Diz aí, Spinelli!

"Eu acho que Balneário Camboriú não tem volta"

Carlos Alberto Spinelli, de 74 anos, que tem sua história misturada com a do rádio em Balneário Camboriú, foi entrevistado pelos jornalistas Fran Marcon e Bola Teixeira

(FOTOS: FRAN MARCON)
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O senhor é natural de Santos e se formou no Paraná. O que o trouxe para Santa Catarina?

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Spinelli: Eu morei em Curitiba 10 anos. Estudei administração, voltei para Santos e o antigo proprietário da Rádio Camboriú me convidou para vir para Balneário Camboriú ...

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Spinelli: Eu morei em Curitiba 10 anos. Estudei administração, voltei para Santos e o antigo proprietário da Rádio Camboriú me convidou para vir para Balneário Camboriú. Eu já conhecia Camboriú desde 1970. A cidade era bonita e lembrava muito Santos. Nós também temos a ilha lá em Santos, em frente, parecida com a Ilha das Cabras, que não tem cabra. [Você chegou em que ano aqui?] Cheguei em 1982. A Rádio Camboriú já existia há dois anos e era dirigida pelo Adolfo Karrer, que tinha como sócio o Otávio Rotilli.

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Qual era a sua função na Rádio Camboriú e nas rádios que o senhor trabalhou?

Spinelli: Em vim para dirigir a Rádio Camboriú. Eu vim conhecer como era a hora certa na Rádio Camboriú. Só tinha uma mulher que falava a hora, eu falei: “Pô, essa mulher não cansa?”. Era uma gravação. (risos). Eu não sabia nada do rádio, mas vim aprender e trouxe minha experiência de São Paulo. Eu sempre gostei da área comercial. Eu trabalhei na parte comercial, saí da Rádio Camboriú, fui para a 99FM, vim aqui para a Jovem Pan e sou sócio da Mix Blumenau. Atualmente, voltei para a Rádio Camboriú. É interessante falar uma coisa: você abre a porta e diz "bom dia", a despesa te dá bom dia. Você tem que ter um departamento comercial muito atuante. Hoje em dia a parte comercial se envolve com a internet, a internet te ajuda, mas ao mesmo tempo também te rouba, mas se você souber trabalhar direitinho com a internet ela te alavanca e muito. [Qual que é o segredo da venda para veículos de comunicação?] Quem visita vende! Essa visita pode ser pessoal, por telefone, pela internet, mandar um e-mail. A visita é ter um contato. 

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"A cidade cresce se tiver uma imprensa boa"

 

No início dos anos 80, praticamente não tinha comunicação, jornais abriam e fechavam, de acordo com a vontade política dos poderosos. Veio a Rádio Camboriú para quebrar esse paradigma. O que você trouxe de fora para dar certo?

Spinelli: Eu acompanhava o rádio em Santos. Eu trabalhava na área de transporte rodoviário, mas nunca dirigi um caminhão. Mas ouvia rádio. Eu não sabia nada e vendia o transporte rodoviário. Eu trouxe muitas ideias de Santos para cá e acompanhava programas. Nós fizemos muitos programas. Eu tinha o Nenito Costa, que eu trouxe de Curitiba, nascia um programa esportivo. Trouxe meu amigo lá de Blumenau, já falecido, o Rodolfo Sestrem. A gente resolveu fazer Copa do Mundo. A Rádio Camboriú fez a Copa do Mundo do México. [Vocês foram com uma equipe para o México?] Melo Filho, Tigrão e o Sestrem. O Tigrão, um cagão que nunca tinha andado de avião. Foram para o México em um 707. Eu falava: “Tigrão, é sossegado. É só entrar e sentar...”. Com medo, mas foi. Eu comprei uma co-participação com a Rádio Jornal do Sergipe, podia transmitir aquilo que não era jogo do Brasil. O que era Jogo do Brasil era pendurado. Nós transmitíamos pendurado na frente da TV. Eles chegavam no hotel, botavam o fundo musical do jogo do Brasil, com a torcida, quando saía gol, gritavam “gol”. Ficavam os três, o Tigrão e o Melo Filho comentando. Tomando seus drinques também, para ficar inspirado. Para mim foi o maior evento que eu fiz. E para arrumar o dinheiro para ir?! Me levaram lá no Amin. Eu fui pedir dinheiro para o governo do estado, vender uma cota. Eu fui com um deputado à época, o Amilcar Gazaniga. Eu falei com o governador, tenho dois pedidos. Ele falou: “não é um só?”. “Não, são dois”. Eu falei: “olha, eu vim aqui pedir uma cota de patrocínio que nós vamos fazer a Copa do México. Eu acho que é a única rádio de SC que vai”. Ele disse: “O que você precisa?” Uma cota de tantos reais. “E qual o segundo pedido?” “Que me pague antes”. (risos) E aí ele pagou antes.

