A geladeira, da marca GE, cor branca, ficou alguns dias no hall de entrada do edífício residencial Francisco Eduardo, na rua 15 de Novembro, centrão da city peixeira. Lá mora a presidenta da Apae de Itajaí, Vera Lucia Figueredo. Um funcionário da associação, que não quis se identificar por medo de represália, chegou a afirmar ao DIARINHO que Vera teria desviado pra si o refrigerador. O denunciante clicou a geladeira no interior do prédio. O eletrodoméstico tava embaladinho, novinho em folha.
Segundo essa fonte, esta não seria a primeira vez que Vera desvia produtos dos bazares que a Apae promove com produtos apreendidos pela Receita Federal. Antes de abrir para o povo, ela primeiro chama as amigas, as madames da sociedade de Itajaí. Elas ficam com o melhor: panelas e roupas de luxo. O resto fica pro povão, garantiu o funcionário.
Conforme o homem, Vera teria demonstrado interesse na geladeira assim que bateu o olho no produto. Ela nunca escondeu o desejo pela geladeira. Disse que iria colocar na casa de praia dela.
Produtos vieram dos Isteites
A geladeira fazia parte de uma carga apreendida pela Receita e doada à Apae no dia 6 de maio deste ano. Os produtos, segundo o funcionário, foram retirados dum porto seco na Itaipava, onde a Receita tem um enorme galpão. Enchemos dois caminhões e passamos 15 dias catalogando tudo.
Conforme a inspetora-chefe adjunta Geovana, a carga veio dos Estados Unidos. Era parte de uma mudança de uma família, que retornou ao Brasil após anos morando na Terra do Tio Sam. Acontece de a pessoa ser procurada lá [Estados Unidos] por alguém que queira mandar produtos para o Brasil sem pagar imposto. Aí, mistura tudo numa carga pessoal. Quando a Receita pega, fica tudo, explicou a chefona da alfândega peixeira.
Mais de 10 páginas
Nesta carga específica, a Receita repassou produtos que, enumerados, encheram mais de 10 páginas A4. Na página dois, a geladeira foi declarada com preço de R$ 203. Além do refrigerador, foram doados fornos de micro-ondas, fogões, balanças digitais, batedeiras, liquidificadores, secadores de cabelo, telefones sem fio, cafeteiras, ferros de passar roupa, home theater, DVDs, câmeras digitais, filmadoras e muitos outros produtos.
Todos os itens, conforme documento emitido pela Receita Federal, deveriam, obrigatoriamente, ser doados. Tinha muita coisa usada no meio. Então, o repasse à população tinha que ser gratuito, afirmou a inspetora Geovana, que completou. Se constatarmos que houve destinação diversa, é bem provável que não façamos mais doações para a Apae.
Sou honestíssima, garante presidenta da Apae
Vera Lucia Figueredo, mandachuva da Apae peixeira, garante que está sendo alvo de perseguição política. Amanhã [hoje] tem eleição para decidir a nossa diretoria. Isso [denúncia] é coisa da oposição. É tudo mentira. Eu trabalho às claras, sou honestíssima, sidefendeu. Pra demonstrar que trata tudo às claras, Vera tem fotos no Facebook (como essa da matéria) doando brinquedos e produtos a crianças e familiares. Tá tudo lá, eu entregando.
Ela rebateu todas as denúncias do funcionário da entidade. Não tem treta nos bazares, isso é papo furado. Não dou preferência pra ninguém, jurou.
Sobre a geladeira, Vera explica que vendeu o eletrodoméstico ao pedreiro Claudio Rocha. Ele faz alguns trampos para a associação, e a Apae, segundo a presidenta, estava devendo nove mil reales pra ele. Vender o refrigerador foi a solução pra abater a dívida. É uma geladeira que custa R$ 7 mil, e vendemos abaixo do preço pra diminuir dos nove mil que a Apae tinha com ele, sisplicou Vera.
Sobre a geladeira ter sido fotografada no prédio onde mora, Vera tem a resposta na ponta da língua: Ele [Claudio] não tinha como levar e não queria que ficasse na Apae. Como ele mora em Navegantes, ficaria mais fácil pegar lá [rua 15 de Novembro]. Mas eu pedi pra ele ser rápido, pois o pessoal do condomínio poderia ficar incomodado.
Ela reconhece que a carga doada pela Receita Federal em maio era para doação, mas diz que vendeu alguns produtos porque a Apae vive de doação e estava precisando muito.
Foram 500 reais
O pedreiro Claudio Rocha presta serviços pra Apae há alguns anos. Ele confirmou que a entidade estava devendo 9 mil pilas pra ele e ainda contou o quanto descontaram da velhaquice. Paguei 500 reais, revelou. Ontem, o eletrodoméstico, segundo ele, já estava em casa, ligado na tomada. Eu não tinha como trazer nem tinha espaço. Foi preciso arranjar tudo isso pra conseguir ligar a geladeira, completou Claudio.