Até sexta-feira, dia oito, por volta das 13h30, o canal Porta dos Fundos no Youtube tinha pouco mais de 6 milhões e 200 mil inscritos. O sucesso é tanto que o vídeo mais popular dessa trupe humorística foi visto mais de 12 milhões de vezes. O Porta, formado por um grupo de amigos do Rio de Janeiro, faz humor sem pudores, carregado de palavrões e sacadas que você certamente não vê na televisão. No último dia 30, cinco integrantes do coletivo de humoristas estiveram em Balneário Camboriú para o lançamento do livro Porta dos Fundos. A obra reúne 37 roteiros das esquetes que estão na internet. O DIARINHO deu um pulo lá e conversou com o diretor do programa, lan SBF (isso mesmo, ele assina assim), Gabriel Esteves (roteirista) e com os atores Luis Lobianco, Julia Rabello e Leticia Lima. Os cliques são de Felipe Schürmann.
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Ainda não conhece essa turma? No www.portadosfundos.com.br tem a relação completa da equipe e um história do grupo. Mas o melhor tá no www.youtube.com/portadosfundos, o canal no Youtube com todos os vídeos.
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DIARINHO - Qual o segredo para fazer as pessoas rirem?
Julia Rabello A gente não vai te contar [risos] Mentira. [Ian SBF] A gente não produz com cabeça de produtor. A gente produz com cabeça de espectador. A gente faz o que gostaria de ver na televisão, na internet ou em qualquer outro lugar. Então, acho que essa é a brincadeira, a gente nunca pensa o que eles querem ver, , sim, o que a gente quer ver. [Luis Lobianco] E o segredo do humor é fazê-lo sério. Fazer de verdade, porque se você não acredita e antes de fazer você já está falando ó, é engraçado, aí, as pessoas não acreditam. Então tudo que é muito sério, verdadeiro e absurdo fica engraçado. [Leticia Lima] - Principalmente quando você tenta não fazer graça mesmo. Você pega o papel e, se é uma briga, você briga sério. E a situação engraçada é o texto e o que está acontecendo ali. Não exatamente você tentando fazer graça. [Lobiaco] Neste grupo, a gente tem a graça e a felicidade de não precisar salvar os textos. Os textos ruins, na verdade, não chegam até a gente. Os textos são muito bons, engraçados. A gente brinca, claro, improvisa, acrescenta, mas o texto já deixa a gente muito seguro de tudo. Lendo, na primeira leitura, na internet, no e-mail a gente já está morrendo de rir. Eu, pelo menos.
DIARINHO - O que fazer se as pessoas não acharem graça das piadas?
Ian Trocar por outro vídeo. Tem muita gente que não vai achar graça de tudo, e a gente entende isso, mas acho que uma das graças de você ter a internet hoje é que, se você não gostou de um vídeo, você pode pular para outro logo de cara, não precisa esperar que acabe. É muito fácil. [Lobianco] Acho que até pra gente. Tenho vídeos preferidos e outros não. É natural. Mas se a pessoa não gostar de nenhum vídeo do Porta, aí tem que procurar outro canal, se ela achar. [Julia] -- Existe gosto para tudo. Eu gosto muito de todo o material que a gente fez. Não há nenhum que eu diga uh, lixo. Porém, quando eu vou conhecendo pessoas que vêm falar comigo sobre os vídeos, eles falam dos mais variados: o que eu mais gosto é o.... E eu falo poxa, nem é o meu preferido, mas legal. É muito variado, mas é claro que temos alguns vídeos referência. É muito comum você ver vídeos que você nem lembra, porque agora temos um conteúdo grande, mas eu alguém vai dizer eu gostei daquele. Você tenta lembrar e diz pô, que legal. Então a gente não tem esse problema, não vive muito isso.
DIARINHO - Como surgiu a ideia de fazer os vídeos do Porta dos Fundos?
