O motorista Éder Machado, 34 anos, tava num misto de revolta e preocupação na manhã de ontem. Tombado sobre as duas faixas do sentido sul da BR-101, perto da ponte sobre o canal retificado do rio Itajaí-mirim, em Itajaí, tava seu bruto. Sobre a pista, quase toda a carga que transportava, avaliada em cerca de R$ 200 mil, segundo os cálculos do próprio Éder. O acidente que parou o trânsito da 101, provocando atravanco no trânsito até início da tarde e uma fila de aproximadamente 15 quilômetros, rolou quando faltavam 10 minutinhos pras 8h da matina. Teria sido provocado pela imprudência de dois outros motoristas. O caminhoneiro contou que seguia pela pista da direita quando os carros o ultrapassaram pelo acostamento, cortando a frente de outros veículos e do bruto. Obrigado a segurar a carreta pra evitar a trombada, Éder perdeu o controle da direção e tombou. Por sorte, sofreu apenas um corte no pulso. Os motoristas que fizeram a cagada fugiram.

Éder vinha de São Paulo e seguia com destino a Porto Alegre. Teve a viagem interrompida a poucos metros do rio Itajaí-Mirim. Foi ali que os carangos que ultrapassavam pela direita cortaram a frente de outros possantes, ao sair do acostamento. “Ao chegarem na cabeceira da ponte, sem nada, sem sinalização, sem pisca, puxaram pra dentro da pista”, contou o caminhoneiro. Os motoras irresponsáveis teriam entrado na pista pra não dar c’os cornos na mureta da ponte.

O caminhoneiro foi obrigado a reduzir bruscamente a velocidade do Scania, placa LZN-0624 (Vera Cruz/RS) pra não enrabar os veículos que seguiam à sua frente e que frearam pra não colidir com os barbeiros. Quando percebeu que iria bater, Éder afundou o pé no freio, virando a carreta em forma da letra ‘L’ até que ela tombasse. “Foi por negligência de motorista de carro pequeno que só dirige uma vez por semana em BR”, lascou, revoltado.

O único consolo foi o bruto ter tombado no asfalto. “A minha sorte é que o caminhão não direcionou pra cabeceira do rio”, comentou Éder. A Scania tava carregada com bagulhos variados, entre vinhos, chocolates, plásticos, canos, e materiais eletrônicos. Fora os R$ 200 mil da carga, Éder calcula que o conserto do caminhão vá custar mais uns R$ 30 mil.

Com a batida, a pista no sentido sul ficou bloqueada. Pela manhã, o atravanco gerou filas de sete quilômetros, de acordo com dados da Autopista Litoral-Sul, administradora da rodovia. No sentido norte, nenhum acidente aconteceu, mas devido à curiosidade dos motoristas, o trânsito também estava lento e um congestionamento de quatro quilômetros se formou.

Mas a coisa ficou ainda pior. O bruto só começou a ser removido da BR às 11h. O trampo durou até o início da tarde, chegando a seformar uma fila de quase 15 quilômetros.

Patrulheiros prendem saqueador de carga em flagrante

Enquanto o motora tava desesperado pelo prejuízo sofrido, alguns espertalhões aproveitaram pra atacar a carga esparramada. Os patrulheiros da PRF acabaram prendendo em flagrante um dos supostos ladrões. Pego c’a boca na botija, o saqueador André Luís Custódio, 44 anos, foi levado à depezona da rótula do Vanolli. Ele já tinha colocado algumas mercadorias dentro de seu carango.

No depoimento que deu pra equipe comandada pelo delegado Etelino Steil, André alegou que tava passando pelo local quando viu um homem tirando as mercadorias da carreta e distribuindo pro povão. Por isso os produtos. Na desculpa dada, disse que achava que o tal homem seria o motorista do caminhão. A história não colou, e André foi autuado em flagrante por furto. Vai responder o processo em liberdade.

Pedreiro reclama que foi maltratado pela polícia rodoviária

O pedreiro Daniel de Souza, 43 anos, foi o primeiro a ir ajudar o caminhoneiro Éder Machado. Mas sua boa ação acabou sendo frustrada. Daniel foi retirado de perto do caminhão pelos patrulheiros da polícia Rodoviária Federal.

O pedreiro diz que foi afastado na base da grosseria. “Tava ajudando ele (o motorista Éder), e o policial me empurrou. Ele me pegou pelo braço e me levou como um cachorro”, reclamou Daniel. Ele garante que foi o próprio caminhoneiro quem havia pedido ajuda.

A ação dos patrulheiros desagradou mais gente que tava por lá. “[O policial] chegou empurrando o cara”, confirmou o soldador Alex Gonçalves, 37, referindo-se à forma como o pedreiro foi tratado. “Nós somos cidadãos. Isso é uma falta de respeito”, discursou.

A PRF garantiu que não rolou exagero na retirada de pessoas do local do acidente. O isolamento da área aconteceu porque os patrulheiros receberam a denúncia de saque e, pra não dar problemas, tiraram o povão de perto do caminhão.