O envolvimento mais cabeludo de Rui Dobner tá ligado ao famoso escândalo que, em 2006, ficou conhecido como Sanguessugas da Saúde. Também chamado de Máfia das Ambulâncias, o esquema era uma rede de corrupção nacional ligada a compras de ambulâncias e envolvia políticos ligados ao PSDB e ao PMDB. A prefa de Joinville comprou cinco veículos pelo esquema que, segundo as denúncias do ministério Público Federal, superfaturava o valor das ambulâncias em quase 50%. A condenação, se confirmada depois do recurso ser julgado, vai lhe render a perda dos direitos políticos, o impedimento de assumir cargo público, a proibição de fazer negócios com órgãos públicos e uma multa pra lá de pesada.
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Mas os rolos em que Rui Dobner aparece envolvido não param por aí. No saite do tribunal de Justiça da Santa & Bela, o nome dele é recorrente. Aparece, pelo menos, em 11 processos. Em quatro deles, a coisa é feia. Três são por improbidade administrativa, que é quando o servidor ou agente público faz alguma sacanagem pra enriquecer, obter vantagens pessoais ou causar dano ao patrimônio público. Outra ação é por crimes previstos na lei de licitações.
Dos três processos em que é réu por improbidade administrativa, dois são da prefeitura de Joinville, onde ocupava o cargo de coordenador de licitações, ligado à secretaria de Administração Municipal. Um desses casos tá ligado a outro famoso escândalo, o da escola de balé Bolshoi, onde teria ocorrido o pagamento de despesas não comprovadas e pagamento duplo para bailarinos por parte da prefa. As ações foram movidas em 2004 e 2005, na época do prefeito Marco Tebaldi (PSDB).
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O terceiro caso de improbidade é mais recente e ligado ao governo do prefeito Edson Periquito (PMDB). Foi uma ação civil pública movida pelo ministério Público Estadual contra uma renca de abobrões, bagrões e bagrinhos da prefa de Balneário Camboriú, acusados de irregularidade na contratação de um show na cidade. Lá no meio, também aparece o nome de Rui Dobner.
Pra completar a lista, há pelo menos nove anos, Rui Dobner ainda tenta se desvencilhar de uma acusação de fraude numa licitação da prefa de Joinville, na época do governo do tucano Tebaldi. Ele e mais três outras pessoas foram acusados de xunxo pelo ministério Público Estadual.
Durante três dias, o DIARINHO ligou pro escritório do advogado Carlos Adauto Virmond Vieira, que defende Rui na maioria dos processos de improbidade. O dotô, que é de Joinville, não atendeu a reportagem nem retornou as ligações. Ontem, uma secretária disse que ele estava o dia inteiro em Balneário Camboriú e não passou o celular do advogado.
Em Joinville, também fez negócios com a Helpcon
Coincidência ou não, quando tocava o setor de licitações da prefa de Joinville, Rui Dobner já fazia negócios com a Helpcon, empresa que tem como um dos diretores Rodrigo Hartmann Dobner e também está envolvida no escândalo da operação Trato Feito. O próprio Rodrigo, que seria parente de Rui, foi um dos presos esta semana, na mesma ação do Gaeco.
Em fevereiro de 2005, o jornal do Município de Joinville publicou dois extratos de contrato da prefa da Terra das Bailarinas com a Helpcon, assinados pelo próprio Rui Dobner, num total de mais de R$ 770 mil. Uma das contratações referia-se à elaboração de projetos e gerenciamento das obras do Mega Centro da Expoville, no valor de R$ 498,9 mil. A outra, bem mais genérica, consta como contratação de consultoria e serviços de arquitetura, no valor de R$ 275,3 mil.
Outra coincidência com o trampo de Rui Dobner em Joinville e o escândalo da Trato Feito, na Maravilha do Atlântico, é o grande número de aditivos em contratos já licitados pela administração municipal. Só em fevereiro de 2005, por exemplo, ele assinou, junto com o então secretário de Administração da prefa de Joinville, nada menos que 30 aditivos de contratos. Aditivo é quando a prefeitura dá uma grana a mais ou prorroga o prazo de contratação de uma empresa, além daquilo que havia sido acertado na licitação da obra ou serviço, sem necessidade de uma nova concorrência pública.
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Sob a proteção de vários partidos
E não pense que as acusações que pesam contra Rui Dobner rolaram apenas nos governos do PMDB, como é o caso de Balneário Camboriú. Apesar do currículo, ele já atuou como cargo de confiança na prefeitura de Joinville em gestões do PSDB e até do PT. Sempre, é claro, como indicação do partido em que teve participação naqueles dois governos.
De 2004 a 2008, quando o tucano Marcos Tebaldi foi prefeito da Terra das Bailarinas, lá estava Rui Dobner, ocupando o cargo de coordenador de licitações. Em 2009, quando Carlito Merss, do PT, assumiu a administração municipal de Joinville, Rui Dobner continuou sentado na cadeira de coordenador de licitações. Ficou lá até o segundo semestre daquele ano. Em outubro, se transferiu para a prefa da praia mais desejada do sul do mundo, onde assumiu o cargo de diretor da Divisão de Gestão de Materiais e Serviços, também responsável por lançar os editais de licitação.
Plínio dos Santos, presidente do PMDB de Balneário Camboriú, confirmou que conhece Rui Dobner, mas garantiu que a indicação pra ocupar um cargo de confiança na prefeitura não foi discutida no partido. A indicação não passou pelo diretório; pelo menos não passou por mim, afirmou ao DIARINHO. Quando perguntado quem teria indicado Rui Dobner ao prefeito Edson Periquito (PMDB), Plínio lavou as mãos. Desconheço!, disse.
Desconheciam os rolos de Rui, diz procurador
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Marcelo Freitas, procurador da prefeitura de Balneário Camboriú, disse ao DIARINHO, na quarta-feira, que a administração desconhecia o passado de Rui Dobner. Na época em que ele foi contratado, não se levantou qualquer tipo de idoneidade dele, disse o procurador, emendando: Ele está conosco há uns quatro anos e, em princípio, não havia nada que o desabonasse na época da contratação, como uma condenação.
Marcelo observou que não se faz uma investigação mais aprimorada na hora da admissão de um ocupante de cargo de confiança na prefa. Normalmente, não se faz uma devassa, admitiu. O chefão da procuradoria fez questão de dizer que pode falar apenas como advogado da prefeitura. Do ponto de vista legal, posso lhe dizer que, na época, não havia impeditivos, concluiu.
O prefeito Periquito (PMDB) não foi encontrado pra comentar o assunto.