Itajaí

Mau tempo adia largada da Jacques Vabre

Barcos da regata não largam antes de quinta-feira. Anúncio foi feito ontem no porto francês onde os 44 veleiros permanecem atracados

Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]

Direto de Le Havre - França

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Por James Dadam

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Por James Dadam

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A largada da regata francesa Transat Jacques Vabre foi adiada novamente. Até quinta-feira nenhum barco vai deixar o atracadouro Paul Vatine, na cidade de Le Havre, em direção a Itajaí. Inicialmente prevista para partir no domingo, a competição já tinha sido adiada no sábado e deveria partir hoje à tarde, mas ventos fortes que poderiam chegar a mais de 90 km/h motivaram a organização do evento a adiar novamente a largada para garantir a segurança dos participantes. Ainda não há uma data fixa para a largada, que não será antes de quinta-feira.

A tempestade que atinge a região não tem dia para acabar. Por isso, a organização da regata decidiu adiar a largada da competição. O anúncio foi feito na noite de domingo, na Vila da Regata de Le Havre, pelo diretor de esportes da competição, Manfred Ramspacher. Ele disse que a decisão foi difícil, mas necessária para a segurança dos barcos e das tripulações. Segundo ele, a previsão do tempo para os próximos dias não prevê melhoras, portanto todas as categorias vão continuar ancoradas até que o mau tempo dê uma trégua.

Manfred diz que os barcos maiores e mais velozes, como os da categoria Mod70 ou Imoca, de 70 e 60 pés de comprimento, respectivamente, poderiam partir tranquilamente, mas os pequenos, das categorias Class40 e Multi50, não teriam chance com as atuais condições. Porém o diretor diz que tal medida descaracterizaria a regata, que é composta tradicionalmente por várias categorias. De acordo com ele, os barcos maiores não deixaram Le Havre em solidariedade às embarcações menores.

Não há previsão de quando os veleiros poderão partir para enfrentar as 5400 milhas náuticas - pouco mais de 10 mil quilômetros, entre a cidade francesa e Itajaí. A previsão do tempo será avaliada diariamente até que as condições meteorológicas permitam a largada em condições de segurança para todas as categorias.

Primeira parte é mais difícil

Segundo dados da agência francesa de meteorologia Météo France, há zonas de baixa pressão no canal da Mancha que estão provocando tempestades e aumentando a intensidade dos ventos e das correntes marítimas. Como o canal fica bem no início da competição, os barcos teriam que enfrentar as péssimas condições do tempo logo na primeira noite, fato que a organização deseja evitar.

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O trecho é apontado pelos competidores como o mais complicado, pois o canal concentra 20% de todo o tráfego marítimo mundial. É tanto barco e navio que algumas partes do canal são fechadas para a passagem dos veleiros. Também existem outras zonas proibidas por causa da presença de rochas, principalmente ao longo de toda a costa francesa, sem contar o vento contrário, o que dificulta ainda mais a tarefa dos atletas em manter os barcos em segurança.

Apesar de serem os velejadores aqueles que enfrentam os perigos do mar, a equipe de apoio também sofre. O capitão da equipe de terra do barco Safran, da categoria Imoca, Loïc Lingois, conta que fica angustiado e preocupado do começo ao fim da regata. “O estresse é muito grande para nós, que ficamos em terra, porque somos responsáveis pela vida de duas pessoas durante a duração do percurso”, diz.

Para saber como andam as coisas no mar, a equipe de terra tem horários predeterminados para receber ou enviar notícias ao pessoal que está a bordo das embarcações. Quando os velejadores não entram em contato na hora marcada, é preocupação na certa. O mesmo acontece quando eles contatam a equipe fora dos horários combinados. “É sinal de que alguma coisa está errada”, explica Loïc.

Acidentes em regatas são frequentes, mas os velejadores são treinados para evitar o pior. É o que diz o coordenador da equipe técnica do barco Edmond de Rothschild, Benoït Piquemal. Ele explica que os atletas precisam ter um certificado esportivo para comprovar que estão preparados para enfrentar situações adversas e emergências. Além disso, os barcos possuem inúmeros equipamentos de emergência, e os velejadores passam por treinamento. “Existe um protocolo a ser seguido em casa situação, e eles precisam saber todos os procedimentos a serem adotados”, diz.

A britânica Hannah Jenner, 33 anos, é a capitã do barco “11th Hour Racing”, da Class40. Na sua primeira participação na Jacques Vabre, em 2011, ela passou por um grande sufoco enquanto passava pelo arquipélago dos Açores. Com ventos superiores a 90 km/h, o barco dela capotou cinco vezes. “Nós tivemos muita sorte”, conta. Praticamente a metade dos competidores teve que abandonar a regata naquele trecho por causa de problemas estruturais nos barcos, mas ela continuou e chegou em terceiro lugar. “As ondas eram enormes, e várias vezes o barco ficava na vertical em vez de cavalgar a onda, se chocando contra ela”, lembra.

