzinho na principal rua do bairro, disse que a única mudança que houve é que tão passando muitos carros e tem bastante policial por lá. Tirando isso, nada mudou. Nossa rotina segue a mesma e como tem bastante polícia, não tem motivo pra ter medo, concluiu.
Advogada tá entre os réus
A advogada Fernanda Fleck Freitas, 28, que é um dos 98 indiciados no processo mas responde em liberdade, cruzou sem problemas a barreira policial. Sou inocente e nem conheço direito o teor desse processo, disse ao DIARINHO, assim que foi liberada pela dona justa, já que não rolou a audiência.
Henrique Werner, defensor da colega que advogava pra bandidos do PGC, também reforçou a fala da cliente e disse que a única testemunha que cita Fernanda é alguém que está com a identidade protegida. Pedi a dispensa dela das audiências pra que ela só venha no dia de dar depoimento, informou.
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Fernanda tava presa até três semanas atrás, acusada de envolvimento na morte da agente penitenciária Deise Alves, em São José, em outubro de 2012. A advogada é apontada como a pessoa que levou a ordem de assassinato, vinda de dentro do presídio de São Pedro de Alcântara, pra criminosos que tavam soltos. A intenção era matar Carlos Alves, diretor do presídio, mas quem morreu foi a mulher do cara, Deise.