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O som dos três tiros ecoou pelo corredor com menos de dois metros de largura, que leva à quitinete nos fundos do número 255 da travessa Júlio César Medeiros, no bairro São João, em Itajaí. Eram 8h20 da manhã de ontem. Elazir Pedroso, a dona Zizi, 50 anos, tomava café em uma das casas ao lado quando ouviu o barulho, mas na hora não se mancou que eram tiros. Nem ela nem os demais vizinhos podiam desconfiar que, naquele exato momento, o rapaz tranquilo que havia se mudado pra lá há três meses caía morto em frente ao pai, com dois balaços na cabeça.
Foi assim que terminou a vida do bandido Juliano Sedrez de Matos, o Zidane, 30. Ele foi executado por um homem que se apresentou como oficial de justiça. Por pouco o pai de Zidane também não foi pra fita. A mulher do rapaz assassinado, que estaria grávida, também tava na quitinete e presenciou a execução do marido, contou um vizinho. O pistoleiro fugiu e, até o início da tarde de ontem, continuava desaparecido.
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O rapaz executado já tinha sido preso em 2012, suspeito de envolvimento na morte de cinco homens que teriam assassinado uma guria em 2010. Este ano, por pouco Zidane não embarcou prum presídio federal em Mossoró/RN, por ser considerado um dos chefes na região do primeiro Grupo da Capital (PGC), organização criminosa que encabeçou três grandes ondas de ataque em toda a Santa & Bela.
Sem desconfiar de nada, pai de Zidane foi quem levou o assassino até o filho
Vestindo uma camisa social, calça jeans, tênis e carregando uma maleta. Assim estava o pistoleiro. Antes de chegar à quitinete de Zidane, primeiro o assassino apareceu na casa do pai do rapaz que queria matar. Identificado pelos vizinhos como seu Matos, ele mora num prediozinho verde e branco da rua Felipe Reiser (a rua do antigo depósito do Hiper), também no São João. Por lá, o pistoleiro se apresentou como oficial de justiça. Trazia alguns papéis que Juliano precisaria assinar, alegou para o pai do alvo.
Seu Matos não desconfiou de nada. Estava contente, porque o filho saiu há pouco da prisão e achava que tudo não passava de burocracia. Solícito, se dispôs a ajudar o falso representante da lei. Falou ao homem que Zidane não morava mais com ele, mas que não seria difícil de encontrá-lo. Bastava seguir até a rua Benjamin Franklin Pereira e dobrar a primeira, à esquerda. Cerca de 50 metros à frente, encontraria a baia do filho. O suposto oficial de justiça agradeceu e disse que iria sozinho até lá, mas seu Matos fez questão de acompanhá-lo até o apezinho do filho.
Ao chegarem na quitinete de Zidane, o portão tava aberto. O vizinho do apartamento da frente estava no pátio, saindo pro trabalho. Apresentando-se como oficial de justiça, o homem não pediu autorização para entrar e foi caminhando até a porta do ex-presidiário, seguido pelo pai da vítima. Zidane ainda descansava do trampo noturno, tinha começado a trabalhar na segunda-feira. O pai bateu na porta, pedindo para que ele viesse para fora.
Bam! Bam! Soltou um morador da rua, tentando imitar o barulho dos dois primeiros tiros que ouviu. Zidane não teve tempo de fugir ou se desviar das balas. Assim que abriu a porta, o falso oficial de justiça sacou um pau de fogo e disparou duas vezes contra a cabeça dele. Bam. Um terceiro tiro. Agora, contra seu Matos. A bala passou raspando pela cabeça do senhor e atingiu o muro dos fundos da quitinete.
Depois de fazer os disparos, o assassino fugiu em direção à Caninana. Chegou a ser seguido por seu Matos, mas desapareeu.
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Caiu morto dentro da própria casa
Do lado de fora da porta de entrada da quitinete, onde o ex-presidiário caiu morto; restou apenas a poça de sangue. Dentro da baia, mais manchas e respingos vermelhos se espalhavam pelo chão. No muro dos fundos, um buraco indicava de onde os peritos tinham retirado a bala que tinha como alvo a cabeça de seu Matos. Na rua, um movimento atípico de polícia e socorristas dos bombeiros, de vizinhos e curiosos que comentavam pelos cantos o acontecido.
Morador há pouco tempo da rua, Zidane não tinha criado amizades, mas era conhecido por todos e considerado um cara tranquilo. Mas alguns vizinhos sabiam que ele tinha problemas com a lei. Ele tinha as pendengas dele, comentou um dos moradores, referindo-se a um suposto vício em drogas. Outros vizinhos deixaram escapar que o filho de seu Matos já teria sido preso.
Na sexta-feira, Juliano ainda teria brigado com a mulher, que estaria grávida. Mas se arrependeu depois de uma conversa com um grupo de evangélicos. Ele chorou muito, contou um vizinho.
Zidane já teria mandado pro além cinco outros bandidos
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Juliano Sedrez de Matos, o Zidane, já tinha sido preso muitas vezes. Uma das prisões foi feita pelos tiras da divisão de Investigação Criminal (DIC) de Itajaí em junho do ano passado. Ele e mais dois homens foram apontados como comparsas de Matheus Cristiano Pazzeri Palhano, 19, Marcos Paulo Palhano Mees, 21, e Carlos Eduardo Palhano Mees, 27, na execução de cinco homens.
Os assassinatos rolaram como vingança de um crime em novembro de 2010. Os cinco executados por Zidane e a família Palhano mataram Gabriela Palhano Mees, então com 18 anos, durante um atentado que tinha como alvo outro bandidão. Conhecida família criminosa de Itajaí, os Palhanos decidiram se vingar. Fizeram uma lista macabra e contaram com a ajuda de Zidane pra riscar os rivais de uma vez por todas.
Zidane também era apontado como integrante do PGC na região. Teria uma moral alta no bando criminoso. Tanto que, por pouco, não acabou no grupo de cerca de 40 chefões da facção mandado prum presídio federal no Rio Grande do Norte, em fevereiro deste ano.
O delegado Celso Pereira de Andrade, da DIC, que em 2012 prendeu Juliano e agora é responsável pela investigação de sua morte, disse que só vai falar sobre o caso na quinta-feira. Eu tô na correria pra poder encontrar o autor do crime, afirmou, no início da tarde ontem.
Pela manhã, segundo uma fonte policial, um suspeito chegou a ser levado à delegacia, mas não foi reconhecido pelas testemunhas. Abatido, seu Matos se encontrou com a equipe de reportagem no batalhão da polícia Militar em Itajaí enquanto tentava reconhecer algum suspeito, mas não quis conversar sobre o acontecido.
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