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Ian Eu acho que a gente nunca teve uma ideia específica de produzir vídeos. Foi crescendo isso. Logo no comecinho, a gente queria fazer cinema, tevê, tudo de uma vez. [Esse começo foi quando?] Oito meses antes de ser lançado o primeiro vídeo, no comecinho de 2012. [Esse grupo já estava fechado?] Já. Acho que desde sempre. Nós somos um grupo de amigos de muito tempo. Então, não é como se gente fosse uma boy band que a gente foi formando ou que alguém veio se juntar. [Leticia] Não havia como. Estavam todos juntos. [Ian] A gente não quis se juntar. A gente já estava junto e quis fazer uma coisa que gosta de fazer e não estava fazendo e também não encontrava nenhum lugar.
DIARINHO - Hoje vocês são um fenômeno na internet. Qual a grande sacada?
Ian Obviamente, foi o grupo que gente reuniu. Temos os melhores atores e os melhores roteiristas hoje; é inegável. A sacada mesmo, e que contou muito, foi a gente lançar uma interatividade forte, profissional. É muito importante as pessoas terem um cronograma, uma data: sabem que segunda e quinta, às 11h, vai ter um vídeo e vão poder entrar pra ver. Acho que isso marcou a profissionalização de vídeos na internet. Uma coisa que tinha, era muito ah, quando tem, tem. Achei uma coisa.[Leticia E acho também que uma sacadinha é qualidade daquilo. Não é só porque é na internet que não vai ter qualidade. A gente tem fotografia, locação e não é um vídeo amador, que você liga uma câmera de um celular, o que também é legal. Mas isso de lançar no dia certo, com os atores que as pessoas querem ver, então meio que profissionalizou essa coisa de ter vídeo na internet com qualidade e não qualidade só quando é pra TV, por exemplo. [Julia] Você tem vários elementos, e também o fato de a gente ter uma liberdade maior para fazer deteminadas coisas. E eu, com olhar de espectadora, gosto. Os vídeos em que eu não estou, eu assisto como público, porque eu não sei como foram feitos. Então eu me pego me divertindo, a gente falando deteminada coisa que eu não vou ouvir em outro lugar. Essa liberdade na comunicação é incrível. E o Ian, um tempo atrás, falou uma coisa que eu adorei: nosso humor é meio mesa bar. Então é um humor que a gente ri, de alta comunicação.
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DIARINHO - Como é o processo de criação dos vídeos? Os textos são produzidos em conjunto? Um vídeo leva quanto tempo para ser produzido?
Gabriel Esteves A partir da leitura de roteiro, de onde a gente sai com os textos aprovados. [Você e....] Eu, o Kibe [Antonio Pedro Tabet, criador do site Kibeloco], Fábio [Porchat] e Gregório[Duvivier]. E quem mais participa da reunião é o Ian e João Vicente [de Castro]. A gente sai com o textos aprovados e vai para a produção, que é quando começa a correria pra locação, agenda de atores... Os vídeos mais complicados demoram mais. Mas, em média, são 15 dias entre a aprovação do roteiro e o vídeo pronto. O vídeo ainda vai para a edição.
DIARINHO - Qual o tamanho da equipe Porta dos Fundos? Além de vocês, comediantes, são quantos os empregados?
Ian Trinta e poucas pessoas. Tem gente na produção, na edição, figurino, a tiazinha do café... [Leticia Lima] -- É a gatinha do café. [Ian] -- Tem tudo. Equipe de arte, design, mídias sociais. [Lobianco] -- Já teve dia de ter duas equipes trabalhando simultaneamente.
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DIARINHO - Vocês acreditam que há lugar na TV pra este tipo de humor?
Ian Não. Tenho certeza que não.
DIARINHO - Para vocês, quem são os ícones do humor brasileiro? Quais os programas que se destacam pela qualidade?