 

"A evolução do rádio é você estar presente"

 

Nas enchentes da década de 80, o senhor usou a rádio para levar informações entre famílias, funcionários e empresas. Como foi a experiência?

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Spinelli: Eu peguei a grande enchente que foi em 84. Nós fizemos uma campanha grande pela Rádio Camboriú. Nós não tínhamos programa, era só dedicado à utilidade pública. [A rádio teve envolvimento em ações sociais e de marketing. O senhor pode citar algumas?] Além da Copa e da enchente, nós sorteamos um carro na base das chaves. Tínhamos mil chaves e uma abria o carro. No dia tinha que estar lá [no ginásio Ivo Silveira] para tentar abrir.

 

"Eu tenho que ter notícia, porque só a música não traz audiência"

 

Por que o rádio, até hoje, é um veículo tão forte em Balneário Camboriú?

Spinelli: O rádio sempre está participando. Não só a Rádio Camboriú, mas outras emissoras também. Onde tem alguma coisa, a gente está. A evolução do rádio é você estar presente. “Só vou se pagar!” Não, não tem nada disso. Você vai, a consequência, se você fizer um bom trabalho, é você ter uma mídia. A mídia vem em função de uma boa cobertura. Isso é o rádio. Isso é o jornal. Nós temos que ter audiência e marketing para buscar esse retorno comercial. Se não tiver isso, você não tem sucesso. Eu trabalhei muito aqui em Itajaí também e sempre tive participação. Fazia promoções - isso que te leva à audiência. Nós fizemos agora na eleição. Nós tínhamos os debates políticos, com o meu amigo Elias Silveira, que outro dia eu queria estrangular ele. Eu falo para ele: “Cara, seja um pouco neutro... Não adianta falar para ele”. Fizemos um debate político excelente. Teve muita audiência e um bom retorno comercial. [O senhor fala que a rádio precisa estar presente, mas o público continua ouvindo rádio mesmo com a internet? O que a internet mudou na relação com o público?] O rádio tem que ser entretenimento. Eu tenho que ter notícia, porque só a música não traz nada de audiência. O que vai trazer audiência é buscar informação. Eu devia ter mais jornal na rádio, mas a gente não tem porque está a maior dificuldade encontrar jornalista. Tem que ter programetes, entrevistadores. No nosso programa de jornalismo tem sempre um convidado, quase todo dia tem um convidado, não importa qual é o partido. Não importa se é prefeito, se é vice-prefeito, a gente leva um convidado. [Qual é a relação da rádio com o poder?] A gente sabe que todo político tem medo de imprensa, tem medo de rádio, tem algumas experiências... Bom, isso continua. Mas é por parte deles, não por parte da gente. Estou no rádio há 43 anos, nunca ataquei ninguém, sempre fiz o meu trabalho e acabou. Quando a gente abre o microfone, eu estou falando o que eu quero. Eu não quero brigar com ninguém. Eu busco a verdade. Se essa verdade vai te machucar, o problema é seu. Quem causou foi você. Você é notícia, mas você é culpado de a notícia ser boa ou ser ruim. [Qual o prefeito mais democrático?] Haroldo Schultz e o Camargo [risos]. A gente dava cacete com alguma notícia verdadeira, já queriam conversar. O Camargo chamava a gente. A gente ia, porque nós não falávamos mentiras, falávamos a verdade. O rádio fala a verdade. O jornalismo que fala a verdade vai sempre se manter.

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"Eu busco a verdade. Se essa verdade vai te machucar, o problema é seu. Quem causou foi você"

 

Quando surgiu a internet havia grande temor que os jornais e rádios fossem acabar. O senhor achou que a internet fosse acabar com a rádio?

Spinelli: De jeito nenhum. Eu ia ficar desempregado [risos]. Quando pintou a TV, a mesma coisa. A TV surgiu e vai acabar o rádio. O rádio nunca vai acabar. As pessoas nos escutam. A gente não sabe quem escuta a gente, mas escutam. O cara lá do interiorzão escuta a gente. Diferente da internet, que os caras ficam dando pitaco, enchendo o saco o tempo todo. A internet está complicada hoje. Grandes marcas anunciam, mas não anunciam tanto. Muitos voltaram para o rádio, TV e jornal impresso.

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"O jornalismo que fala a verdade vai sempre se manter"

 

Em quais rádios o senhor trabalhou?

