Depois da chuvarada e a previsão de enchente, Itajaí amanheceu com poucas ruas inundadas na segunda-feira. Os moradores passaram a manhã limpando e recuperando os estragos deixados pelo aguaceiro que caiu desde sexta-feira. No total, 64 vias foram afetadas e 247 pessoas tiveram que deixar as casas e ir pro abrigo montado pela prefa no bairro Cordeiros. Mesmo com a previsão de novo alagamento em alguns pontos por causa dos picos da maré, moradores e comerciantes voltavam à rotina aos poucos. Lama e lixo espalhados pelas ruas era o que mais se via na manhã de ontem.
Mesmo com água até a canela e muita lama dentro de casa, a aposentada Roseli da Silva, 56 anos, seguia normalmente a vida assim que os primeiros raios apontaram na manhã de segunda-feira. Ela, ...
Mesmo com água até a canela e muita lama dentro de casa, a aposentada Roseli da Silva, 56 anos, seguia normalmente a vida assim que os primeiros raios apontaram na manhã de segunda-feira. Ela, o marido e três netos passaram um sufoco danado na tarde de domingo pra erguer os móveis da casa, que foi tomada pelas águas. Ontem pela manhã o rio já tinha baixado um pouco, mas o alerta continuava.
Roseli e a família moram na rua São Francisco do Sul, no Bambuzal, que foi umas das mais atingidas. No final dela, cerca de cinco casas foram afetadas e os moradores continuavam esperando a maré baixar. Isso aqui não foi nada. Em 2011 morava do lado e perdi tudo, entrou água até a cintura. Graças a Deus não perdi muito dessa vez, afirma a aposentada.
Pra salvar os móveis, uma força tarefa foi feita pra levar sofá, fogão, cama, máquina de lavar e até um cachorro da família pra cima da casa, na laje. Depois, duas lonas grandes foram usadas pra proteger tudo. A vida do ser humano é assim mesmo, quem não sofre?, diz Roseli, conformada com a situação.
Das 64 ruas que ficaram alagadas em Itajaí, apenas cinco apresentavam pontos de alagamento ontem pela manhã. Sem ter o que fazer pra escapar da água, Roseli e a família foram pra casa de amigos, num local seguro. Mesmo assim, ela volta de dia pra cuidar da casa, pois tem medo que alguém leve o pouco que tem. Já não temos muita coisa. Se abandonar aqui, aí sim que perdemos tudo, conta.
Mesmo com aviso pra sair, moradora perde tudo
Outra região que sempre alaga quando cai uma chuvinha é a Canhanduba. Na rua João Dalmolin, só barquinho ou carroça passavam na manhã de ontem. Sem um nem outro, a dona de casa Judite Vonroski, 42 anos, andava de zica e se arriscava nas águas sujas que tomavam conta da rua. Não tem o que fazer. Preciso comprar pão pras crianças e se não passar por aqui não tem outro caminho, conta.
Acostumada com os alagamentos na região, dessa vez não conseguiu salvar nada. Não deu tempo de levantar os móveis, molhou tudo, diz. Ela apenas conseguiu guardar algumas roupas em cima do guarda-roupa. Já a comida foi-se toda com a água, por isso, o saquinho plástico tá servindo de bolsa pra guardar o dinheiro que sobrou pra comprar o café da manhã.
Em meio às poças de água de cor marrom, moradores e crianças andam de chinelo ou até mesmo descalças. A cena é comum nos pontos que foram afetados, mas o povão precisava sair pra trabalhar e, sem aula, as crianças não tinham o que fazer. O pedreiro Edson José Machado, 46, não teve a casa afetada, mas ficou ilhado na segunda-feira. Morador do beco LQC, no Cidade Nova, a casa de quatro cômodos fica às margens do rio Itajaí-mirim. Pra sair de casa, só metendo o pé na água.
O terreno tá todo cheio, mas ainda não entrou em casa. Mas já levantamos os móveis. Se aumentar o rio entra tudo, conta. Há 13 anos, toda vez que dá enchente, Edson passa pela mesma situação e até já se acostumou. Cansado de esperar por uma solução da prefa, o pedreiro garante que vai construir uma casa mais alta assim que o tempo secar. Agora que tô trabalhando firme vou construir mais alto, igual fizeram os outros vizinhos, afirma.