Ian Para mim, Fábio Porchat. [Leticia] Luis Lobianco. [Ian] - Eu vejo muita coisa lá fora. The Kids on The Hall [programa canadense de humor], South Park [siticom americano de humor para o público adulto], Family Guy [também americano e pra adulto. Assim como o South Park, o forte é o humor negro]. São coisas de que gosto. Tem muita coisa no Brasil também. Mas eu me inspiro mais lá fora. Claro, temos aqui a turma do Casseta [& Planeta], que quando surgiu revolucionou muita coisa. E tem muita coisa estourando, tem uma nova safra forte surgindo.
DIARINHO - Vez por outra, assuntos religiosos são temas das piadas que vocês publicam na net. Alguma igreja, entidade ou grupo religioso já se manifestou sobre isso? Como foi a reação, caso ela tenha ocorrido?
Ian Vez ou outra, não. É vídeo sim e vídeo não. Sempre que a gente lança um vídeo religioso, alguém fala alguma coisa. Tem os fiéis, mas é algo no twitter, mas acho que é mais por brincadeira. [Lobianco] E eles divulgam mais os vídeos. [Ian] -- É uma forma de divulgar. O cara liga para os amigos e diz olha lá, que absurdo, falando mal.
DIARINHO - Vocês têm alguma postura política contra determinados segmentos da sociedade, como negros, homossexuais e obesos, por exemplo?
Ian - A gente não tem restrição a nada. Uma das nossas brincadeiras é achar que a gente sempre pode falar de tudo. [Lobianco] - Eu acho que o Porta alcança todos os públicos. Sei lá, o vídeo tem mais de quatro milhões de visualizações, por isso eu acho que é o humor que não exclui ninguém. Não subestima ninguém por classe, por entendimento, por idade, por nada. Ao contrário do que acontece na televisão. A TV faz milhões de estudos para descobrir se aquele produto é feito para tal público. Na verdade, você está restringindo mil possibilidades. Eu falo por mim. Desde criança, vejo coisas que não poderia assistir, teoricamente. Então, acho que o Porta está lá, pra todo o mundo. Ele não é didático, não subestima a inteligência e a capacidade de entendimento de humor de ninguém.
DIARINHO - Depois daquela piada do Rafinha Bastos, que disse que ia comer a Wanessa Camargo, surgiu, instantaneamente, aquela pergunta: O humor tem limite?. O limite, para vocês, parte de vocês ou do público?
Ian - Como nós somos um grupo, o limite é sempre individual. Sempre que tem alguma coisa, eu gosto de falar aquilo. O Luis, a Leticia, cada um vai falar o que gosta ou não. Eu acho que, aí sim, o grupo tem um limite. Além disso, o que eu gosto mais não é só o limite. Nós também temos o nosso limite, que é o limite de quem vê. Porque a pessoa pode ver ou não o que a gente tá fazendo, e acho que todo o mundo tem que ter o seu limite. Ela vai julgar e dizer se quer ou não esse tipo de coisa. Isso também é parte da internet, ninguém é obrigado a ver nada. Então liga a TV e vê o que está passando. A gente tem que gostar do que está fazendo..
DIARINHO - Vocês sentiram que passaram do ponto alguma vez?
Ian - Todas as semanas. Na verdade, eu não lembro quando a gente não passou. Os vídeos do Gregório foram os que passaram mais do ponto. O Homem que não sabia mentir é um deles.
DIARINHO - Existem várias formas de censurar o humor. Na época da ditadura aconteceu muito, e agora, na democracia, também. Os humoristas foram, inclusive, para a rua em período eleitoral. Numa democracia, com o advento da internet, tem como censurar? E como lidar com essa pressão?