Spinelli: Rádio Camboriú e trabalho com a Mix em Blumenau. Em Itajaí eu abri a Antena 1, que era aqui na alameda Ernesto Schneider. [A Antena 1 e a 99 tiveram papel importante na cultura na época. Eu lembro que vinham as melhores bandas e artistas, melhores shows do Brasil, para Itajaí e BC também...] A rádio era forte, as bandas nos procuravam, trocávamos a mídia. Você participa na nossa divulgação, eu dou entrevistas para vocês. Nós não ganhávamos dinheiro. Nós ganhávamos dinheiro se eu vendesse. Eu vendia para a loja A e B, para a gente ganhar algum dinheiro para a rádio. Mas o resto, a divulgação do show, tudo era de graça. Bombava e com isso trazia audiência.

 

"O rádio nunca vai acabar"

 

Qual era a sua visão quando o senhor chegou em Balneário Camboriú?

Spinelli: Se eu tivesse dinheiro, eu compraria um monte de terreno na frente do mar, mas eu não tinha. [Você já tinha essa visão, então?] Sim, eu vim de Santos... [Quantos prédios tinha quando o senhor chegou?] Ah, tinha poucos. Eu lembro que fiquei na rua 700, que era a sede da rádio. Hoje está lá na Quinta avenida com a rua Curitibanos. Naquela época não era essa Balneário de prédios que tem hoje. Hoje os valores dos apartamentos estão muito altos, é o metro quadrado mais caro. [O que o senhor acha que a cidade guardou daquela época?] A Ilha das Cabras [risos]. Pavan fez a parte dele. Schultz fez a parte dele. Todos os prefeitos que passaram fizeram a parte deles. Nós estamos fazendo a nossa. A Rádio Camboriú, a Rádio Mix, a Rádio Menina, todos fazemos a nossa parte. A cidade cresce se tiver uma imprensa boa. Eu tenho certeza que ajudei. [Quem que é o grande radialista da região?] Do jornalismo, tem o Elias Silveira que é um grande jornalista, assim como o Tigrão. Locutor, a nível de estado, a Simone Rigotti - é uma grande locutora. Aqui na cidade temos a Dani Medeiros e a Ju Tormena. Mas quero falar uma coisa para você, pode ser que eu não esteja falando algum nome aqui, mas todos são importantes. A gente não faz sucesso com uma pessoa só. Posso ter um destaque, mas os outros fazem parte do sucesso. Todos que trabalham no rádio são importantes. Porque o rádio é sacrificado. Tem que chegar no horário. Não pode faltar. Se faltar, você tem que ficar até o outro buscar o segundo em casa para substituir. É uma programação ao vivo, praticamente. Se errou, saiu.

 

"A cidade cresce se tiver uma imprensa boa"

 

Em entrevista, o senhor mencionou a importância do colunista Túlio Cordeiro para a região. Por que esses concursos de miss são importantes?

Spinelli: Porque agrega à sociedade. Bota quantos anos para trás, qual era a sociedade de Balneário? O Túlio promoveu essas meninas, saber caminhar, desfilar, quem fazia era o Túlio. O Túlio era o homem da sociedade. Ajudou muitas meninas e os meninos também. Por isso eu considero o Túlio um grande nome.

O senhor não imaginou que Balneário fosse se tornar essa potência que é hoje?

Spinelli: Hoje em dia para a gente comprar um apartamento está difícil, está muito valorizado. Camboriú agora que está crescendo. Camboriú cresceu e agora com o Pavan lá, nossa Senhora... Pavan está cavocando a cidade, ainda vai achar ouro [risos]. Pavan está fazendo um bom trabalho. Camboriú vai agradecer muito. Outro dia eu falei para ele: “a Juliana é melhor que você”. Ele perguntou: “Você acha?” Não, tenho certeza. Porque a Juliana aprendeu no tempo que ficou como vereadora, ela cresceu bastante e eu estou gostando do trabalho dela. Outra coisa, ela se acertou com todos os vereadores. Um ou outro que não gosta dela. [Gosta dela ou gosta do poder?] Todo mundo quer estar perto do poder. O poder atrai. [O que fez BC virar essa potência?] Boa administração política para começar e o investimento dos empresários da construção civil. [O que deveria acontecer na cidade que não aconteceu?] Sempre tem coisas para fazer, mas acho importante o investimento nas escolas públicas. A melhoria das escolas, da educação, investimento nos professores. Atualizar os salários e investimento no material didático.

 

"Todo mundo quer estar perto do poder. O poder atrai"

 

O que o senhor sonha ver em BC?

Spinelli: O meu sonho é o seguinte: que a cidade seja evoluída ao máximo. Agora, com esses prédios altos que estão acontecendo em Balneário Camboriú, que não crie aquelas sombras que nós tínhamos antigamente. Eu acho que Balneário Camboriú não tem volta.




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