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Em 2005, o barco de Charles Caudrelier, que neste ano estará a bordo do Mod70 Edmond de Rothschild, quebrou-se em duas partes no primeiro dia da regata, umas 15 horas após a largada. O atual companheiro dele, Sébastien Josse, teve que ser resgatado de helicóptero em 2009 com o parceiro Jean-François Cuzon. A tempestade era tão forte que chegou a arrancar o teto do barco deles.

Programação não sofre alteração em Itajaí

O presidente do comitê local da Transat Jacques Vabre, Amilcar Gazaniga, diz que o adiamento da partida dos veleiros não vai alterar em nada a programação do Aventura pelos Mares do Mundo. “Nós já prevíamos a chegada deles aqui na segunda semana do evento, tanto que na primeira semana colocamos todos os eventos do Festival de Música. Se atrasar dois ou três dias não, vai alterar em nada”, afirma.

Amilcar acredita que se a regata sair na quinta-feira, 7, os barcos mais velozes devem chegar em Itajaí a partir do dia 22, 15 dias após a partida. “Se pegar um vento forte chegam até antes”, diz. A vila da regata de Itajaí abrirá no dia 16 de novembro e o último dia de atrações será no dia 1º de dezembro.

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Bacia tem nome de velejador desaparecido

Mas talvez a lembrança mais triste tenha sido o desaparecimento de Paul Vatine, que dá nome à área onde os barcos ficam atracados. Ele é da Normandia, região da França onde fica Le Havre, e venceu as duas primeiras edições na extinta categoria Multi60, em 1993 e 1995, e em 1997 chegou em segundo. Em 1999, no caminho para Cartagena, na Colômbia, entre Portugal e os Açores, Paul Vatine enfrentou ventos de 110 km/h e o barco virou. Ele e o barco nunca foram encontrados. O companheiro de viagem, Jean Maurel estava dormindo dentro da embarcação e conseguiu sair pela escotilha. Jean foi salvo por um cargueiro após ficar 15 horas no mar. Por causa da morte de Paul, a organização da regata é muito cuidadosa na hora de liberar os barcos.

Vencedor em 2007 na Class40, o italiano Pietro D’Ali explica que a previsão do tempo é importante para se conquistar um bom resultado e vencer a regata. Ele diz que a meteorologia é uma ciência que evoluiu muito e que atualmente existem mais informações do que havia no passado. “Existem programas de navegação que combinados com o rendimento do barco podem traçar rotas vantajosas, o que ajuda a fazer uma rota mais veloz, que leva à chegada em um tempo mais curto”, afirma.

Pietro destaca, contudo, outra função fundamental da meteorologia. “Tem ainda um fator de segurança que permite navegar evitando os pontos mais perigosos, como perturbações, fugindo da parte mais intensa da perturbação”, diz.

  • Le Havre: das cinzas a patrimônio da humanidade

Quase completamente destruída durante a guerra, Le Havre ressurgiu dos escombros. Hoje é exemplo de organização e planejamento urbano

No coração da cidade francesa de Le Havre, um edifício se destaca. É o Hotel de Ville. Apesar do nome, não se trata de um hotel, mas do centro administrativo municipal, equivalente à prefeitura nas cidades brasileiras. Do alto da torre de 90 metros, o panorama é de tirar o fôlego. Quem observa Le Havre hoje fica impressionado com a organização e a beleza desta cidadezinha de quase 47 km² e pouco mais de 193 mil habitantes. Proporcionalmente, seria a população de Itajaí dentro da área de Balneário Camboriú.

Mas ela nem sempre foi assim. A cidade francesa foi fundada em 1517 devido à necessidade de um novo porto para o país. Como a maior parte das localidades portuárias, Le Havre ainda carrega o estereótipo e o preconceito por aquilo que a presença de um porto comporta, como zonas degradadas, prostituição e violência.

Durante a Revolução Industrial, no século 19, a população cresceu de forma desordenada, sem planejamento e sem qualquer preocupação com saneamento básico e com as condições de moradia. Ela era extremamente poluída, com muitos lixões a céu aberto, e sofria constantes inundações, principalmente nas áreas residenciais. Em 1940 os alemães tomaram o porto e ficaram por lá até serem expulsos pelos ingleses, que bombardearam e destruíram entre 80 e 90% da cidade durante a Segunda Guerra Mundial. Sobrou quase nada.

Milhares de pessoas tiveram que abandonar suas casas e permanecer em campos de refugiados. Quem ficou na cidade teve que abandoná-la a pé, de bicicleta ou carroça durante os bombardeios realizados pela força aérea britânica. A intervenção militar foi apelidada de “tempestade de aço e fogo”, reduzindo edifícios públicos, igrejas, hospitais, escolas, comércios e residências a um amontoado de entulhos. O que não caiu foi destruído pelas chamas. As adutoras de água também foram danificadas, deixando a população sem água para apagar o fogo.

