Itajaí

Vigilante espera há oito meses na fila por cirurgia no Marieta

Coitado sofreu acidente por causa de um cachorro solto na rua

“Eu tô passando necessidade. Só quero minha cirurgia e voltar a trabalhar. Mais nada”. O desabafo é do vigilante Rubens Anacleto Cardoso, 28 anos. Desde agosto do ano passado, quando sofreu um acidente de motoca ao desviar dum cachorro, ele não recebe um tostão e vive de favores de amigos e familiares. A queda resultou em fratura exposta e 16 pinos no braço esquerdo. O problema é que o corpo de Rubens rejeitou os parafusos e ele terá que passar por nova cirurgia. Desde fevereiro o vigilante tá na fila da ortopedia do Marieta e reclama que o hospital peixeiro não tem nem ideia de quando ele vai entrar na faca novamente.

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O estaleiro Santa Gertrudes, onde Rubens tramprava, continua o considerando inapto pro trampo. O INSS, contudo, reprovou o vigilante em três perícias e por isso não paga nem um centavo de auxílio ...

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O estaleiro Santa Gertrudes, onde Rubens tramprava, continua o considerando inapto pro trampo. O INSS, contudo, reprovou o vigilante em três perícias e por isso não paga nem um centavo de auxílio doença. O acidente rolou a caminho do trampo, na rua Salseirinhos, bairro Volta Grande, em Navega. Um dog grandalhão apareceu do nada e cortou a frente dele. Ao desviar, Rubens perdeu o controle da direção e foi pra chón.

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Rubens descobriu em fevereiro que o corpo rejeitou os pinos parafusados no braço esquerdo e logo entrou na fila pra cirurgia. Segundo ele, o procedimento de enxerto envolve a retirada dos pinos e a tranferência dum osso da bacia pro braço. Enquanto espera pela faca, não pode voltar a trabalhar e passa os dias com muita dor. “Ninguém sabe de quem é a culpa e ninguém me dá uma resposta. A secretaria da Saúde de Navegantes diz que é responsabilidade de Itajaí, e Itajaí diz que é de Navegantes”, conta o vigilante, que dia 9 passará pela quarta perícia do INSS.

Tá socado

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O diretor de controle de Avaliação da secretaria da Saúde peixeira, Ricardo Reiser, explica que o hospital Marieta tem nove salas cirúrgicas na ala de ortopedia, sendo quatro delas exclusivas pra emergências. “O Marieta, hoje, tem uma superlotação, que infelizmente prejudica todas as cirurgias eletivas”, afirma. De acordo com ele, todos os pacientes que solicitam procedimentos cirúrgicos na área de ortopedia têm os laudos analisados por médicos especializados ou clínicos gerais, que vão avaliar quais casos são prioritários. Os mais graves são colocados no topo da fila, enquanto os demais ficam organizados por ordem de chegada. Mesmo assim, fica difícil ter uma previsão de quando o paciente será atendido, já que novos casos de emergência surgem todos os dias e cortam a frente de quem espera há mais tempo, mas que não corre riscos tão grandes.

Se o caso do paciente se agravar durante a espera, a orientação é de que procure um posto de saúde pra que um médico descreva a situação e elabore um novo laudo, que pode ou não justificar que a pessoa seja atendida na frente dos demais. Ao todo, 50 cirurgias de sete subespecialidades diferentes são realizadas na ala de ortopedia do Marieta a cada mês. E pra tentar diminuir a espera dos pacientes, o pessoal da secretaria de Saúde de Itajaí fazendo contato com hospitais de Itajaí, Penha e Luís Alves pra transferir alguns doentes pra essas citys e desafogar as salas cirúrgicas do Marieta.

Ainda de acordo com Ricardo, a lista de espera dos enfermos de cidades vizinhas que se tratam no Marieta, como é o caso de Rubens, é repassada mensalmente pras secretarias de Saúde dos municípios pra que os pacientes tenham acesso.

Contudo, segundo a coordenadora do setor de Cirurgias da secretaria da Saúde dengo-dengo, Elaine Junkes de Melo, a fila é controlada somente em Itajaí. “Não tenho acesso a isso, só fico sabendo quando a cirurgia é marcada”, garante. A assessoria de imprensa do Marieta informou que o hospital também não tem controle sobre essa lista de espera.

