“Os sumidouros dos vizinhos não estão mais dando conta; a rua tá inundada”. O desespero é de uma moradora da praia de São Miguel, em Penha, que não quis se identificar. Ela vive na rua João André do Nascimento, onde o esgoto tomou conta. Segundo ela, só metade da rua tem tubulação. Na outra parte, onde estão 20 casas, foram instalados sumidouros (escavação feita na terra, responsável pela absorção dos efluentes no solo). A estrutura existe em locais onde não há rede coletora de esgoto.

O problema é que o sistema não tá mais dando conta, por isso a nojeirada foi parar na rua. Os moradores não guentam mais o perrengue. “Isso é uma vergonha. A prefeitura não faz nada a respeito”, desabafa.

Segundo a moradora, o problema rola há quatro anos. Na última quarta-feira, uma criança caiu na água podre e acabou indo parar no hospital por intoxicação. “A gente não sabe mais o que fazer”.

A reportagem tentou falar com o prefeito da Mariscolândia, Evandro Eredes dos Navegantes, mas o abobrão-mor não foi encontrado. Quem soltou o blá blá blá foi o assessor da prefa, Felipe Franco. Segundo ele, o secretário de Obras, Jonas Aurélio Machado, prometeu bizolhar o local na semana que vem. “A rua será analisada, alguma medida provisória deve ser feita pra tentar resolver a situação por enquanto”, disse Felipe.

O assessor contou à reportagem que, no início do ano que vem, a prefa tentará resolver o perrengue. “O secretário disse que pra resolver o caso definitivamente são necessários 450 tubos. Está em processo de licitação. Contudo, só no ano que vem serão instalados”, avisou. Em outubro, a prefa apresentou na câmara de Vereadores um plano Municipal de Saneamento Básico pra tratar água e o esgoto. O investimento é de cerca de R$ 160 milhões, mas ainda não existe data pra sair do papel.

Tá feio

O município de Penha é um dos muitos que não dispõem de tratamento de esgoto na Santa & Bela. Em dezembro de 2011, a prefa tirou os poderes da Casan e assumiu os serviços de água e esgoto. Houve muitas críticas, porém, segundo o assessor Felipe, a decisão do prefeito “foi pra melhorar”.

Engenheira diz que sumidouros precisam de fossa e filtro; caso contrário, não servem nada

A engenheira química e mestre em engenharia ambiental, Tânia Pedrelli, explicou à reportagem a definição de sumidouro. “É uma unidade de tratamento individual de esgoto, usado onde não existe rede coletora. O formato é como se fosse um poço: é uma escavação no solo, onde o esgoto é lançado”.

Contudo, ela explica que a porcariada, antes de chegar ao sumidouro, tem que passar por uma fossa séptica e por um filtro anaeróbio. Eles fazem um tratamento primário no efluente e reduzem a carga orgânica, minimizando o impacto ambiental. Se não trabalharem juntos, o sumidouro não dá conta. “Pode haver dois motivos pra ele estar transbordando: ou os sumidouros estão entupidos ou o lençol freático é muito superficial. Portanto, o solo não está absorvendo como deveria”.

A engenheira diz que é muito importante ter um sistema de esgoto, pois só assim é possível se prevenir contra a poluição ambiental. “Se não tem sistema de esgoto, ele acaba caindo na rede pluvial, vai pro rio e no final cai no mar. Como o esgoto transmite doenças, é muito importante que haja saneamento básico”.