Somente em setembro de 1944 é que Le Havre se livrou dos alemães e da guerra. O resultado, segundo a Unesco, forai de cinco mil pessoas mortas, 12.500 imóveis destruídos e 80 mil desabrigados, sem contar a perseguição nazista aos judeus, deficientes, homossexuais e ciganos. A crise econômica, a escassez de alimentos e produtos básico deixaram boa parte da população em condições subumanas. O porto também sofreu muitos danos: com o bloqueio dos canais, ficou praticamente inutilizado.

Era necessário reconstruir tudo e foi o que os franceses fizeram. Para comandar o trabalho e planejar a nova Le Havre, foi escolhido o arquiteto francês Auguste Perret. Nada de arranha-céus. Mesmo hoje a maioria das construções não passa de cinco andares. Os entulhos das antigas casas destruídas pela guerra foram usados para elevar o nível da cidade e evitar que as novas construções fossem erguidas no solo úmido. Ao todo, 60 arquitetos e projetistas trabalharam para organizar o espaço urbano.

Com carta branca, Perret projetou calçadas largas e incluiu quase oito quilômetros quadrados de áreas verdes com parques e jardins. Tudo é extremamente limpo e organizado, bem diferente da velha Le Havre. Três avenidas formam um triângulo no centro da cidade, facilitando o acesso aos bairros periféricos em todas as direções. O transporte público também foi privilegiado. Atualmente, são 46 quilômetros de ciclovias, 165 ônibus e 13 quilômetros de linhas de metrô de superfície que transportam, diariamente, cerca de 100 mil passageiros.

Os novos edifícios trouxeram elementos modernos para a época do pós-guerra, como aquecimento central, por exemplo. A igreja de São José, com 110 metros de altura, foi projetada por Perret e valorizou o espaço urbano. Por causa do trabalho de reconstrução que fez Le Havre literalmente renascer das cinzas igual à fênix - pássaro da mitologia grega – e do conjunto arquitetônico, o centro da cidade foi declarado pela Unesco como patrimônio mundial da humanidade.

Velejar para mudar a imagem

Sempre porto de partida da Transat Jacques Vabre, a regata, que acontece a cada dois anos, é uma oportunidade para Le Havre modificar a imagem negativa associada às cidades portuárias. É o que diz o prefeito Edouard Philippe, que quer consolidar o município como sede de eventos náuticos e mostrar que Le Havre é um bom lugar para viver e visitar.

Casa moderna para o pós-guerra

Durante a reconstrução, uma das prioridades era a criação de apartamentos para que os habitantes pudessem voltar a residir no centro. Para o arquiteto Auguste Perret, era importante criar a habitação ideal, que garantisse o mínimo indispensável para que as pessoas pudessem viver bem.

Em frente ao Hotel de Ville, Perret elevou quatro blocos idênticos, totalizando 330 apartamentos. Os blocos tinham uma escada interna para cada seis casas, duas por andar. Usando elementos pré-fabricados, os custos foram reduzidos e permitiram verdadeiras inovações arquitetônicas. As paredes internas podem ser modificadas de acordo com a vontade do morador. Apenas uma única coluna de concreto armado em cada apartamento não pode sair do lugar. Todo o resto é passível de modificações.

Uma das novidades introduzidas pelo arquiteto foi a criação da sala de estar e quarto para as crianças, que até então não existiam nas residências francesas. Todas as peças eram abertas, o que modificou os hábitos de vida da população e garantiu às mulheres mais autonomia no espaço doméstico. Elas não ficaram mais confinadas na cozinha e podiam simultaneamente limpar outros cômodos e cuidar das crianças. Não havia tempo a perder. Após a Segunda Guerra Mundial, a figura do trabalhador doméstico praticamente desapareceu, e as donas de casa tinham que dar conta de todo o serviço e cuidar dos três ou quatro filhos que todos os casais deveriam ter. Era o mínimo aceitável pela sociedade da época, que precisava repopular o país após as inúmeras mortes da guerra.

Tudo era prático e feito para durar décadas. O próprio Perret desenhou móveis que pudessem ser adaptados conforme o crescimento das crianças.

Um dos apartamentos do conjunto de edifícios foi mantido na sua forma original, para funcionar como uma espécie de museu, mostrando como viviam os habitantes de Le Havre no pós-guerra. Ali estão móveis originais, como a escrivaninha, que pode ser regulada conforme o crescimento das crianças, e uma cadeira de madeira em forma de cubo, que pode ser usada em três alturas diferentes. Como se fosse um dado, cada vez que se apoia um lado da cadeira no chão, a altura do assento muda.

Outra característica dos apartamentos de Perret é a preocupação com a higiene. Todos os móveis da cozinha são feitos com materiais claros e fáceis de limpar. O banheiro recebeu azulejos até o teto, e o vaso sanitário fica num quartinho separado do chuveiro e da pia, como são atualmente a maioria dos banheiros franceses.

Versatilidade dos cômodos do apartamento desenhado por Perret, que pode ser vista em museu na cidade




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