Ainda tem mais uma votação mas, em primeiro turno, o projeto que põe fim ao voto secreto foi aprovado por unanimidade pelo legislativo peixeiro na sessão ordinária de ontem à noite. A aprovação da proposta de emenda à Lei Orgânica da city peixeira significa, na prática, que os vereadores itajaienses não terão mais como esconder do povão as decisões que tomam.

O projeto de autoria da mesa diretora não teve nenhuma resistência dos vereadores, até porque a população tá puta dos cornos com a Câmara Federal que, em votação secreta, livrou da cassação o deputado federal Natan Donadon (sem partido) no dia 28 de agosto, mesmo ele estando no xilindró, condenado por ladroeira e formação de quadrilha.

Um dos vereadores que tá mais faceiro com a ideia é o governista Zé Ferreira (PP). O edil, que era o presidente da comissão de Ética, tava se sentindo traído com a derrubada de seu parecer que pedia o afastamento de duas semanas da vereadora bocuda Anna Carolina Martins (PRB) [que no início do ano desceu a lenha no plenário, dizendo que o prefeito Jandir tinha comprado os vereadores da legislatura passada pra que eles votassem o projeto da Lei de Zoneamento]. “O voto secreto é bom só pra quem não tem caráter, pra quem gosta de se esconder”, diz Ferreira, que tinha combinado com sua bancada a carcada na loira mas, na hora do pega pra capar, pelo menos quatro vereadores da base mudaram de ideia.

O progressista lembra da vergonha que rolou em Brasília, quando os deputados livraram a barra do deputado preso e, apesar do caso ser bem diferente, ele compara com o que rolou na câmara peixeira no início do mês. “Não temos certeza de quem foi que votou a favor da Anna. Todos vão morrer dizendo que não foram eles”, fala em tom de marido traído.

Base partidária

Mesmo reconhecendo ter sido beneficiada pela votação secreta, Anna Carolina acredita que o fim do voto secreto será muito positivo pra casa do povo e pra comunidade. “Os políticos votam com medo é da reação de suas bases partidárias e não da opinião da população”, carca a bonitona.

A vereadora considera que a proposta da mesa diretora não tem nada a ver com o julgamento da comissão de Ética, mas sim com o que tá rolando nas câmaras legislativas de todo o país.

O único vereador da base do governo que assumiu ter votado a favor da loira foi Márcio José Gonçalves, o Dedé da Murta (PP). Ele também acha que o voto tem que ser aberto porque os eleitores têm o direito de saber qual foi a decisão tomada pelo seu vereador. “Eu manifestei o meu voto [a favor de Anna] publicamente pra não ficar me escondendo atrás do anonimato”, afirma o vereador.

Dedé também acredita que o vereador sofre mais pressão das bases partidárias do que propriamente do povão. “Eu observo que muitos colegas sofrem com a pressão do partido. Mas eu acho que o vereador não tem que ter medo, porque ele tem que dar satisfação é para o eleitor”, carca.

Vontade popular

O cientista político Sérgio Saturnino acha que o voto secreto é mó absurdo. Segundo ele, a falta de transparência não é um ato republicano, e a decisão tomada nos legislativos de várias cidades vem a reboque da vontade popular. “O voto é a representação do vereador e é, portanto, um ato absolutamente público por princípio”, considera.

Segundo o professor da Univali, em um país democrático o voto secreto só seria admissível em casos extremos, em assuntos que tratem da estabilidade política do país ou em estado de guerra.