Lobianco - Aconteceu, há pouco tempo, durante uma campanha, uma coisa assim, que tentaram proibir que humorista fizessem piada com os candidatos. E aí teve uma passeata, e tal. O Fábio organizou e acabou não dando em nada. Eu acho o seguinte: quando você abre o canal Porta dos Fundos você vê lá quantos inscritos? [Ian] -- Seis milhões e cento e vinte mil [Lobianco] - Então, é muita gente. Acho que significa você censurar a liberdade de muita gente assistir ao que gosta, o que espera para ver durante toda a semana. Então, é uma briga que eu não sei se tem muita gente disposta a comprar. Apesar de que eu acho que a gente tem sempre que estar muito atento a qualquer sinal de censura, por mais sutil que seja. [Julia] -- A internet é o fator principal numa democracia. Se você não aceita isso, acho que a democracia entra em colapso, começa a ficar doente. Então, eu tento ficar muito atenta a isso. Às vezes eu não concordo com determinados assuntos, mas eu acho que o fato de eles estarem sendo debatidos é importante. Se a pessoa diz, ah, não concordo com o que você está falando. Eu discordo de não ter esse espaço. Tem que ter. E aí abrange tudo, né, coisas idiotas, coisas bizarras. Mas o importante é que isso é fruto de uma democracia.
DIARINHO - Agora vocês têm o apoio de Luciano Huck. O que significa isso para o Porta dos Fundos?
Ian - Para falar a verdade, a gente não tem apoio do Luciano Huck. É uma pessoa com quem a gente sempre teve contato, que a gente conversa, trocava uma ideia. Eu acho que vale muito. Mas, na verdade, é uma parceria que nunca influiu em nada, nunca teve uma coisa de criativa, então não é uma coisa que interfere na área. Ele conhece muita gente, só acrescenta. Mas, na parte criativa, nunca senti nada.
DIARINHO - Como vocês convenceram Maitê Proença a partir do vídeo de vocês?
Leticia - Foi ela quem quis. [Lobianco] Foi o caminho mais esquisito. A nossa estagiária era amiga da filha da Maitê e foi jantar na casa dela. E ela descobriu que ela estava na Porta dos Fundos [Leticia] -Que ela gosta... [Lobianco] -- e foi isso. [A ideia do roteiro foi dela?] [Lobianco] -- Não, daí a gente falou: então deixa a gente fazer como a gente quiser. [Júlia] -- Mas ela pensou, mais ou menos, botou uma linguagem...
DIARINHO- Quantos processos correm contra vocês?
Ian - Nenhum.
DIARINHO- O Fábio Porchat é gay mesmo ou ele está pegando a Anitta [funkeira]?
Leticia - Nem uma coisa e nem outra, né? [Por quê?] [Ian] Porque a Anitta é homem.
RAIO X
Nome: Ian SBF
Idade: 32 anos
Naturalidade: Rio de Janeiro/RJ
Estado civil: casado
Filhos: não
Formação: sem formação
RAIO X
Nome: Julia Rabello
Idade: 32 anos
Naturalidade: Rio de Janeiro/RJ
Estado civil: casada
Filhos: não
Formação: superior completo
RAIO X
Nome: Leticia Lima
Idade: 29 anos
Naturalidade: Tres Rios/RJ
Estado civil: casada
Filhos: Meu cachorro Bruno
Formação: ensino médio
RAIO X
Nome: Luis Lobiaco
Idade: 31 anos
Naturalidade: Rio de Janeiro/RJ
Estado civil: ajuntado
Filhos: não
Formação: faculdade Casa das Artes de Laranjeiras (CAL)
RAIO X
Nome: Grabriel Esteves
Idade: 29 anos
Naturalidade: Rio de Janeiro/RJ
Estado civil: solteiro
Filhos: não
Formação: superior incompleto
O Porta alcança todos os públicos... é o humor que não exclui ninguém
(Lobianco)
A TV faz milhões de estudos pra descobrir se aquele produto é feito para tal público. Na verdade, você tá restringindo mil possibilidades (Ian)
A gente tem sempre que estar muito atento a qualquer sinal de censura, por mais sutil que seja. (Lobianco)
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