Demora pode piorar situação de Rubens, diz médico

Pro doutor Helio Cezar Gomes dos Reis, professor de medicina da Univali e especialista em ortopedia, o caso de Rubens foge da rotina. Segundo ele, os pinos internos nem sempre precisam ser retirados e muita gente convive com os parafusos sem problema nenhum. Mas como no caso do vigilante houve infecção e rejeição, um procedimento cirúrgico torna-se necessário. “E aí tem que fazer a limpeza, e às vezes até tirar um pedaço de outro local e colocar nesse que tá com dificuldade pra resolver”, diz. Se a cirurgia demorar pra rolar, segundo o dotô, o paciente pode ter complicações. “É o risco que corre. Ele vai ficar sofrendo com dor, vai ter mais tempo de infecção, a extensão da lesão pode aumentar e o estado em geral dele pode piorar”.

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Depressão

Rubens recebeu a equipe do DIARINHO quarta-feira de manhã em casa, no bairro Gravatá. No canto da mesa da cozinha havia duas caixas de antidepressivos, deixadas bem ao lado de uma penca de documentos: atestados médicos, resultados de exames e declarações. “Meu dia a dia é isso aqui”, disse, ao apontar pra medicação. Rubens entrou em depressão desde que o perrengue pra conseguir a cirurgia começou. Os gastos com medicamentos entram na lista das dívidas do vigilante, que vão da prestação da moto a carnês atrasados em lojas. Uma parte ele quita com dinheiro emprestado de amigos e familiares, mas as contas de Rubens só aumentam cada mês que ele fica sem trabalhar. Além disso, os pais são acamados e o vigilante faz questão de melhorar logo pra poder voltar a tomar conta dos aposentados.

Segundo a MCM Contabilidade, responsável pela contratação de Rubens, o trabalhador tá afastado desde agosto do ano passado por doença. “Se ele apresentar um atestado do INSS dizendo que ele está apto ao trabalho, pode voltar. Mas ele está esperando a cirurgia”, disse um representante da empresa, que preferiu não ser identificado. Enquanto isso, Rubens cuida, com uma mão só, de uma horta na frente de casa. Pra tentar juntar um dinheirinho, de vez em quando vende alguns pés de alface. Mas o retorno tá bem longe de ser suficiente: “Tô pensando em vender latinhas na rua pra pagar minhas contas”.

Cachorrada solta na rua é comum em Navega

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Os índices da organização Mundial da Saúde (OMS) aplicados ao senso de 2010 do instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dão conta de que existem 5.559 cachorros nas ruas da city dengo-dengo. Destes, só 1,3 mil têm dono. É o caso do dog que causou o acidente de Rubens. “Eu identifiquei o proprietário, mas resolvi não processar”, conta o vigilante.

Pra Lígia Maria de Mello Oliveira, presidente da ONG Pró-bichos, de Navegantes, a maioria dos peludos que andam soltos pelas ruas são semi-domiciliados. Ou seja: perambulam pelaí durante o dia, mas são trazidos de volta pra casa pelos donos à noite. “Essa questão é cultural”, comenta a defensora dos animais.

Pensando nisso, em maio a ONG apresentou na câmara de Vereadores o Código de Defesa, Proteção e Bem-Estar Animal. O código prevê a educação da comunidade, inclusive acrescentando à grade das escolas dengo-dengo a matéria “Porte responsável de animais”, com o objetivo de conscientizar a população. O projeto foi elaborado por alunos do curso de direito da faculdade Sinergia, de Navegantes, sob a orientação da coordenadora do núcleo de prática jurídica da instituição e também vice-presidente da Pró-bichos, Ana Selma Moreira. Atualmente, o projeto é analisado do ponto de vista financeiro pelo poder executivo.

Enquanto isso, de acordo com a presidente Lígia, a ONG negocia com a prefa um convênio pro atendimento de animais em sofrimento. “Mas essas ações teriam que ser tomadas pelo Fuman [fundação Municipal do Meio Ambiente], que tem que agir de maneira firme na punição das pessoas”, carca.

De acordo com o abobrão da Fuman, Paulo Mafra, deixar cachorros soltos na rua caracteriza abandono, que se encaixa na categoria de maus tratos a animais. Os desalmados podem pagar uma multa de no mínimo R$ 500, mas pra isso, afirma Mafra, as pessoas que flagram esse tipo de situação precisam denunciar. O caso de Rubens, em que o dog solto tinha dono e provocou um acidente, poderia ter parado na polícia Civil se o vigilante tivesse denunciado o proprietário do peludo.

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Apesar de Rubens jurar de pés juntos que cansou de ligar pra Fuman pedindo pra tirarem os cachorros das ruas, Mafra garante que nunca tinha ouvido falar do caso. Mas ele já adianta: tirar os animais da rua não é responsabilidade da Fuman. “É questão de conscientização de quem tem cachorro”.




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